Melhoria constante na gestão é essencial para o produtor driblar os riscos

29 de janeiro de 2021 4 mins. de leitura
O agricultor trabalha numa indústria a céu aberto, que exige uma administração minuciosa e ferramentas, como seguro rural

Embaixadores do Agro

Por Bartolomeu Braz Pereira*

Conheça o mais relevante evento sobre agronegócio do País

O Brasil conquistou um posto importante na produção de alimentos ao longo de décadas de trabalho e aprendizado. E nos últimos 30 anos, período que coincide com a fundação da Aprosoja Brasil, a soja se tornou a principal commodity do país, trazendo benefícios inquestionáveis a toda economia. A cadeia da soja é vetor de desenvolvimento regional e atua como se fosse um grande programa social para o Brasil, gerando milhões de empregos diretos e indiretos. E quando isso ocorre, melhoramos a qualidade de vida das famílias que vivem no interior do país.

Apesar de o agronegócio ser o segmento mais dinâmico da economia, há grandes desafios pela frente. Trabalhamos como uma indústria a céu aberto e os produtores ficam desprotegidos pela falta de políticas públicas abrangentes de mitigação do risco da atividade. Embora existam, mecanismos de proteção ainda não fazem parte do dia a dia dos produtores.

Estamos em plena época de chuvas e há pontos de estiagem preocupantes, principalmente na região Sul, em decorrência do fenômeno La Niña. O Centro-Oeste tem áreas com precipitações abaixo da média e com replantio onde o cultivo começou antes da chuva firmar, na tentativa de aproveitar a melhor “janela” de plantio do milho 2ª safra.

O produtor precisa ter um olho na meteorologia e outro nos riscos do mercado, em especial àqueles relacionados ao câmbio e às cotações internacionais. O real foi a moeda que mais se desvalorizou em 2020 com a pandemia. Se não bastasse, estoques apertados e a redução das estimativas de produção de soja e milho pressionaram os mercados, aumentando as cotações e levando os preços internos a patamares nunca sonhados.

Seguro rural é fundamental para dar proteção ao agricultor diante de eventos climáticos, como chuva excessiva (foto acima) e/ ou falta de chuva (Foto: Getty Images)

Em consequência, as vendas antecipadas dispararam. Dados recentes apontam que foram comercializados 65% da safra brasileira 2021 e 15% da safra 2022. É algo inédito, mas que também nos preocupa. Enfrentamos problemas climáticos, grande volatilidade cambial e o produtor precisa mitigar os riscos.

Portanto, se 2021 começou com votos e boas perspectivas, também trouxe grandes desafios aos produtores em vários sentidos, exigindo atenção redobrada na gestão do seu negócio. Hoje, apenas 15% das áreas brasileiras estão cobertas por seguro. Há inclusive seguro receita para perda de qualidade da soja devido ao excesso de chuva na colheita, algo relatado nesta safra por alguns produtores. É importante ampliar esse percentual. Para isso, precisamos de pelo menos R$ 3 bilhões em subvenção no próximo Plano Safra, que o recurso vá direto ao produtor e ele escolha a seguradora e o seguro.

Em relação ao preço, há mecanismos de travamento nos mercados de opções como defesa para a volatilidade cambial e oscilação nas cotações. Por exemplo, teve soja vendida a R$ 80 que, com a elevação do dólar, chegou a R$ 150 no mercado físico. Se vendesse uma parte a R$ 80, para cumprir seus compromissos urgentes, e fizesse outra parte de contrato de opção em bolsa também a R$ 80, quando a soja viesse a R$ 150, o produtor poderia abrir mão da opção, pagar uma margem de garantia de R$ 3 (hipotética), e vender a soja a R$ 150, dando lucro de R$ 67 em relação aos R$ 80 fechados antecipadamente. Na teoria tudo é muito bom. Mas o produtor precisaria trabalhar com consultorias e corretoras especializadas para evitar os riscos.

Como agravante, o fato de 70% do custo da agricultura serem formados em dólar acaba virando uma armadilha. Isso acontece porque o financiamento muitas vezes se dá por instrumentos alternativos ao crédito rural que estão atrelados a produtos, cujos preços fixados na moeda norte-americana podem neutralizar parte das oportunidades de ganhos com oscilações dos preços internos.

Os desafios recentes enfrentados pelos produtores nos fazem lembrar uma importante lição: tudo no mundo é cíclico e dinâmico. Precisamos aprender com os erros do passado e aproveitar os avanços e oportunidades que temos pela frente. A reciclagem e a melhoria da gestão são mandamentos sagrados. Ainda não será possível colocar o preço que queremos na nossa soja ou milho, mas poderemos cada vez mais evitar perdas por problemas climáticos e escolher um preço e mudar de ideia.

*Bartolomeu Braz Pereira é presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja – Aprosoja Brasil.

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

Este conteúdo foi útil para você?

142480cookie-checkMelhoria constante na gestão é essencial para o produtor driblar os riscos