“O Brasil é maior do que o buraco.” E do que os seus governos!

3 de maio de 2023 5 mins. de leitura
A frase “O Brasil é maior do que o buraco” é do saudoso jornalista Joelmir Beting. O aposto: “… e do que os seus governos”, tomei a liberdade de acrescentar.

O colunista do Estadão Lourival Sant’Anna (A15, 16/4 – Risco de dependência assimétrica) escreveu: “Comércio e investimentos entre Brasil e China andam sozinhos. No governo Jair Bolsonaro, que tinha relação ruim com a China e atravessou a pandemia, o comércio bilateral cresceu 52%, e os investimentos chineses, 79%, e somos o maior destino dos investimentos chineses, 13,6%”. Aproveito aqui, tanto a visão da assimetria dos riscos de Lourival Sant’Anna quanto o Brasil ser maior do que o buraco de Joelmir Beting, para concluir que o Brasil tem uma força que supera seus governos. O Brics, originado num estudo do Banco Goldman Sachs em 2001, denominado Building Better Global Economic BRICs, reunia as grandes potências ascendentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, esta como um portal para a África, pois tem ainda uma grande distância econômica dos demais. E daquele período para 2023 vimos uma surpreendente mudança na geopolítica mundial e no crescimento da China, que tem hoje US$ 18,3 trilhões de Produto Interno Bruto (PIB), se aproximando dos Estados Unidos, com US$ 25,3 trilhões. E assistimos a um Brasil que, se não teve praticamente crescimento nominal do PIB, hoje US$ 1,9 trilhão na 12ª posição mundial, obteve o lugar de única potência agroalimentar, agroenergética e agroambiental do planeta a curto prazo. Independentemente dos seus governos, em que podemos registrar muito mais nomes visionários que salvaram a lavoura, como o ministro Luiz Fernando Cirne Lima (1970) e Alysson Paolinelli (1974 a 1979), como Roberto Rodrigues, Francisco Turra, e mesmo a ministra Tereza Cristina, em que os ministros da Agricultura têm apresentado performances médias superiores à média de seus governos como um todo. E isso explica que de 1974 a 1989 dobramos a produção agrícola do País. De 1990 a 2005, dobramos mais uma vez a produção agrícola brasileira. E de 2004 a 2022 novamente dobramos de tamanho, e deveremos colher 312 milhões de toneladas de grãos. Além de um gigantesco crescimento na proteína animal, frutas, retomada do cacau, biocombustíveis, indústria da madeira, algodão, agroindústrias, e sem se esquecer das flores, onde temos a 4ª maior cooperativa do mundo no setor, em Holambra. E nesta hora o que falta mesmo é armazenagem para guardar a produção e poder vender com maior valorização, caso contrário cai o preço da commodity, não por uma questão mundial, mas sim totalmente local, e quem paga o preço é o agricultor.
Então somos hoje a única potência agro dentro do Brics e do mundo com condições de dobrar de tamanho nos próximos 10 anos e representar para o planeta que vive hoje insegurança alimentar, energética e climática uma fonte verdadeira e fidedigna de abastecimento e de relações que servem à paz e à segurança humana na Terra.
Portanto, nunca foi tão fácil vender o Brasil e vender do Brasil. Temos hoje o sonho de consumo das nações da Terra, alimentos, energia, meio ambiente, e temos uma civilização que reuniu praticamente todos os povos do mundo, imigrantes com os povos originais, e aqui fizemos uma revolução criativa agrotropical, com ciência e tecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), institutos, universidades e empresas privadas.
Saímos de 39 milhões de toneladas de grãos em 1974 para 312 milhões agora em 2023. E podemos dobrar tudo isso de tamanho até 2034, incluindo a economia verde e circular. Podemos fazer tudo isso preservando nossas relações com simetria. Os nossos maiores clientes do mundo hoje – China, Ásia, Índia, Europa e Estados Unidos – têm grandes agriculturas, mas estão no seu nível em que demanda e potencial já se cruzaram. Uma guerra no Leste Europeu existe, prejudicando de forma inesperada o crescimento da produção de alimentos na região. Oriente Médio, outra área cliente brasileira, América Latina à espera do nosso olhar e África carente de cooperativismo e de tecnologia brasileira do “tropical belt”.
Se soubermos manter a razão, a diplomacia e o bom senso, não precisamos incorrer no risco da assimetria, e podemos sim atrair capitais para aumentar em muito a nossa própria segurança estratégica agroindustrial, comercial e de serviços financeiros, seguro, ambientais, no antes e pós-porteira das fazendas. Investimentos estruturais, logísticos e na alta tecnologia, incluindo criação de marcas e de “terroir”, pois produtoras e produtores rurais os temos forjados na dificuldade e na coragem, empreendedorismo e cooperativas, somos também uma potência agro-humana.
O Brasil é maior do que os seus governos e o agro do Brasil é maior do que a média dos seus governos, 50 anos de análises provam isso. Dobrar o agro de tamanho com sustentabilidade – a marca brasileira. Investir em “brand” desde a originação até a gôndola dos supermercados mundiais, está na hora. Pois, sem percepção, a razão se enfraquece perante a ausência da emoção, e temos product, pricing e placement, é hora do P da ProMotion, e nada do P de populismo, isso não ajudará. A sociedade civil organizada precisa entrar no jogo com simetria nas relações estratégicas. E, de verdade, falta é armazenagem.

José Luiz Tejon

TCA International

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