Já parou pra pensar nisso: O agro pode dobrar de tamanho, ou mais?

24 de agosto de 2020 8 mins. de leitura
Tejon reflete sobre a nova campanha de posicionamento da marca do Estadão: ‘Vem pensar com a gente’

Por José Luiz Tejon Megido*

O Estadão faz a convocação: “Vem pensar com a gente”.

Então, vamos pensar juntos. E inicio nossa provocação trazendo à lembrança uma fala significativa do jornalista Joelmir Betting (in memorian): “O Brasil é maior do que o buraco”. Com isso, ele queria dizer que, mesmo cavando buracos, o Brasil crescia por termos uma dimensão de riquezas maior do que nossas incompetências administradoras.

Outro grande pensador da administração mundial, Peter Drucker escreveu: “Não existem países subdesenvolvidos, existem países subadministrados”. Norman Borlaug, agrônomo Nobel da paz, quando esteve no Brasil afirmou: “Quando o Brasil aprender a produzir em terras fracas será o celeiro do mundo”. Desta forma, desde 1970 estamos dentre as 10 maiores economias do mundo, saltamos de um país importador de alimentos para um dos maiores exportadores, além do abastecimento de mais de 210 milhões de habitantes.

O agribusiness, conceito gerado em Harvard pelos professores Ray Goldberg e John Davis, nasce formalmente no Brasil com a fundação da Abag, por Ney Bittencourt de Araújo, no início dos anos 1990 em paralelo ao surgimento do PENSA, programa de estudos dos negócios do setor agroindustrial, com professores Decio Zylbersztajn, Beth Farina e outros na FEA-USP.

O primeiro livro lançado no Brasil, em 1990, contou com o apoio do Estadão. Era o ”complexo agroindustrial – o agribusiness brasileiro”, patrocinado à época pela Agroceres, incluindo ainda o apoio da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) e da Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia).

Realizados os devidos registros de marcos históricos, os estudos feitos na passagem dos anos 1980 para a década de 1990 apontavam ser o agronegócio brasileiro do tamanho de 1/3 do PIB do País. Hoje estudos do Cepea-Esalq, apontam para 23,5% do PIB brasileiro.

E aqui inicia o nosso incômodo à brilhante ideia do Estadão ao nos convocar e provocar a todos com seu posicionamento na edição de domingo, 23 de agosto: “Vem pensar com a gente”.

O Brasil potência parece ter se acostumado ao Brasil mediano, realidades muito menores do que o potencial do país e o seu povo merecem. Quer dizer um Brasil que pode ser muito maior e melhor, mas que se acostumou a ser apenas “maior do que o buraco”. Um Brasil onde a inscrição inspiracional estampada na nossa bandeira parece lá estar, mas não ser lida nem compreendida: “ordem e progresso”. Modernamente imitando o Joelmir, eu diria somos maiores do que a desordem, mas imagine o progresso que teríamos melhorando a ordem.

Então vamos ao pensar juntos.

O tamanho do PIB do Brasil em 2019 foi de US$ 1,84 trilhão.

Logo, conforme Cepea, o PIB do agro nacional vale quase US$ 433 bilhões. Por outro lado o valor da Apple foi avaliado em US$ 1,9 trilhão. Esta empresa é maior do que o Brasil inteiro e cerca de quatro vezes e meia maior do que todo agro brasileiro. (Soma total do antes, dentro e pós-porteira das fazendas.)

Desta forma, bem-vindos todos ao pensar juntos. Se o agro significa pelos cálculos do Cepea 23,5% do PIB, mas se eu pessoalmente, de forma empírica, o mantenho em 1/3 do PIB diretamente, e outro tanto de impactos indiretos na economia e na sociedade brasileira; Como tentaremos demonstrar ao lado da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) no agribusiness center, precisamos, podemos e devemos olhar para a necessidade de dobrar o agro de tamanho como a única fórmula que nos permitirá elevar o PIB do país a níveis acima das tentações de acomodação em zonas medianas de conforto (ou adaptados ao desconforto?).

A mediocridade anestesia e pode viciar. E o pior, nos desvia do foco do grande objetivo da grande missão. É muito mais fácil discutir intensamente meios, sistemas, tributos, obras, inovações científicas, meio ambiente; e aspectos de fato muito relevantes como termos no país capacidade de armazenamento para 20 milhões de toneladas, mediante uma produção de 250 milhões de toneladas! São importantes “como fazer”, mas como sabemos precisamos antes de um ótimo “por que fazer”. Um sentido forte de propósito. Então, a partir disso, iremos descobrir o “como”. Além disso, andamos misturando na cacofonia comunicacional também ideologias, política de facções e até religião, além de criarmos a visão da aproximação da realidade desejada e sustentável do Brasil perante a grandiosidade do seu potencial. Coisa de estado.

Para o PIB brasileiro não se acostumar a um plano de mediocridade, e da mesma forma dobrar de tamanho nos próximos 10 anos, objetivando US$ 4 ou US$ 5 trilhões em 2030, o que ainda seguirá sendo muito menos do que os US$ 20 ou US$ 15 trilhões de Estados Unidos e China hoje, necessitamos de um planejamento estratégico ao lado de um plano de marketing de todas as cadeias produtivas do Brasil, saindo do A do abacate e indo até o Z do zebu.

O potencial de crescimento e de negócios em todos os itens envolvendo o agro brasileiro, incluindo obrigatoriamente a agroindustrialização, com comércio, serviços, ciência, tecnologia e educação, significam o caminho lógico, do progresso da ordem e da razão para um Brasil maior e muito melhor, com distribuição de renda, empreendedorismo e cooperativismo. Envolvendo da mesma forma a indústria dos insumos, máquinas e equipamentos com elevados índices de nacionalização desejados.

Um agro brasileiro objetivando US$ 1 trilhão de movimento econômico financeiro. Para um PIB nacional que atinja US$ 4 trilhões em 10 anos. Não é querer muito. É simplesmente querer e poder estarmos um pouco mais acima dos buracos do Joelmir, melhores na ordem sobre a desordem, e colocando a visão e o foco central na discussão.

A partir de encontrarmos o “por que fazer” iremos encontrar o como dobrar de tamanho nos diversos negócios da base econômica do sistema do agronegócio, em alguns deles crescer 10 vezes (nunca me esqueço das bananas brasileiras), em outros como vender por melhor preço (carne, algodão, açúcar, biocombustíveis), alguns tornando visível o invisível (bioeconomia), outros ainda em como vender mais suco de laranja na Ásia, e até impensáveis como lançando o suco de frutas mais delicioso do planeta – jabuticaba da donana, lá de Sinop onde a Embrapa faz um trabalho espetacular de estudos para recuperação de matas, cria ILPF, ou ainda vendendo árvores in vitro dos biomas amados do Brasil, pelo cenargen, a maior arca de Noé tropical do mundo. Brasil o único país do mundo que tem nome de árvore.

Quer dizer – pensar, livre pensar. Vamos pensar juntos.

Dobrar o agro de tamanho, medir isso, e depois em cada caso iremos verificar qual a engenharia tributária a ser feita, qual modelo de financiamento caberia, onde resolver a logística, como explodir a burocracia e orientar corretamente o legislativo sobre a prioridade das leis. Com certeza os desafios para dobrar o suco de laranja do Brasil no mundo são diferentes da proteína animal, da celulose e da agroindústria das batatas bem Brasil, que deseja enfrentar multinacionais no mundo todo.

Fernando Penteado Cardoso, sábio brasileiro, fundador da Agrisus, hoje com 105 anos me disse: “Não tenha medo do mercado e jamais se afaste da ciência”. O mercado é gigantesco, mais de US$ 20 trilhões no mundo, crescendo e se sofisticando em todos os derivados do agronegócio. E a ciência, sendo tropicalizada, o segredo dos segredos do Brasil com Embrapa, institutos agronômicos, universidades, pesquisadores. Alysson Paolinelli, outro sábio merecedor do Nobel da Paz, me disse: “Não creio mais somente em governo a sociedade civil precisa atuar, precisaremos no mínimo produzir 630 milhões de toneladas até 2050, não podemos fugir dessa realidade que me estimula tanto e incluir quatro milhões e meio de pequenas propriedades nesse desafio maravilhoso”. Produtores conectados aos consumidores, e muito cooperativismo. Vem aí o novo agribusiness, como Ray Goldberg agora o define, aos 93 anos de idade lá do seu IFAMA: “Somos um health system, um sistema de saúde, com medicina e meio ambiente. O alimento significa o algoritmo universal para tudo que o envolve”.

Roberto Rodrigues afirma: “Brasil, o país da paz, segurança de alimentos”. Marcello Brito, presidente da Abag, afirma: “O consumidor é rei, precisamos atender o mercado, com meio ambiente e rastreabilidade”. Márcio Milan, diretor executivo da abras, associação brasileira de supermercados acrescenta: “Desejo que as 90 mil lojas dos supermercados sejam pontos de educação alimentar dos consumidores”.

E finalizando com a ministra Tereza Cristina: “Precisamos ter juízo”. Sem dúvida, ministra, a senhora abriu mais de 60 mercados para nosso crescimento, agora que tenhamos juízo.

Vamos pensar, juntos, os diferentes reunidos. O bom conflito cria. Para isso exige confiança. O Estadão e sua história justificam esta boa convocação. “Tamo junto.”

*José Luiz Tejon Megido é doutor em Educação, mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie; professor de MBA na Audencia Business School, em Nantes, na França; coordenador do Agribusiness Center da FECAP; membro do Conselho da Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, e sócio-diretor da Biomarketing

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