Brasil: o que é “agronegócio”?

6 de setembro de 2022 8 mins. de leitura
Acesse a matéria completa e confira o artigo de José Luiz Tejon sobre a importância do agronegócio no Brasil

José Luiz Tejon

Mês da independência, 200 anos. Nos últimos 50 anos, criamos um ativo espetacular nesse cinturão tropical do planeta Terra: o Brasil. Nome originado do Pau-brasil, primeiro item desejado pelas elites do mundo antigo, pois permitia a tintura vermelha das roupas e decorações nobres. Assim nascia o único país no mundo que tem nome de árvore.

Mas esse “agronegócio” contemporâneo foi feito a partir de ciência, tecnologia, educação, inteligência, empreendedorismo, indústria, comércio, serviços e valores humanos dos “migrantes dos imigrantes”, que saíram pelas fronteiras muito além do litoral, produzindo e criando, a produtora e o produtor rural.

Porém, também, 70 anos após, a criação do conceito “agribusiness” no mundo, observo uma imensa maioria brasileira confundindo seu significado e não entendendo a sua realidade histórica, um “Lego” design thinking que foi criado por seres humanos espetaculares que viram antes o que pouquíssimos viam. Para ficar com apenas dois nomes, e em torno deles homenagear esses a quem “tantos devem tanto”, cito o ministro Cirne Lima, em 1970 criando o projeto da Embrapa, e o ministro Alysson Paolinelli, em 1974 colocando a Embrapa e a Embrater, em pé.

Nas campanhas políticas dos presidenciáveis muito se fala da fome, do desemprego e do crescimento do País, mas ninguém explica o papel do agronegócio nisso, nem o menciona num projeto estratégico de estado ou de governo, e se perguntarmos se a “coca-cola” é uma empresa do agronegócio, ou McDonald’s, ou Starbucks, ou Unilever, ou Tetrapak, talvez cause estranheza ao afirmar, sim, são organizações dentro do complexo de “agribusiness”, claramente. São organizações que constituem cadeias produtivas, “montadoras” agroalimentares regenerativas, de sustentabilidade intensiva, e inseridas na economia circular doravante.

Agronegócio é importante demais para que presidenciáveis e grande parte das lideranças econômicas, empresariais e agropecuárias não saibam sua correta definição e amplitude estratégica.

Tem um impacto direto no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, na casa de 30%. Porém, ao ver e ouvir declarações a respeito do agronegócio dos candidatos e de lideranças da sociedade civil, fico com a sensação de que, apesar do conceito existir há 70 anos, sua interpretação é parcial, e ainda recheada de angulações ideológicas colocadas a serviço de radicais esquerdistas e direitistas num gigantesco negacionismo da sua legítima raiz.

Gostaria de ouvir com muito mais frequência a definição de agronegócio criada pelos professores John Davis e Ray Goldberg na Universidade de Harvard, no início dos anos 1950. Poderiam? Não é difícil basta dar um Google e vão achar.

Ah, mas precisa ver agronegócio tropical, brasileiro, alguns me diriam. Ótimo então. Uma leitura no primeiro livro sobre o tema escrito no Brasil em dezembro de 1990 por Ney Bittencourt de Araujo, Ivan Wedekin, Luiz Antônio Pinazza com a participação especial de Elisio Contini da Embrapa, de Coriolano Xavier e deste colunista, cujo título já nos ajuda um pouco mais no entendimento dessa questão: “complexo agroindustrial, o agribusiness brasileiro”. Vai ajudar.

Ah, mas não existem traduções então de agribusiness para agronegócio com autoridade legítima e acadêmica? Então vamos consultar os universitários. Sim, também desde o início dos anos 1990 na Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA), o prof. Dr. Décio Zylberstayn deu início ao Pensa, hoje sob coordenação do prof. Dr. Cláudio Pinheiro Machado na FIA, cujo título também nos dá a pista do seu legítimo conceito: Programa de Estudos dos Negócios do Setor Agroindustrial.

Quer dizer, agronegócio na sua raiz é a governança da soma de todos os seus fatores, desde insumos, ciência tecnologia, cruzando a produção agropecuária propriamente dita, envolvendo a transformação agroindustrial, o comércio e os serviços, numa metodologia de cadeias produtivas, de arranjos produtivos, onde obrigatoriamente todos os elos que os compõem precisam estar coordenados e interrelacionados.

Agronegócio é um sistema que a todos pertence, mas não é exclusividade de ninguém, de nenhum elo dessa corrente sobre os demais elos. E como nas correntes, ela costuma partir exatamente quando um dos seus elos está enfraquecido.

Agricultores sem a ciência e tecnologia não irão ao futuro. Agroindústrias, tradings, setor financeiro, supermercados sem os agricultores não terão a segurança e a imagem natural do suply chain, e tudo isso sem consumidores, sem cidadãos com renda para consumir não irão prosperar e crescer no consumo per capita e no combate à fome e desnutrição.

Estou assistindo a polarizações insanas de partes do agronegócio uns contra os outros. Produtores rurais formam com justiça o elo mais frágil, aquele que atua sob riscos, incertezas, fatores incontroláveis de todos os tipos, incluindo clima, taxas cambiais, oferta x demanda, interferências políticas numa AGRIwar mundial, e precisam ser preservados e promovidos perante toda a sociedade. Porém, da mesma forma precisamos de investimentos na ciência, no pesquisador, numa política pública de segurança alimentar do país, nas estruturas logísticas, e na agregação de valor industrial com marcas e marketing onde uma saca de café transformada em cápsula vale 10 vezes mais do que “uma saca de café”, onde podemos ter um café da manhã por R$ 1 na porta do metrô e também uma xícara de café especial por 15 euros num restaurante de Milão (Itália).

Presidenciáveis, suas assessorias, lideranças de entidades ao longo de todos os elos do antes, dentro, pós e além das porteiras das fazendas e granjas, agronegócio é a atividade que permitirá sucesso nos seus planos de governo objetivando crescimento robusto do PIB brasileiro, é o que vai gerar mais empregos e renda ao longo de todas as suas cadeias do A do abacate, acerola, soja, trigo ao Z do zebu,

Obrigatoriamente integrando produtores rurais, grandes, os médios e pequenos com cooperativas agroindustriais, cooperativas estas que já significam 54% da produção do País, e os setores industriais, comerciais e de serviços, como num excelente estudo do Cepea da Esalq para a cadeia de flores e plantas ornamentais, Ibraflor, revelando o elo dos agrosserviços com a representatividade de 46% do total desse setor, com o comércio pós porteira ficando com 31% e a produção agrícola 23%. Ou seja, um movimento de mais de R$ 14 bilhões, impossível de ser feito sem a governança de todos os seus elos, do produtor ao vendedor da floricultura, ao paisagista e jardineiro. E vale registrar a Holambra, quarta maior cooperativa do mundo de flores e plantas ornamentais, é brasileira. Este é apenas um exemplo para inspirar a curiosidade de todos.

E qual a meta de um PIB do agronegócio brasileiro para 2027? US$ 1 trilhão. Essa é a minha provocação. E se criarmos um planejamento para isso, totalmente exequível no potencial nacional, envolvendo agroenergia, agroambiente, agroalimentos, conseguiremos sair de um PIB medíocre brasileiro, baixo de US$ 2 trilhões, com um objetivo de alcançarmos US$ 3 trilhões nesse espaço de tempo.

Na bioeconomia, me informa o prof. Daniel Vargas do observatório da bioeconomia da FGV, o potencial é na casa de cerca de 50% do atual PIB global para ser transformado em ativos contabilizáveis planetários. Que oportunidade Brasil.

Presidenciáveis, lideranças, vamos lá, vocês precisam muito mais do agronegócio de raiz, do que este de “ bullying “ de uns contra os outros. Do motoboy do delivery da pizza, aos 4 milhões de pequenas propriedades rurais fora do mercado, às corporações científicas multinacionais, aos empresários rurais, agroindustriais, tradings, distribuição, bancos, seguradoras, ONGs, órgãos de governo, pesquisa, telecomunicação, TI e do cidadão consumidor, incluindo a agrofilantropia para os que precisam comer mas ainda não são “consumidores”, gente sem renda para ir ao mercado.

Debulhem o assunto e sejam profundos, profícuos e verdadeiros líderes educadores senhoras e senhores da liderança nacional. E ao vosso e nosso lado a educação, academias, escolas em todos os graus, professoras e professores, precisamos como nunca de vocês. A velocidade faz parte deste novo século. Juventude, a vocês caberá liderar tudo isso. Comecem já, pois o presente agora se transforma no resultado do futuro, não mais ao contrário.

Brasil, nós sabemos o que é agronegócio. Vamos dobrar de tamanho e arrancar pra cima o PIB do país dando dignidade a todos os brasileiros e paz ao mundo inteiro. US$ 1 trilhão na soma das cadeias do agro. Esse será o gol de placa de um legítimo presidente da república de 2023 a 2026.

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