Ideologia não rima com agronegócio
Ao setor não convém estar à esquerda, à direita, nem estacionar ao centro; ao agronegócio só interessa ir para frente
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Por José Luiz Tejon Megido*
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Falando de líderes, aqui vão as quatro características vitais de um líder autêntico, segundo Rogers & Schmid, que nos ajuda a avaliar a liderança brasileira atual para prospectarmos o futuro: 1ª Candura: o bom líder diminui o ambiente abrasivo; 2ª Inclusão: o bom líder tem respeito pelo outro; 3ª Confirmação: o bom líder confirma a importância do outro e 4ª Presença: o bom líder cria o engajamento de todos na causa superior.
Neste contexto, vale lembrar que o agronegócio é um sistema de cadeias produtivas que está a serviço de gerar valor a partir da originação, seja ela no campo, nas águas, nos mares ou nas cidades. O agronegócio envolve a ciência e tecnologia, os produtores rurais, a indústria, o comércio e os serviços que vêm depois das fazendas. Trata-se de um ativo econômico, financeiro, de segurança nacional, cuja missão é assegurar dignidade à sociedade, por meio de um comércio justo entre as partes da cadeia produtiva.
Numa sociedade globalizada é fundamental a confiança na entrega de alimentos, segundo padrões pré-determinados de qualidade e critérios de sustentabilidade.
Hoje temos dois combates dentro do patrimônio de inteligência agro tropical que criamos ao longo dos últimos 50 anos. A primeira é não permitir que ideologias se apossem do agronegócio nacional e o usem para seus fins de curto prazo. Ao agronegócio não interessa esquerda, direita nem estacionar no centro. Ao agronegócio só interessa ir pra frente. Mais negócios, mais clientes, diversificação de produtos, exportação, criação de empregos, agroindústrias e cooperativismo.
Ao agronegócio não interessa ambientes abrasivos, onde uma categoria do complexo das cadeias produtivas seja jogada contra as outras. Ao agronegócio não interessa a polarização de nós contra eles, pois a atividade, a produção de alimentos é uma demanda essencial de todos os cidadãos. Ao agronegócio interessa, sim, uma visão de Estado, um planejamento de médio e longo prazo, proteção justa aos produtores rurais, que são o elo mais fraco da cadeia produtiva. Proteção essa que venha por meio da educação, que promova aumento de produtividade para todos; de seguro; de plano de negócios; de segurança nos insumos e nas tecnologias usadas antes da porteira e da construção da confiança na marca Brasil. Isso será um seguro da imagem do agro nacional perante os ataques constantes de mercados concorrentes.
E temos outra luta, que não envolve governos. Envolve a consciência dos líderes que representam os elos das cadeias produtivas do agro. Esta liderança precisa se unir para um diálogo, convocar as melhores inteligências de cada segmento e construir um planejamento estratégico do agro brasileiro.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) fez uma comunicação na defesa da indústria dizendo: “O Brasil pode se transformar na roça do mundo se abrir mão da indústria manufatureira”. Com certeza, a intenção do seu presidente, Robson Andrade, não foi diminuir a agropecuária do país. No entanto, as palavras correm o risco de servir ao mal ou ao bem.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), hoje 58,8% de toda produção agropecuária brasileira passa pelo setor. Na balança comercial, o resultado das indústrias filiadas à Abia tem um impacto positivo de 61,7%. De acordo com a associação, o Brasil é o segundo maior exportador de alimentos industrializados do planeta, em volume, e o quinto maior, em valor.
E, claro, não podemos esquecer que suco de laranja é agroindústria, açúcar é agroindústria, bem como as carnes, o café solúvel, o óleo de soja, os bombons e doces. Se incorporarmos nesta conta outras indústrias conectadas à originação do campo – como tecelagem, construção, química, biocombustíveis, borracha, fármacos e beleza – teremos uma infinidade de segmentos vinculados ao agro. E a lista vai além, envolve o setor metalmecânico, as máquinas, geradores, a indústria de embalagens e de biossoluções, silos, etc.
Em outras palavras, a maior indústria brasileira é a do complexo agroindustrial. Exatamente o conceito que originou a palavra “agribusiness”, na universidade de Harvard, com os professores John Davis e Ray Goldberg. Este conceito de
“complexo agro industrial” foi trazido ao Brasil por Ney Bittencourt de Araújo, fundador da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).
Governos e sociedade civil organizada não podem se alinhar a ideologias e preconceitos. Eles precisam se unir e não dividir. Na multiplicação, ganham todos. As confederações empresariais nacionais têm fortes vínculos com o agro. Algumas, totalmente; outras, parcialmente. Mas nenhuma delas viveria sem o setor. Por isso reafirmo: Ideologia não rima com o agronegócio, muito menos antipatia.
*José Luiz Tejon Megido é doutor em Educação pela UDE – Uruguay; mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie; professor de MBA na Audencia Business School, em Nantes, na França; coordenador do Agribusiness Center da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP); sócio-diretor da Biomarketing e membro do Conselho Científico do Agro Sustentável (CCAS) e do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Nota: Este texto não, necessariamente, reflete a opinião do Estadão.