Está na hora de as confederações nacionais empresariais criarem a “reunião pelo Brasil”

10 de março de 2021 4 mins. de leitura
Tejon convoca a união de nove entidades para trazer esperança ao Brasil

Embaixadores do Agro

Por José Luiz Tejon Megido*

A Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgou uma “nota técnica” propondo redução da mistura de biodiesel como fórmula para reduzir o custo do diesel.

A Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), por sua vez, se manifestou: “Entidade do setor de transporte divulga dados inverídicos sobre biodiesel para tentar explicar aumento no preço do diesel”. Sem dúvida, as implicações de ideias como esta apresentam ausência de compreensão sistêmica. Ausência de saber o que é e o que não é agribusiness, ou agronegócio, a sua ainda incompreendida tradução.

A cadeia produtiva da soja tem no biodiesel cerca de 60% da demanda por óleo de soja. Isso estimula a industrialização e agrega valor. Consequentemente, além dos aspectos ambientais e dos efeitos positivos na saúde humana, o biodiesel é muito importante para os agricultores, pela diversificação que representa. Diminuição dos riscos. Ao lado da Aprobio, também se manifestam no mesmo documento a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) e a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio).

O documento foi enviado para a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em cópia para César Hanna Halum, secretário de Política Agrícola, e Cid Jorge Caldas, coordenador geral de Cana-de-açúcar e Agroenergia. Nesse ofício, reiteram conjuntamente a “enorme preocupação do setor com a proposta trazida pelo Ministério da Economia de reduzir o teor percentual do biodiesel no diesel comercial”.

Em paralelo a isso, surge outra manifestação extremamente preocupante por parte de outro elo significativo do agro brasileiro, o setor da proteína animal. O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, assina um documento enviado ao ministro da Economia, Paulo Guedes, referendando os argumentos da Abiove, Ubrabio e Aprobio. Nesse ofício a ABPA adiciona: “Diante de uma eventual suspensão da política do biodiesel, podemos estar face a face de uma situação da mais alta gravidade: sem o estímulo ao esmagamento interno da soja, o farelo grão que hoje é ‘extremamente caro’, passará a ser também escasso. Falamos, portanto, da eventual inviabilização de uma parcela da produção de aves, suínos e ovos do Brasil.”

Telefonei para Erasmo Carlos Battistella, presidente da Aprobio, que considera vital para o programa Renovabio, a manutenção da mistura de 13% de biodiesel ao diesel comercial. Ao final, se tomada uma medida como essa, acarretaria em maior importação de diesel mineral, desemprego, aumento no custo dos alimentos e mais um exemplo de descuido na imagem ambiental do País e não resolveríamos a causa dos dramas dos caminhoneiros que merecem justa governança.

Agora, deixo aqui uma questão que não para de me incomodar. Estamos em uma gravíssima crise mundial e a maior do Brasil. Está evidente a ausência de um planejamento estratégico econômico e de crescimento sustentável do Brasil. Pergunto: não estaria na hora das confederações nacionais empresariais se reunirem para uma força tarefa conjunta de olho no PIB do País? Outro dia, vi uma manifestação da CNI preocupada com o Brasil se tornar uma “roça do mundo”. Porém, está exatamente na indústria do antes e do pós-porteira das fazendas, o único setor industrial que cresceu na pandemia. Fundamento de agribusiness.

Agora vejo a CNT, propondo uma solução que, se efetivada, causará infortúnios para todos, inclusive para o setor de transporte. Está na hora de os nove presidentes destas confederações se reunirem e se unirem para trazer uma voz lúcida e sensata de esperança para o Brasil: uni-vos CNI, CNC, CNA, CNT, CNCOM,CNCOOP, CNSAUDE, CNSEG, CNF.

“Nunca tantos precisaram tanto de tão poucos” (Winston Churchill 1874-1965).

São nove. Precisamos de vocês… reunião pelo Brasil. Um plano comum de negócios. E, quem sabe, se reunidos, estes nove até o drama dos caminhoneiros não se resolvem? Resolveriam sim….e muito mais. 

*José Luiz Tejon Megido é doutor em Educação, mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie; professor de MBA na Audencia Business School, em Nantes, na França; coordenador do Agribusiness Center da Fecap; membro do Conselho da Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, e sócio-diretor da Biomarketing.

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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