Brasil como a nova fronteira da agricultura irrigada 4.0

11 de maio de 2021 4 mins. de leitura
País será o responsável por atender o aumento da produção de alimentos necessários para suprir o crescimento populacional dos próximos 30 anos

Leandro Fellet Lourenço*

Até o ano de 2050, estima-se que a população do planeta chegará a 10 bilhões de habitantes e, para atender o crescimento populacional, serão necessários aumento de 70% na produção de alimentos. Segundo estudos da Organização das Nações Unidas (ONU), apenas 23% do aumento da produção, será em função da ocupação de novas áreas agrícolas e o restante deverá ocorrer em função do avanço das tecnologias agronômicas como: melhoramento genético (14%), controle de pragas e doenças (13%), correção e adubação dos solos (11%), mecanização e agricultura de precisão (11%) e irrigação (22%).

Atualmente, no Brasil, 60% da água bombeada e outorgada é utilizada na agricultura irrigada, dados estes que podem parecer assustadores, porém somos um país providos de aproximadamente 13% de toda água doce superficial disponível na Terra, e exploramos apenas 5% deste potencial disponível.

Segundo estudos divulgados recentemente pela Esalq/USP e a Agência Nacional da Água (ANA), a área utilizada no Brasil para agricultura é de aproximadamente 200 Mha (milhões de hectares) e possui menos de 5% da agricultura irrigada (8,2 Mha), porém existe disponibilidade de recursos hídricos para irrigar oito vezes mais áreas totalizando 55 Mha, utilizando água superficial ou subterrânea. 

Apesar de menos de 5% da área agrícola ser irrigada, 40% da receita agrícola vem de áreas irrigadas. Em média, com a utilização da irrigação para produção em hortaliças, cereais ou frutas o aumento da produtividade observada, pode ser superior a 100%. Ou seja, é uma tecnologia praticamente obrigatória para culturas de alto valor agregado.

Dessa forma, o Brasil será o grande responsável por atender o aumento da produção de alimentos necessários para suprir o crescimento populacional dos próximos 30 anos e é considerado como a grande fronteira para a agricultura irrigada mundial.

Outro ponto que vem contribuir para o crescimento é a inserção de novas tecnologias no auxílio da gestão dos sistemas de irrigação. Os equipamentos de irrigação existentes podem ser acionados a distância, possibilitando ao agricultor, ligar o sistema de irrigação a qualquer horário do dia, desde que tenha acesso à internet e faça todo o diagnóstico do equipamento de irrigação, inclusive gerenciando a quantidade de adubos a serem distribuídos nas plantas, conforme a necessidade.

Porém, uma grande demanda do agricultor ainda é com relação à interpretação da disponibilidade de água para as plantas. São decisões diárias que o produtor irrigante precisa tomar no que tange à quando e quanto que se deve irrigar e que tem influência direta na produtividade, sendo um fator sensível a condições bióticas e abióticas, levando-se em consideração a relação entre a planta, o solo e a atmosfera.

A adoção dessa tecnologia possibilita ao agricultor o uso racional da água, que irá acionar o sistema de irrigação somente no momento em que a planta apresente queda na produtividade em função da disponibilidade da água chuva. Quando este balanço entre demanda e disponibilidade são equilibrados, possibilita que se possa produzir mais energia pelo processo fotossintético e carrear para a demanda conforme o estádio fenológico e a consequência agronômica, com aumento da produtividade. Viabiliza ainda a utilização de sementes com potencial produtivo maior, adubações proporcionais a extração das plantas, controle de pragas e doenças visando minimizar o efeito de patógenos na produtividade, ou seja, na agricultura irrigada, o produtor pode utilizar tecnologias agronômicas mais caras, pois ele tem a certeza de que irá colher mais e melhor, eliminando o efeito do estresse hídrico na produtividade agrícola.

O monitoramento das plantas é um grande sonho do produtor, pois ele investe durante todo o ciclo da cultura e só consegue mensurar a produção no final da safra quando ele faz a colheita. Porém, sensores de umidade do solo utilizando a internet das coisas (IoT) com precisão cem vezes maiores que a disponível no mercado, auxiliam o produtor a mensurar a disponibilidade de água, e o consumo, servindo como métrica na tomada de decisão e possibilitando tornar a irrigação autônoma, possibilitando um sistema produtivo e rentável e sustentável.

*Leandro Fellet Lourenço é mestre em Irrigação e doutor em Fitotecnia pela Esalq/USP e CEO da Agromakers, startup incubada da Esalqtec

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