Ataques franceses à produção de soja brasileira foram direcionadas a atender aos produtores locais e desconhecem o Código Florestal do Brasil
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Por Bartolomeu Braz Pereira*
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As manifestações do presidente francês Emmanuel Macron sobre a produção da soja brasileira e a gestão ambiental da Amazônia, dirigidas aos pouco competitivos agricultores franceses, foram duramente rebatidas por diversos setores do agro brasileiro e serviram para reforçar a união entre poder público e a iniciativa privada em torno da defesa da produção sustentável.
Os países que criticam o Brasil desconhecem a natureza dos biomas brasileiros e fazem exigências na área ambiental mesmo sem gerir seus próprios recursos naturais como faz o Brasil, que é detentor das florestas de maior biodiversidade do planeta.
No caso da França, este artifício é antigo. Seu presidente traz esses assuntos à tona sempre que enfrenta dificuldade com sua popularidade. Ele repete este mantra da questão ambiental para proteger produtores franceses, que são altamente subsidiados com recursos do governo, o que, aliás, é motivo de uma contestação do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) por práticas anticoncorrenciais.
Isso tudo acontece porque o Brasil é a vitrine mundial da produção de alimentos de forma sustentável, de respeito às leis brasileiras, às reservas legais, às áreas de preservação permanente e às unidades de conservação. Mesmo com tantas restrições, alimentamos mais de um bilhão e meio de pessoas em todo o planeta com uma soja competitiva, rica em óleos e proteínas e ideal para produção de carnes.
Por isso, desafiamos as empresas multinacionais que compram, processam e exportam a nossa produção a apontarem quais países fazem uso do sistema de plantio direto – tecnologia genuinamente brasileira que retém a água no solo, previne erosões e aumenta a produtividade das lavouras – a ponto de ter legitimidade para fazer exigências quanto à nossa produção.
E convidamos os líderes mundiais a apontarem quais países obrigam por lei os produtores a reservarem de 20% a 80% de suas terras para fazer preservação de vegetação nativa dentro das propriedades. Só o Brasil faz isso. Por isso é o agro mais eficiente, que precisa ser melhor valorizado.
Entre os países considerados grandes produtores de alimentos, o Brasil é o que mais preserva vegetação nativa em todo o mundo, 66% do nosso território, de acordo com dados da Embrapa Territorial confirmados pela Agência Espacial Norte-Americana (Nasa).
As tradings e indústrias internacionais que operam dentro do Brasil têm de respeitar o nosso país e o nosso sistema de produção de alimentos, que é o mais desenvolvido e sustentável do mundo. Precisamos atuar juntos enquanto cadeia produtiva, mas é preciso que os atores da porteira para fora entendam a cabeça do produtor e o que acontece dentro da produção.
O segredo do nosso sucesso – o que nos torna competitivos – reside na necessidade do respeito às normas legais e nos investimentos que todo o agricultor brasileiro faz em seu patrimônio para ter sustentabilidade dentro da propriedade rural. Entendemos há muito tempo que para sermos eficientes, precisamos respeitar o meio ambiente.
Precisamos mudar esta visão que criminaliza o produtor de alimentos e encarar a produção a partir do reconhecimento da realidade em que ele está inserido. Essa imagem negativa é retratada desde a escola, expondo estudantes a um conteúdo preconceituoso e ideológico, que deseduca e distorce a realidade. Um crime de lesa pátria.
Se a produção e a preservação ambiental fossem retratadas em um filme, nós, agricultores brasileiros, não teríamos um papel secundário. Seríamos os protagonistas, os heróis que garantem alimentos saudáveis a preços acessíveis, que geram empregos e fortalecem a economia de um país continental como o Brasil. Problemas existem, a começar, principalmente, pela inexistência de regularização fundiária. E aqueles que descumprem as leis vigentes devem ser responsabilizados. No entanto, não é hora de eleger culpados, mas, sim, buscar soluções. E partir de um diálogo franco, pensarmos na melhor estratégia para comercializar nossos produtos nos mercados mundiais. Este é o Brasil que queremos: o que valoriza o agro eficiente.
*Bartolomeu Braz Pereira é presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja – Aprosoja Brasil.
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.