A produção de soja no Brasil está acabando com a Amazônia?

19 de fevereiro de 2021 4 mins. de leitura
Críticas nacionais e internacionais insistem em colocar a soja como a grande culpada pelo desmatamento na Amazônia sem, muitas vezes, saber o que é de fato a Amazônia

Embaixadores do Agro

Por Camila Telles*

Logo no começo do ano, Emmanuel Macron, presidente da França declarou nas redes sociais que “continuar dependendo da soja brasileira é endossar o desmatamento da Amazônia”. Neste mês, o presidente americano, Joe Biden, recebeu um dossiê assinado por mais de cem acadêmicos e ativistas de organizações não governamentais que pedem para o governo interromper negociações diplomáticas com o Brasil, o que provocaria a suspensão da importação de produtos ligados ao desmatamento na Amazônia.

Isso vai acontecer? Não. Mas é claro que o burburinho foi grande. Eu e aqueles que têm uma visão mínima do mercado internacional sabem que isso envolve um forte interesse econômico e político. Não vou nem entrar na questão da pouquíssima área florestal da França e nos entraves políticos dos Estados Unidos em relação ao Brasil. Estes dois assuntos não cabem agora nessa coluna.

Vou seguir logo para a explicação básica que muitos ignoram, além de não entender como de fato funciona a produção de soja no nosso país. 

Existem duas Amazônias no Brasil: Uma, delimitada pelo bioma Amazônia, que é 49,4% do território brasileiro. A segunda, Amazônia Legal, com 5,2 milhões de Km², sendo 20% maior que o bioma Amazônia.

Moratória da soja impede as tradings de comprar o grão de áreas desmatadas na Amazônia

Dito isso precisamos entender a diferença entre elas. A Amazônia Legal inclui grandes áreas de Cerrado, como as existentes nas cidades de Rondonópolis e Sinop (no estado do Mato Grosso), no município de Balsas (no Maranhão) e em Palmas (no Tocantins).

A exploração da Amazônia brasileira, na sua maior parte, ocorre fora do bioma Amazônia, que tem 86,2% do seu território preservado, sendo 2,1% de áreas alagadas. Também devemos lembrar que a tecnologia empregada na nossa agricultura poupa muita floresta e torna a nossa produção agrícola cada vez mais produtiva e sustentável. Isso, inclusive, nos credenciou a entrar no mercado de capitais, com mecanismos financeiros para emitir os chamados títulos verdes – os green bonds.

Essa agricultura tecnológica que eu defendo não tem nada a ver com quem provoca o desmatamento da Amazônia. Quem o faz são criminosos ambientais e não deveriam nem estar ligados ao agronegócio. 

A melhor maneira de combate é justamente o Brasil fazer o seu dever de casa muito bem feito e produzir com responsabilidade. 

Não consegue ver isso na prática? Então vamos lá que vou explicar melhor: 

Você já ouviu falar sobre a moratória da soja? A moratória é um acordo, estabelecido entre indústrias e exportadores do grão, para não comprar soja vinda de áreas desmatadas após 24 de julho de 2006 (data na qual entra em vigência esse pacto). Por isso, desde 2008, a soja produzida no bioma Amazônia no Brasil é livre de desmatamento. Na última década, 98% da expansão da soja no bioma Amazônia ocorreu em áreas já abertas. 

Mesmo com o plantio do grão, todas as propriedades rurais devem preservar matas e florestas. O porcentual de preservação pela lei brasileira é 80% no bioma Amazônico. Traduzindo, é como se eu tivesse um prédio de 10 andares e só pudesse usar dois!

Apesar de o Estado do Mato Grosso, o maior produtor de soja no país, ter áreas no bioma Amazônia, a maioria das áreas de plantação de soja estão bem longe desse bioma. Os estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia e São Paulo seguem os mesmos cuidados. 

Todos concordamos, defendemos e sabemos da necessidade de barrar o desmatamento da Amazônia. Mas, antes de opinar sobre um assunto que você não conhece, não tem a mínima noção dos números e dados, é necessário estudar. 

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*Camila Telles é produtora rural, empresária, comunicadora e defensora do agro brasileiro. Formada em Relações Públicas com especialização em Marketing Estratégico, seus vídeos nas redes sociais têm mais de 1 milhão de visualizações, atingindo também o público que não tem convívio com o setor.

Nota: Este texto não, necessariamente, reflete a opinião do Estadão

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