Alysson Paolinelli fala dos desafios do país para aumentar a produção agropecuária, entre eles a necessidade de investimentos em pesquisa
Publicidade
Por Alysson Paolinelli*
Conheça o mais relevante evento sobre agronegócio do País
O Brasil foi indicado como a via mais confiável para garantir a segurança alimentar do planeta por diversos órgãos internacionais, com destaque para a Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO/ONU), Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Banco Mundial, entre outros. Com base em diversos estudos, até 2050 o mundo precisará produzir 61% a mais da oferta atual de alimentos para atender a demanda global. E ao Brasil reserva-se o desafio de arcar com 41% deste percentual. Para isso, temos que elevar nossa produção agrícola em 10% ao ano, a fim de podermos obter uma safra de grãos entre 620 a 630 milhões de toneladas ao final dos próximos 30 anos.
No que diz respeito especificamente ao milho, a demanda global só tende a aumentar. Com a limitação de áreas de grandes produtores, como EUA e China, a janela de oportunidade para o Brasil está aberta.
Os produtores brasileiros que estão tendo a oportunidade de investir em sistemas de irrigação vêm observando ganhos contínuos de produtividade em suas lavouras. A irrigação reduz demais o risco climático, principal causa de variações na produção. No Brasil Central, por exemplo, alguns produtores de milho irrigado estão obtendo rendimentos acima de 200 sacas por hectare.
Junto à irrigação, melhores variedades, avanços nas técnicas de manejo, integração-lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e incorporação de novos insumos são outros fatores cruciais para o aumento de produtividade e consequente incremento nas mais recentes safras do grão. Exemplo, é o advento da terceira safra no Nordeste, especificamente na região da Sealba [Sergipe, Alagoas e Bahia].
Política agrícola
Há também uma nova dinâmica no mercado de milho, com o Brasil também passando a ser um importante exportador em sintonia com a disponibilidade de oferta interna.
Entretanto, o Brasil carece de uma política agrícola estratégica, lastreada em preços mínimos efetivos e gestão de estoques de alimentos, que possa assegurar o abastecimento interno a preços remuneradores para o produtor e acessíveis ao consumidor, bem como a manutenção de excedentes exportáveis e consequente geração de divisas para o País. Uma correta política de preços mínimos é crucial para que o produtor seja remunerado adequadamente e o consumidor possa pagar menos pelo alimento.
Observa-se hoje uma certa anomalia no mercado, com uma demanda elevada, que não estava totalmente calculada, o que acarretou na atual pressão altista nos preços dos alimentos.
O fato é que as cotações internacionais relacionadas aos produtos agrícolas irão cada vez mais influenciar os preços praticados no mercado doméstico. É algo dado, diante da crescente demanda global por alimentos e pelo fato, claro, de o Brasil ser um player importantíssimo em termos de produção e capacidade de exportação. Não acredito que o governo federal constituirá grandes estoques reguladores – podendo fazer apenas em alguns produtos.
Pesquisa e seguro rural
Reitero, ainda, a necessidade de massificação do seguro rural e de recursos para pesquisa agrícola. A Embrapa só tem verba para subsistência. Diante do elevado endividamento público, o governo terá dificuldades para usar o orçamento na área agrícola.
O Brasil não pode de maneira alguma abdicar de investimentos em pesquisa, caso queira manter-se competitivo no agronegócio. Um dos caminhos é a busca de recursos junto ao setor privado, inclusive de investidores internacionais. Universidades e órgãos de pesquisa e extensão rural passam dificuldades financeiras. O governo federal precisa assegurar recursos para as Ciências Agrárias, com foco em inovação e geração de tecnologia.
Foi justamente a pesquisa de ponta que viabilizou o desenvolvimento da tecnologia de agricultura tropical sustentável, que fez o Brasil passar de importador para exportador de alimentos, fibras e energia renovável.
O mesmo raciocínio vale para o seguro rural, área em que a subvenção ao prêmio é insuficiente para que haja uma maior expansão da área segurada. Neste aspecto, lembro de proposta, que sugere a criação de um fundo privado – com aportes de diversos players do setor, entre os quais, indústrias de insumos, fabricantes de máquinas, tradings – para apoiar o subsídio ao prêmio.
Ademais, as propostas de reforma tributária que tramitam no Congresso podem onerar o produtor rural e consequentemente elevar o preço dos alimentos.
*Alysson Paolinelli é presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e ex-ministro da Agricultura.
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.