José Luiz Tejon questiona a recente demissão do agrônomo Guilherme Soria Bastos Filho, que fazia uma excelente gestão do órgão
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Por José Luiz Tejon Megido*
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A pedido de quem? Esta pergunta que eu faço ao Conselho de Administração da Companhia Nacional de Abastecimento (Consad), que registrou a resolução de “destituir, ‘a pedido’, o senhor Guilherme Soria Bastos Filho do cargo de diretor executivo da Conab”.
A Conab é uma empresa pública estratégica, importante e pertence ao povo do Brasil. Portanto, como cidadão brasileiro, peço a manutenção no cargo deste competente presidente da Conab até que motivos justos expliquem e/ou justifiquem a sua substituição.
Levantei 12 trabalhos de excelência do agrônomo Guilherme Bastos à frente da Conab neste curto período de tempo, que começou em fevereiro de 2020.
1º Conexão do público com o privado: Meu primeiro encontro com Guilherme Bastos foi numa reunião com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em que ele propôs encontros frequentes do setor público com o privado. Na ocasião, conversamos sobre a previsão de aumento dos preços dos alimentos e da oferta apertada de arroz e óleo de soja.
2º Aprimoramento técnico: Bastos batia na tecla do fortalecimento metodológico das estatísticas por meio da qualificação da equipe e de alianças com grandes especialistas na área.
3º Conab + USDA: Ele estabeleceu contato entre a Conab e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que previa troca de experiências no levantamento e processamento de informações a partir de 2021.
4º Cooperação com o governo paulista: O presidente da Conab assinou um termo de cooperação com a Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo para ampliar a eficiência dos levantamentos, evitando retrabalho.
5º Consolidação de dados: Bastos fez contatos com instituições e universidades estaduais para reunir os dados gerados por estas fontes.
6º Aperfeiçoamento do balanço: Preocupado com as inconsistências nos relatórios de oferta e demanda, principalmente da soja, Bastos mobilizou a equipe para fazer ajustes, o que incluiu estatísticas avançadas com a assessoria de profissional capacitado com doutorado na Esalq/illinois.
7º Digitalização: Bastos disponibilizou tablets para os técnicos de campo da Conab utilizarem no “croptour”, visitas de campo, nas quais estes profissionais colhem informações objetivas sobre a produtividade de diversas lavouras do território brasileiro.
8º Imagens via satélite: Ele investiu no melhoramento do processamento de imagens de satélites e acompanhamentos climáticos e espectral das lavouras com o estabelecimento de parcerias com o Instituto Nacional de Meteorologia, com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
9º Levantamento de preços: Bastos se aproximou da Receita Federal para levantar os preços dos itens agropecuários e alimentícios, a partir das informações das notas fiscais.
10º Parcerias estratégicas: A Conab passou a trabalhar ao lado do Global Agricultural Monitoring Initiative (Geoglam Crop Monitoring Initiative), uma organização internacional que tem por objetivo subsidiar políticas públicas dos países integrantes do G20 e também da Organização de Informações de Mercados das Américas (OIMA), uma iniciativa que será fundamental para a política alimentar nos próximos 10 anos no planeta.
11º Investimento em inteligência: Isso permite análises avançadas com o uso de modelos temporais para a projeção tanto de preços quanto da produção, o que já deve permitir em 2021 simulações de choques de diferentes níveis de produção e de preços da agropecuária.
12º Segurança alimentar: Forte consciência sobre a importância da autossuficiência alimentar do Brasil e da missão da Conab de gerir os estoques e a capacidade de armazenagem, bem como o planejamento estratégico do agronegócio brasileiro.
Se olharmos para o comprometimento do Brasil de dobrar a produção de alimentos nos próximos 10 anos, a Conab terá uma missão vital: a de prover inteligência de informações com modelos de simulação não apenas das safras de grãos, mas também da hortifruticultura e de toda a relação de custos e oportunidades das cadeias produtivas. Isso começa no antes da porteira, com insumos, logística, armazenagem, agroindústria e distribuição.
Em outras palavras, a Conab representa um setor público fundamental para o planejamento estratégico e tático de distintos agentes: produtor rural, cooperativas, indústrias, comércio e serviços envolvidos no setor do agribusiness com impactos diretos e indiretos na vida dos brasileiros.
O novo presidente da Conab, sr. José Samuel de Miranda Melo Junior, já foi anunciado e é uma indicação do Republicanos, partido do centrão e da base de apoio de Jair Bolsonaro. Com todo respeito ao “eleito”, a destituição “a pedido” exige justificativas, além de “explicativas”. Se isso não for feito, a sociedade entenderá ser impossível justificar o injustificável. E se hoje isso ocorre com a Conab, amanhã poderá ocorrer na liderança de empresas públicas que têm se esforçado para emplacar a política da meritocracia. Tal mudança seria uma catástrofe.
Que o mérito da obra seja o justo julgamento de um líder e de suas equipes, afinal na Conab existem colaboradores, que merecem o devido respeito.
É muito estranho esse “a pedido”. De quem? Por qual motivo? Para que? Até quando? Com quais consequências para o País? O povo brasileiro clama por explicações.
*José Luiz Tejon Megido é doutor em Educação, mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie; professor de MBA na Audencia Business School, em Nantes, na França; coordenador do Agribusiness Center da FECAP; membro do Conselho da Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo e sócio-diretor da Biomarketing.
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.