Brasil tem o maior movimento agtech do mundo

14 de dezembro de 2020 4 mins. de leitura
Sergio Marcus Barbosa conta como surgiu o Vale do Piracicaba, ecossistema tecnológico conhecido como o Vale do Silício do agronegócio brasileiro

Embaixadores do Agro

Por Sergio Marcus Barbosa*

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O ambiente de inovação do agronegócio brasileiro ganhou força nos últimos anos, impulsionado por um esforço conjunto da academia com a iniciativa privada para gerar uma agropecuária mais moderna, produtiva e sustentável.

O início de tudo foi em 2015, com a articulação para o lançamento do Vale do Piracicaba (AgTech Valley), ecossistema tecnológico considerado o Vale do Silício do setor agro brasileiro. Tendo a Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”) como principal ambiente de geração de conhecimento, o ecossistema também conta com ambientes de inovação: hubs corporativos, incubadoras, startups, investidores e empresas do agro.

Seguindo esta iniciativa de Piracicaba, outros ecossistemas agtechs foram se disseminando pelo país, de acordo com a vocação de cada região. São os casos de Cuiabá (MT), Londrina (PR), Goiânia (GO), Luís Eduardo Magalhães (BA), Maringá (PR), Cascavel (PR), São Carlos (SP), São José dos Campos (SP), Campinas (SP), Botucatu (SP), Ribeirão Preto (SP), entre outros. Notadamente são cidades onde estão presentes os campi de universidades, demonstrando que esta relação com o setor privado, tão cobrada pela sociedade, funciona.

Essa expansão se deu de forma natural, como no Vale do Silício (EUA), onde as iniciativas empreendedoras ocorreram e devem acontecer de forma espontânea, com políticas públicas facilitadoras, mas cabendo à iniciativa privada liderar este processo, oferecendo oportunidades e gerando riqueza para os envolvidos.

O movimento tomou a proporção atual porque há um ambiente favorável no Brasil, com jovens empreendedores interessados em inovações, associados a profissionais experientes que buscam novos desafios. A pesquisa desenvolvida no Brasil foi o alicerce para as tecnológicas atuais, aliada a empresas dispostas a investir e, principalmente, a produtores rurais interessados em aplicar novos modelos de negócios capazes de impulsionar cada vez mais a sustentabilidade: sócio, econômica e ambiental.

De acordo com a pesquisa “Agricultura Digital no Brasil – tendências, desafios e oportunidades, divulgada recentemente pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), com 750 participantes, 30% deles utilizam soluções digitais com o objetivo de mapear a lavoura e para a previsão de riscos climáticos. Ainda de acordo com a pesquisa, 84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio na produção agrícola e 95% dos produtores registraram que desejam mais informações sobre agricultura digital. 

Biotecnologia

Acreditamos que a biotecnologia seja uma área de conhecimento potencial que o Vale do Piracicaba tem a oferecer. A história do controle biológico e outras contribuições relacionadas com a genética na agricultura começaram aqui, com pesquisadores da Esalq/USP e empresas desse setor.

Dezenas de startups desenvolvem pesquisas e produtos com biotecnologia e, em Piracicaba, acabou de ser lançado um hub voltado somente para tecnologias de bioinsumos. 

Trata-se de um mercado que não para de crescer, mais uma vez de olho na sustentabilidade. A eficiência do controle biológico e o preço competitivo em relação a outras formas de manejo também são apontados como fatores positivos no crescimento desse mercado. 

As perspectivas para o mercado de biológicos no ano agrícola 2020/21 são muito positivas tanto em relação ao aumento de produção, de 20%, quanto na elevação de vendas, de até 30%, na comparação com o período anterior, de acordo com dados da CropLife Brasil, entidade que reúne as empresas fabricantes de defensivos agrícolas.

O produtor rural brasileiro tem o “DNA” da inovação e irá adotar essas novas tecnologias. O desafio é que todos estes agentes envolvidos nos ecossistemas agtechs desenvolvam e facilitem o acesso, e o sistema cooperativista terá papel estratégico para acelerar a adoção e difusão a todos os produtores brasileiros. O movimento agtech é o reflexo do país que dá certo!

Com a colaboração da jornalista Flávia Romanelli

*Sergio Marcus Barbosa é engenheiro agrônomo e gerente executivo da ESALQTec**

**ESALQTec é a incubadora de empresas da Esalq (USP – Piracicaba), que é a peça-chave do Vale do Piracicaba (AgTech Valley), como é conhecido o ecossistema de tecnologias do local, considerado o Vale do Silício do agro brasileiro.

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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