A alimentação saudável é nova oportunidade para o agro brasileiro

5 de março de 2021 4 mins. de leitura
Pesquisa realizada pela gigante ADM aponta que 50% dos consumidores do mundo preferem produtos pautados pela “saudabilidade”

Alysson Paolinelli

Presidente executivo da Abramilho e ex-ministro da Agricultura

Presidente executivo da Abramilho e ex-ministro da Agricultura

Uma série de estudos vem mostrando que uma das tendências mais fortes da indústria global de alimentos é o foco em produtos considerados naturais, saudáveis, “verdes”. Uma das mais recentes pesquisas com esta temática foi feita pela trading ADM com consumidores do Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e China.

O trabalho identificou, por exemplo, que 31% dos consumidores estão comprando mais itens “customizados” para sua saúde, e que 50% deles manifestam preferência por alimentos e bebidas que contêm ingredientes naturalmente benéficos.

O documento destaca que o desejo de influenciar a saúde e o bem-estar por meio de alimentos e bebidas está criando novas oportunidades para produtos ricos em nutrientes, que trazem benefícios funcionais para a saúde e visam apoiar o sistema imunológico, melhorar o humor e manter a energia. Fatores sensoriais como sabor e cor também desempenham um papel cada vez mais importante.

A pesquisa também revela que 65% dos consumidores desejam que suas ações diárias tenham impacto positivo sobre o ambiente, e por isso 32% deles já compram itens produzidos a partir de práticas sustentáveis. O estudo acentua, ainda, que 26% dos consumidores globais já procuram no rótulo o país de origem dos alimentos e bebidas que compram.

Pesquisa da ADM indica que consumidores têm preferência por produtos com ingredientes naturalmente benéficos (Foto: Denis Tuksar)

A realidade é que estamos na era da alimentação saudável, e o Brasil não pode ficar de fora deste mercado. É o que o mundo quer, alimentos que tenham em sua composição menos aditivos, químicos, e que primem pela saudabilidade, segurança, sabor, nutrição, qualidade em geral. Produtos que tenham mais a “mão do homem” em seu processo de fabricação. E isso não é só demanda da Europa, Estados Unidos ou do Japão. Na China mesmo, boa parte da população já tem renda suficiente para adquirir e consumir estes alimentos. 

Esta é uma grande oportunidade para o Brasil. Somos grandes exportadores de commodities, de alguns produtos mais beneficiados, e podemos também ser gigantes em alimentos de maior valor agregado. Mas, para tanto, precisamos de políticas públicas e modelos de negócios que estimulem o desenvolvimento destas cadeias produtivas.

Um outro tema que gostaria de tratar neste artigo é exatamente sobre a imagem do agronegócio brasileiro, que – do ponto de vista ambiental – ficou arranhada na comunidade internacional nos últimos anos. E este ponto tem relação intrínseca com esta nova agenda das cadeias globais de alimentos. 

Neste aspecto, é preciso entender que muitos países produtores agrícolas têm medo da força e competência do agro brasileiro. Eles estão perdendo sua capacidade produtiva e competitiva e reagem com um discurso, muitas vezes, de caráter ideológico-protecionista. 

O desmatamento ilegal que existe no Brasil hoje não é coisa de agricultor, e sim de grileiros, de gente que não atua, e que se atua, precisa ser extirpado da cadeia produtiva do agro responsável. Se existe produtor que age contra a legislação ambiental, ele está, obviamente, errado, e precisa ser reprimido e penalizado. No entanto, também falta fiscalização, o governo tem que monitorar, vigiar, agir e prender. Agora, a retórica da atual administração federal também não ajuda. É pouco diplomática, e o discurso precisa ser calibrado. O Brasil precisa ser, novamente, visto como uma grande potência agroambiental, o que nós, de fato, somos.

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Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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