Confira o artigo completo de José Luiz Tejon sobre como o agronegócio brasileiro se relaciona com o sucesso das bilheterias.
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Curiosa pergunta que me foi feita por um amigo taxista muito vivaz, o Xavier. E claro, a sua associação nessa questão era com “montanhas de pipoca”, doces, balas e refrigerantes vendidos nas sessões de cinema nesse recorde de público no Brasil e no mundo. Como o agro é pop e é tudo, Xavier fez uma conta mental, conectando a Barbie com a venda de produtos do agronegócio. Brilhante.
Mas quero aqui fazer outra inferência, bastante provocativa e instigante: se é possível por meio de uma boneca criar uma comoção positiva, que através dos corações conduz racionalmente bilhões de espectadores ao cinema e às compras, engajando públicos de todas as idades, gêneros e culturas, por que reclamamos tanto no Brasil que não temos a justa e merecida imagem do agro brasileiro? A mesma pergunta vale para múltiplas marcas de produtos e serviços que superam preconceitos, ataques, detratores e obtêm consumidores fiéis e apaixonados mundo afora.
Fenômenos como: Coca-Cola, Starbucks, McDonald’s, batatas Lays e Ruffles, Heineken, Louis Vuitton, champagne, etc., etc., todos derivados do sistema de agronegócio. O que essas corporações fazem que inspirariam o agronegócio brasileiro a fazer? Simples: administração de marketing. E como definiríamos marketing? Simples: administração total, colocando o ser humano no centro das decisões.
E o ser humano consumidor, foi ele que sabia o que queria, definindo tudo o que temos nos supermercados do mundo? Não. E como Steve Jobs explicava nas palestras da sua Apple, uma maçã mordida: “Consumidores não têm tempo para saber o que querem”. E dava como exemplo a sua empresa, que existia para mudar o mundo, pensar diferente, think different. Ele explicava o que uma campanha publicitária fez pelo consumo e valor do leite nos Estados Unidos, deixando a marca do “bigodinho” branco nos lábios de quem bebe leite: “Isso fez muito mais pelo leite do que todas as explicações racionais”.
Dessa forma, nos autoprovocando, pergunto: o que uma campanha do “beijinho”, do leite, faria pelo consumo desta cadeia produtiva? Lá no EUA, o bigodinho; aqui, o beijinho, já pensaram nisso? Barbies não são pedidas por massas de consumidores, são imaginadas, criadas e apresentadas às pessoas que apenas descobrem que as amam e querem muito depois que seus sonhos inconscientes são revelados pelos criativos do mundo. Tecnologias agrícolas também não.
Bartz e Frank, ao lado do Nonô e poucos visionários, inventaram o plantio direto no início dos anos 70, eram chamados de loucos; Secundino lançou as sementes híbridas de milho em 1945, ninguém queria; Nishimura queria vender pulverizadores de baixa pressão e vazão, valorizando as microgotículas e não a enxurrada de defensivos — poucos aderiram. Nos anos 80, engenharia genética nas sementes era chamada de “ficção científica”.
Enfim, tudo o que existe foi inventado, criado e vendido por alguns para depois se transformar em um mercado de muitos. Ah, mas o agronegócio é diferente, escuto dizer. Será? Também ouço que de nada adiantaria a melhor estratégia de comunicação se não resolvêssemos todas as nossas imperfeições, incluindo o fim da ilegalidade.
Quer dizer, mesmo com um plano maravilhoso, sonho de consumo da sociedade planetária como ABC (agricultura de baixo carbono); como cadeias produtivas descarbonizantes; ILPF (integração lavoura pecuária e floresta); projetos agroflorestais sustentáveis, gerando biocombustível verde; incorporação de 40 milhões de áreas degradadas no alimento e energia, resgatando carbono; biogás, transformando o metano em bioeletricidade, biofertilizantes e biometano, etc., etc., mesmo assim precisaríamos esperar sermos “perfeitos”. Quer dizer, nunca iríamos nos comunicar, pois perfeição pronta não existe, tudo na vida estará sempre em estado de aperfeiçoamento.
O que diríamos do café da Colômbia? Precisaria esperar o país eliminar todos os seus conflitos para dizer ao mundo que existe e conquistar o share of mind do melhor café com Juan Valdez? E a Nova Zelândia com seus lácteos, a Argentina com as carnes, o Peru com o café orgânico, o Chile com salmão e frutas, a França com seus terroirs, o Egito com o Algodão, a Rússia com o trigo, a Ucrânia com girassóis, os EUA e seus grãos, a Espanha com suas maçãs e a sidra, o México com a tequila, a Itália com a gastronomia, a Nova Caledônia com a aquacultura, etc., todos precisariam esperar serem perfeitos os seus países para comunicar o que têm e fazem muito bem feito? Lógico que não.
Portanto, já passou dos limites o Brasil — potência alimentar, energética e sustentável tropical — não conduzir os destinos da sua própria imagem.
Talvez seja necessário um olhar para si mesmo na busca da autoimagem. Como na história do “Patinho Feio”, de Hans Christian Andersen, ele só descobre a si mesmo depois de ver aves lindas voando e, ao olhar para o espelho d’água, refletido no lago, se deslumbra com o que vê — ele não é um pato, e sim um cisne.
O Brasil, no cinturão tropical do planeta Terra, tem missões significativas na dignidade humana, no combate à miséria, pobreza e fome, além de produzir, vender, agregar valor, tem educação, ciência e tecnologia para servir a bilhões de seres humanos habitantes de biomas como os nossos e carentes de evolução.
Não somos perfeitos, temos muita coisa para aperfeiçoar e muito crime para combater, porém temos exemplos admiráveis, como destacaria o sociólogo italiano Domenico De Masi: “O Brasil é uma admirável sociedade tropical reunindo e misturando todos os povos do planeta”. Quem sabe chegou a hora do “voo do cisne” para enfrentar um complexo de “patinho feio”. Talvez a Barbie explique.
José Luiz Tejon
TCA International