Nos últimos anos, movimentos ligados ao agronegócio buscam atualizar a forma que o setor é retratado em materiais didáticos
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Para milhões de brasileiros, o agronegócio é gerador de emprego e renda, um importante fornecedor de matérias-primas para o mundo, inclusive ao Brasil, bem como um setor que está em constante evolução, alinhado com pautas sociais e ambientais. Porém, essa não é a imagem que grande parte da população — especialmente a urbana — enxerga. A maior parte desse problema está na forma que o setor é retratado nas escolas.
Em materiais de divulgação do movimento, Letícia Zamperlini relata que observou isso no material escolar da própria filha. Os livros mostravam uma visão extremamente negativa das propriedades e dos produtores rurais — bem diferente da realidade que a própria Letícia, ligada ao agronegócio, vive todos os dias. Ela conta que, a partir disso, começou a debater o assunto com amigas. Juntas, elas criaram o movimento De Olho no Material, que já conta com milhares de apoiadores nas redes sociais.
A ideia do movimento é incentivar os pais a analisar criticamente as informações que seus filhos recebem sobre o agronegócio. O grupo também convida professores para conhecerem as propriedades rurais e os métodos de produção, além de marcar reuniões com editoras que fornecem livros didáticos — para que revejam seus conceitos do agro.
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Além do De Olho no Material, é possível destacar iniciativas como o Todos a uma Só Voz, iniciado em 2021, que une diversas entidades e empresas do agro pela causa. Já o projeto Agronegócio nas Escolas, da Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto (Abag/RP), tem mais de 20 anos de atuação — impactando mais de 255 mil estudantes e cerca de 3,4 mil professores.
De modo geral, essas iniciativas mostram que o retrato do agronegócio nos livros didáticos é baseado em apontamentos de contaminação do meio ambiente, uso de técnicas que destroem o solo, maus-tratos a animais e exploração de trabalhadores ou indígenas. São críticas que não correspondem à totalidade da realidade do setor neste século, até porque essas atitudes negativas atrapalham a produtividade.
Portanto, as iniciativas buscam mostrar o agro como um setor que evoluiu ao longo do tempo, passando a se preocupar com o meio ambiente. Além disso, agregou tecnologias de ponta aos seus processos e é uma boa opção de carreira para diversas áreas de estudo. Eles sugerem o uso de fontes mais fidedignas, como as pesquisas das universidades ou da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para elaboração dos materiais didáticos.
Pensando em formas de atualizar o ensino sobre agronegócio no Brasil, o movimento Todos a Uma Só Voz criou uma cartilha com orientações para professores e escolas em parceria com a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep).
Ela sugere dez temas para debate em sala de aula, como cooperativismo, aproveitamento de alimentos e agricultura digital. Também sugere abordagens lúdicas — criando até uma série infantil em áudio, disponível para download.
O movimento De Olho no Material, por sua vez, tem reportado avanços, com mudanças em novas edições de livros e participações de destaque em eventos de educação. São esforços ainda incipientes, mas que começam a provocar resultados que serão percebidos nas próximas gerações.
Entretanto, também é importante observar que outros setores fazem críticas a essas iniciativas, temendo que elas possam prejudicar a autonomia dos professores — o que os representantes não afirmam ser o objetivo.
Fonte: Movimento Todos a Uma Só Voz, Movimento “De Olho no Material”, Le Monde Diplomatique