Saiba quais são os efeitos da invasão da Rússia à Ucrânia para o comércio mundial de grãos e os riscos de insegurança alimentar para milhões de pessoas
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Em março, a invasão russa à Ucrânia completou um mês. Apesar das expectativas de que o conflito fosse resolvido rapidamente e com negociações diplomáticas, as conversas têm avançado pouco. Além das vidas perdidas nos confrontos e da crise humanitária gerada pelos refugiados ucranianos, o conflito no Leste Europeu pode gerar consequências ainda mais abrangentes, colocando a segurança alimentar de milhões de pessoas em risco.
Juntas, Rússia e Ucrânia são responsáveis por 27% das exportações globais de trigo, 18% de milho e 77% de óleo de girassol. O trigo representa 20% das ingestões mundiais de calorias; quando também são considerados o milho e o arroz, esses três cereais correspondem a 40% das ingestões de calorias globais.
Uma crise dessas proporções, que diminui a oferta dos produtos e eleva o preço desses itens, já tem feito muitos países sofrerem desabastecimento. Os países mais pobres e os que dependem dos grãos do Leste Europeu são os primeiros a serem afetados. É o caso do Sudão, que importa da Rússia 90% do trigo que consome, passando agora por uma grande crise humanitária após um golpe militar. A inflação somada ao desabastecimento de trigo já fez o preço do pão aumentar dez vezes desde outubro, e cerca de 20 milhões de pessoas podem estar abaixo da linha da pobreza.
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O Programa Mundial de Alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que, com o início do conflito e com as sanções impostas à Rússia, 13,5 milhões de toneladas de trigo e 16 milhões de toneladas de milho já tenham sido impedidas de alcançar destinos internacionais.
Além de cerca de 30% das terras produtivas ucranianas estarem em zonas de combate, os dois países têm problemas com a logística de exportação. A cidade ucraniana portuária de Mariupol foi capturada por tropas russas, e todo o escoamento dos países pelo Mar Negro foi suspenso. A rede ferroviária ucraniana não é suficiente para exportar grãos pela Polônia, então o país está sem conseguir produzir e exportar no ritmo normal.
A Rússia enfrenta um problema diferente. As sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e pela Europa são as mais pesadas já vistas. Além do cancelamento direto de negócios de alguns países, algumas nações estão impedidas de importar produtos russos, já que a Rússia está praticamente excluída do sistema internacional de transações financeiras (Swift). Assim, mesmo aquelas que não romperam relações com o Kremlin, como o Brasil, não conseguem fazer pagamentos, o que impede as transações.
A elevação do preço do petróleo desde o início dos confrontos e o aumento dos custos de transporte e de seguros de embarcações marítimas (que já subiu 70%) também são efeitos colaterais da guerra no Leste Europeu e impactam diretamente os preços dos alimentos em todo o mundo — os quais já estavam em alta devido à pandemia de covid-19.
O Brasil importa cerca de 50% do trigo consumido no mercado interno. Em um primeiro momento, o desabastecimento não é um risco, uma vez que os maiores parceiros comerciais nesse setor são do Mercosul, com destaque para a Argentina. A elevação do preço internacional do trigo, porém, pode ter efeitos em todos os derivados do cereal, como pães, macarrão e biscoitos.
Com relação ao milho, no início do confronto produtores e especialistas acreditaram que a maior demanda por exportação e a baixa oferta mundial poderiam fazer o produto alcançar valores elevados de até R$ 130 por saca. No primeiro mês de confronto, entretanto, as previsões se mostraram exageradas.
A demanda externa não foi tão alta, e o mercado interno está abastecido, por isso o produto está sendo vendido abaixo de R$ 100 nas principais praças brasileiras, mas esse preço ainda é elevado, e a continuidade do conflito pode aumentar o problema. O valor do milho influencia diretamente o preço das carnes para os consumidores, já que o grão é uma das matérias-primas das rações dos rebanhos.
Fonte: Insper, Portal do Agronegócio, SwissInfo.