Segundo CEO da JBS, tempo curto para mudança de hábitos exige rapidez
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Entrevista com Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS
Por Mauricio Oliveira
Uma das maiores produtoras mundiais de alimentos, a JBS assumiu o compromisso de ser Net Zero até 2040 – ou seja, zerar o balanço de suas emissões de gases causadores do efeito estufa. Para isso, além de reduzir suas emissões, diretas e indiretas, a empresa promete compensar toda a emissão residual. “Vamos investir US$ 1 bilhão até 2030 para aumentar a nossa eficiência”, diz o CEO, Gilberto Tomazoni.
É preciso lembrar que o agronegócio tem o papel fundamental de alimentar uma população que vai continuar crescendo. Precisamos trabalhar para alimentar essa população de maneira cada vez mais sustentável. O jeito que a gente vem fazendo precisa mudar e o tempo é curto, porque poderemos chegar a um ponto de não retorno. O nosso programa Net Zero tem esse objetivo, de gerar ações efetivas.
Quando há desmatamento, é porque não estão sendo utilizadas as melhores práticas de produção. O Brasil tem uma grande oportunidade, por meio da pecuária moderna e da agricultura regenerativa, de mostrar que o agronegócio é parte da solução, e não parte do problema.
Hoje nós temos, no bioma amazônico, cerca de 50 mil fornecedores. Desses, 11 mil já estão bloqueados, por falta de comprovação de que atendem a nossa política de desmatamento zero ou por outros fatores.
Mas nós lidamos com uma cadeia muito fragmentada de fornecedores, espalhada por um território amplo. Temos os fornecedores diretos e os fornecedores dos nossos fornecedores. Não havia como monitorar nesse nível, mas agora a tecnologia de blockchain permite que tenhamos informações ao longo de toda a cadeia.
Colocamos uma plataforma em construção no ano passado e estamos no processo de conscientização e integração dos fornecedores dos nossos fornecedores. Vamos garantir que, até 2025, 100% deles estejam sendo monitorados. E não vamos comprar daqueles que não estiverem enquadrados em nossas políticas.
Dependemos do engajamento das pessoas, porque é um processo voluntário. Precisamos mostrar que, se o produtor adotar práticas mais modernas e sustentáveis, vai produzir mais e emitir menos. Uma propriedade que integra pecuária, produção de grãos e reflorestamento consegue aumentar a renda e sequestrar carbono, em vez de emitir. Nesse cenário, a decisão fica muito fácil e lógica.
Para impulsionar esse trabalho de conscientização, estamos montando 13 escritórios verdes no bioma amazônico. Essas bases vão ajudar os fornecedores a adotar práticas modernas e, também, a resolver problemas fundiários, apoiando o processo de adequação à legislação.
Criamos o Fundo Amazônia e queremos que esse fundo alcance pelo menos R$ 1 bilhão até 2025. Garantimos R$ 250 milhões e colocaremos mais um real para cada real que chegar de contribuição externa. O fundo trabalha a conservação e recuperação de florestas, mas também o desenvolvimento social e econômico das comunidades na Amazônia, onde vivem mais de 23 milhões de pessoas.
A gente foi entendendo como esse problema do carbono é sério, o quão impactante ele é. Hoje, em vez de dizer que temos uma estratégia de sustentabilidade ou de ESG, estamos dizendo que a nossa estratégia é a sustentabilidade.
Nossos negócios precisam se subordinar a essa estratégia. Todas as decisões que vamos tomar, em qualquer área da empresa. O mesmo engajamento que estamos fazendo com nossos fornecedores de gado se aplica aos fornecedores de todos os outros tipos.
Mas a decisão não tem que ser porque alguém está pressionando, e sim por acreditar que isso é o certo a fazer, em primeiro lugar, e também porque é a única solução. Nós estamos no desabrochar de uma indústria poderosa, que é a indústria verde. Tudo isso que estamos falando não é uma ameaça para empresas e países, e sim uma grande oportunidade. Trata-se de uma nova revolução industrial.