O agro brasileiro pode ser tão moderno fora quanto dentro da porteira - Summit Agro

O agro brasileiro pode ser tão moderno fora quanto dentro da porteira

15 de abril de 2021 5 mins. de leitura

Entenda como o agronegócio brasileiro pode se modernizar de ponta a ponta

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Alexandre Borges*

O agro brasileiro é orgulho nacional e referência para o mundo. É dos poucos setores nos quais o país se coloca efetivamente entre os líderes globais e que, apesar das seguidas crises econômicas nacionais, segue continuamente em crescimento. Todo este avanço nas últimas décadas foi fortemente impulsionado por aquilo que acontece dentro da porteira das fazendas.

As produtividades das lavouras avançaram enormemente e foram fruto de muita pesquisa e inovação de todos os envolvidos no setor, além de muita coragem e garra de produtores rurais para adotar novas práticas. 

Todo este avanço dentro da porteira permitiu imensa evolução nos volumes produzidos, em montantes exportados, em práticas mais sustentáveis e em geração de riqueza. Todavia, este grande desenvolvimento dentro da porteira não foi acompanhado por inovações fora da porteira. As produções crescentes ainda esbarram em grandes entraves na comercialização, na logística, no financiamento e em tantos outros aspectos que ainda atrasaram um maior florescimento do agro brasileiro.

Os lentos, assimétricos e ineficientes processos de comercialização, ainda conduzidos por telefone, não combinam com a alta velocidade e incessantes mudanças nas cotações das commodities agrícolas nos mercados globais, e que influenciam diretamente os preços locais.

Adicionalmente, a difícil missão de transportar as riquezas produzidas no campo encontram fortes e históricos obstáculos logísticos, sejam pelas precárias condições das estradas, pela falta de ferrovias, por gargalos e lentidão nos portos ou ainda pela baixa integração de toda a cadeia.

Existem também as dificuldades relacionadas ao mercado financeiro, tão essencial para uma atividade de uso intensivo de capital como a agricultura. A concentração (e falta) de crédito bancário, a lentidão e ineficiência nos processos de análise e cobrança, além da baixa capilaridade e acesso, somam-se aos demais elementos fora da porteira que atrapalham um maior crescimento do agronegócio brasileiro.

Tem-se, portanto, uma dicotomia entre a moderníssima realidade dentro de boa parte das fazendas, enquanto, do lado de fora, o setor agropecuário ainda sofre com entraves já superados por outros segmentos há muitos anos.

Isso, entretanto, tem começado a mudar recentemente. São cada vez mais fortes os novos ares da inovação e das soluções tecnológicas também fora das porteiras. Contribuem para isso as empresas logísticas mais conectadas e digitais, aumentando sua eficiência e otimizando o uso da infraestrutura nacional (que, sejamos justos, também tem avançado um pouco mais nos últimos anos, com um ambiente de negócios mais amigável aos investimentos). Também são exemplos desse avanço o movimento de consolidação das revendas trazendo capital novo para o setor e profissionalizando seus processos, além dos crescentes investimentos em tecnologia que grandes players já estabelecidos, como tradings, indústrias e cooperativas, tem feito nos últimos anos, com cada vez mais programas de inovação aberta e adoção de novas soluções tecnológicas. Vale ressaltar ainda a grande contribuição das startups voltadas para estes desafios de fora da porteira e que combinam processos ágeis, crescimento exponencial e postura empreendedora para apoiar na modernização de todo o setor, seja com marketplaces digitais, novas formas de análise e concessão de crédito, maior uso de dados para melhor tomada de decisões, entre tantas outras áreas em que as startups têm inovado de forma efetiva.

Tais iniciativas, porém, não teriam sucesso se fossem desenvolvidas em um cenário onde os beneficiários finais, produtores rurais e empresas do agro, não tivessem uma mentalidade aberta para a adoção das tecnologias. Este, felizmente, não é o caso do Brasil, pois o produtor brasileiro tem em seu DNA a inovação e o profundo desejo de evoluir continuamente. Prova disso é toda a revolução promovida dentro da porteira, a qual só foi possível com adoção de muita tecnologia e mudanças profundas nos processos e práticas arraigados por décadas.

O produtor rural brasileiro e as empresas agrícolas do país estão sim abertos e interessados nestas inovações também fora da porteira. Tal fato pode ser comprovado tanto por pesquisas recentes, como da renomada consultoria McKinsey que mostrou a alta disposição de agricultores em adotar inovações digitais, como também pelo grande crescimento das startups no agronegócio brasileiro, com rodadas de investimento cada vez maiores e a atração de grandes talentos de outros segmentos.

O Brasil é, portanto, terreno fértil para a inovação também fora dos limites das fazendas. Será esta combinação dos elementos dentro e fora das porteiras que continuará mantendo o país como referência mundial e ampliar seu papel de protagonismo.

Destacando ainda que estes movimentos de inovação em solo nacional podem também permitir que o Brasil siga alimentando o mundo, não só com seus produtos agrícolas cada vez mais sustentáveis, mas também com novos modelos de negócio, novas tecnologias e novos empreendedores que podem sim ampliar seus impactos positivos para além das fronteiras brasileiras. Fica aqui o incentivo: vamos juntos! O Brasil dentro e fora da porteira sendo líder na agricultura mundial!
 
*Alexandre Borges é CEO da Grão Direto, empresa associada da Esalqtec – Incubadora Tecnológica da Esalq/USP

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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