Crise econômica no país vizinho afeta a indústria brasileira
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Desde meados de 2018, a Argentina vem sofrendo com uma crise cambial que está afetando severamente sua economia, fazendo o país passar por momentos de recessão. Em 2019, logo após as eleições que levaram Alberto Fernández ao poder, a situação se agravou, com reflexos nas exportações do Brasil para o País vizinho e na nossa indústria.
Logo após as eleições, o peso argentino desvalorizou ainda mais, as ações despencaram e a inflação foi às alturas. Para se ter uma ideia, em dezembro de 2019, a inflação acumulada do ano alcançou 53%. Diante desse cenário, o ex-Presidente Mauricio Macri, antes de deixar o comando do país, anunciou que a Argentina iria renegociar suas dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com credores privados, a fim de conseguir mais tempo para pagá-las. Essas medidas tiveram como consequência a desconfiança do mercado financeiro, a elevação do risco-país e o medo de a Argentina não conseguir pagar o que deve.
A desvalorização da moeda reduz o poder de compras dos argentinos, inclusive em relação às mercadorias brasileiras. Apesar de os bens industrializados representarem a maior parte da queda das exportações para o país vizinho, produtos de todos os setores foram afetados pela crise econômica.
A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, em especial em produtos manufaturados, aqueles com maior valor agregado, então uma queda nas exportações gera graves consequências na indústria nacional, que já está sentindo os reflexos dessa crise. Um dado da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) mostra que entre janeiro e julho de 2019 as exportações ao país vizinho registraram queda de 40% em relação ao mesmo período de 2018.
Empresários temem que o Brasil volte a ter um déficit comercial e consideram que o pedido feito pelo governo argentino ao FMI sinaliza que podem acontecer atrasos e até mesmo falta de pagamento para as exportações já feitas. Os setores que têm a Argentina como principal parceiro comercial, como o automotivo e o de calçados, estão em alerta para que um novo colapso na economia por lá não interfira nos resultados esperados.
O recuo representou perda de cerca de US$ 4 bilhões. As exportações renderam ao Brasil, em 2018, US$ 9,9 bilhões; em 2019, o valor foi de apenas US$ 5,9 bilhões, uma queda de 40%. Se compararmos o primeiro bimestre de 2018 com o mesmo período de 2019, a perda foi ainda maior, chegando a 43%.
A crise argentina tem afetado, em especial, a economia de municípios brasileiros que são mais dependentes das exportações. São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, é a cidade brasileira que mais exporta para a Argentina em valores brutos. O município é um dos principais polos automotivos do País e sede de fábricas da Mercedes, Toyota e Volkswagen, tendo a Argentina como destino de 32% de toda a exportação local. No começo do ano passado, as exportações caíram 69%.
Já em Porto Real, no interior do Rio de Janeiro, a situação é ainda mais crítica, já que destina 92% da sua produção para o mercado argentino. Em 2019, a cidade registrou uma queda de 60% nas exportações; as vendas diminuíram de US$ 226,8 milhões, registradas entre janeiro e maio de 2018, para US$ 90 milhões nos 5 primeiros meses de 2019, um impacto de quase 40% nas exportações totais do município fluminense.
Fontes: EBC