Coronavírus derruba preço global do algodão - Summit Agro

Coronavírus derruba preço global do algodão

12 de março de 2020 4 mins. de leitura

Ainda é cedo para avaliar o impacto da epidemia sobre o mercado da commodity em longo prazo

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Antes de as primeiras notícias da epidemia de coronavírus surgirem, o preço do algodão na Bolsa de Nova York estava em uma tendência de alta recente, perto de 72 centavos por libra-peso. À medida em que a epidemia se espalhou pela China continental e pelo mundo, o valor da commodity chegou a cair 7%, ficando abaixo de 67 centavos por libra-peso no início de fevereiro.

Qualquer sinal de interrupção nos envios de algodão para a China pode impactar os preços que vinham se recuperando nos últimos três anos. Embora o país asiático seja um grande produtor de algodão, também é o maior importador do mundo.

(Fonte: Shutterstock)

Em 2019, o Brasil ultrapassou a Índia e alcançou a segunda posição no ranking mundial de países exportadores de algodão, atrás apenas dos Estados Unidos. A China é o principal comprador do produto brasileiro, ficando com 34% do total nacional exportado.

Na Índia, a Kotak Commodity Services, um dos principais exportadores de algodão do país, decidiu deixar de vender novas cargas para a China. A empresa está preocupada com a possibilidade de fechamento de portos e bancos chineses por causa da epidemia do coronavírus e procura compradores em outros países.

A China Central, onde Hubei, uma das províncias mais afetadas pelo vírus, está localizada, parou. Todas as ligações de transporte foram cortadas em meio ao bloqueio; a passagem pelo rio Yangtze, que se estende de um extremo ao outro do território chinês, tornou-se impossível; o transporte terrestre é limitado. Se o vírus se espalhar mais, o cenário pode se tornar caótico, com bloqueios logísticos e interrupção na indústria têxtil.

Opinião de produtores brasileiros de algodão

(Fonte: Shutterstock)

Em comunicado à imprensa, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Milton Garbugio, avaliou com cautela o impacto do coronavírus nas exportações nacionais. “Hoje é a China quem dá o ritmo do mercado no globo, e, literalmente, um espirro que vem de lá pode chacoalhar a economia mundial. Acreditamos que o trade deal não põe em risco a nossa posição, pois os Estados Unidos terão de ser competitivos para vender para a China na quantidade e qualidade que eles se propõem a comprar”, explicou.

A entidade realiza ações de marketing internacional para aumentar a presença do algodão brasileiro na Ásia por meio de convênio com o Ministério das Relações Exteriores via Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex) e Associação Brasileira de Exportadores de Algodão (Anea).

“A produção e o consumo de algodão no mundo estão equiparados, em torno de 26 milhões de toneladas de pluma, com a produção ligeiramente mais alta. Nós temos dois milhões de toneladas que precisam ser exportadas e serão. É uma questão de rearranjo de mercado. Mas é fato que os chineses gostam do algodão brasileiro, o que obriga os americanos a serem competitivos”, afirmou Garbugio.

Para o presidente da Anea, Henrique Snitcovski, é importante lembrar que o algodão norte-americano representou praticamente metade das importações chinesas antes da guerra tarifária entre EUA e China, iniciada em 2018. O Brasil, assim, poderia preencher a lacuna deixada pelos Estados Unidos.

Em comunicado à imprensa, Snitcovski indicou que “a China tem o Brasil como um fornecedor estratégico e importante. Precisamos acompanhar de perto se haverá um movimento ‘mandatário’ que favoreça o algodão americano, considerando que o Brasil esteja competitivo em preço e qualidade no mesmo momento”.

Economia chinesa pode se recuperar no próximo trimestre

O estrategista-chefe de investimento do CommerzBank, banco líder no segmento de comércio exterior na Alemanha, em vídeo publicado no site oficial, avaliou que “a incerteza sobre a disseminação do coronavírus e o impacto na economia global permanece alta e ocupará os mercados financeiros nas próximas semanas, embora os mercados de ações já tenham se recuperado significativamente”.

O banco alemão espera uma redução do Produto Interno Bruto (PIB) real chinês em 2% no primeiro trimestre de 2020, mas aponta uma tendência de crescimento na economia no segundo trimestre. No entanto, tudo dependerá de como a epidemia vai se comportar nas próximas semanas e se o coronavírus será controlado.

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Fontes: Abrapa; Bloomberg

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