Confira os principais destaques do primeiro painel do Summit Agro 2020
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O primeiro painel do Estadão Summit Agro 2020, realizado nesta segunda-feira (23), tratou de um problema central para o agronegócio brasileiro: o desmatamento, principal responsável pelas queimadas que afetaram a Amazônia e o Cerrado recentemente e que coloca em xeque o papel do País como potência agroambiental.
Como melhorar a reputação do Brasil nesse cenário? Essa foi a questão que abriu o painel realizado sob mediação do jornalista Gustavo Porto e que contou com cinco executivos ligados ao tema:
Para Guimarães, trata-se de uma questão central para a consolidação do Brasil no mercado externo. Segundo o diretor do Ipam, é necessário restabelecer canais de diálogo com parceiros comerciais e investidores e promover a entrada em mais mercados. Se o desmatamento está no centro de críticas internacionais, é oportuno também localizá-lo do ponto de vista interno, para além da reputação e da inserção no mercado internacional.
Como 90% da agricultura brasileira não é irrigada e depende do ciclo de chuvas, as consequências do desmatamento não são apenas um problema de reputação, por isso o desmatamento deve ter uma sinalização de combate, gerando harmonia no campo e desenvolvimento sustentável.
Lima, diretor da Arcos Dourados, uma das maiores franquias da rede McDonald’s no mundo, aponta no mesmo sentido: “Nossos planejamentos são públicos e de longuíssima data. É a nossa reputação que está em jogo, independentemente de os ventos estarem mais a favor ou menos a favor. Somos signatários de compromissos firmados sobre o conhecimento científico”.
Para Nassar, da Abiove, é importante ter uma narrativa que facilite a apresentação do agronegócio brasileiro, e esse alinhamento de discurso deve vir, sobretudo, por parte do governo. Segundo o executivo, talvez não seja possível mudar a forma como o governo pensa, mas é necessário que em 2021 haja um “discurso com começo, meio e fim”, mesmo que isso não agrade alguns setores.
Um exemplo das tensões atuais é a recente saída da Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja) da Abag, por isso o presidente da associação, Marcello Brito, defende que o agronegócio brasileiro deve ter uma agenda positiva. Isso fica nítido na questão da Amazônia, historicamente subconsiderada no projeto nacional: em vez de se falar reativamente do desmatamento ocorrido, deve-se tratar dos benefícios de se ter a floresta em pé.
“A sociedade precisa olhar para a floresta protegida e saber qual é sua ambição: qual é a vantagem para o Brasil?”, defende. Isso pode ser um benefício competitivo importante, sobretudo porque há poucas vulnerabilidades no agronegócio brasileiro. Nesse sentido, pode-se reverter a campanha: “Sou o melhor agro do mundo; além disso, tenho políticas sólidas para a preservação da Amazônia”, exemplifica Britto. Trata-se, portanto, de uma articulação sobre a questão que não deve obedecer a aspectos partidários, mas ser tratada de forma política em uma compreensão mais ampla.
Guimarães concorda. Segundo ele, a preservação da Amazônia deve ser vista como um ativo brasileiro: “Devemos vender o fato de a soja brasileira preservar o Cerrado e a Amazônia”. Mas, para isso, deve-se ter uma política firme, que concilie produtividade e outra forma de lidar com o meio ambiente. “Não será o modelo expansionista da década de 1960”, comenta.
Para Lohbauer, da CropLife Brasil, o País tem condições de se diferenciar em aspectos ligados à defesa e à tecnologia vegetal. Isso passaria, segundo ele, por superar a visão crítica sobre os transgênicos e a baixa segurança alimentar da produção brasileira.
Esse é o binômio que deve pautar a produção do agronegócio brasileiro, de acordo com Lima. Segundo o executivo, é necessário ter uma agenda positiva, que demonstre que a preservação do meio ambiente não é divergente das necessidades produtivas. “Quase tudo o que vendemos no Brasil vem do Brasil. As variações climáticas, de insumo, não são repassadas ao consumidor; logo, isso afeta a organização”, explica.
Além disso, é necessário que a sociedade civil se organize para implementar uma política mais consistente de conservação ambiental, a exemplo do que ocorre no Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS). “Quando se pensa em sustentabilidade, pensamos em eficiência e produtividade. Isso é importante porque queremos fazer negócios agora e daqui a 50 anos, então não podemos destruir as áreas produtivas”, diz.
Britto concorda: “De todas as empresas que fizeram a lição de casa ambiental, qual quebrou a cara no mercado? Praticamente nenhuma”. Lima entende que se deve pensar em formas de ensinar às novas gerações a importância do assunto: “Existe uma total desinformação do consumidor, que é bombardeado por tantas informações que fica confuso. Por isso, queremos que nossos restaurantes sejam pontos de distribuição de informação, a começar pelos colaboradores”.