Microrganismos podem reduzir efeitos da seca em culturas como soja, milho e trigo
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Uma equipe de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) descobriu um grupo de bactérias que podem ser capazes de ajudar as plantas a sofrerem menos com a seca e ainda favorecer o crescimento dos vegetais. Os microrganismos conseguem hidratar as raízes das plantas e até interferir na fisiologia delas para aumentar a resistência à falta de água. A pesquisa comprovou que culturas como soja, milho e trigo podem ser beneficiadas.
Os cientistas pretendem viabilizar o uso desses organismos para tratamento de sementes de várias espécies, principalmente as muito sensíveis à falta de água em regiões com pouca chuva, como o semiárido nordestino.
O estudo foi realizado como parte da tese de doutorado de Vanessa Nessner Kavamura, da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), orientada pelo professor Itamar Soares de Melo.
A inspiração para o estudo veio das xerófitas da caatinga, que são adaptadas a climas semiáridos e desérticos. Esses vegetais se associam a bactérias que ajudam a desenvolver mecanismos de proteção celular contra o estresse hídrico, bem como proteção vegetal contra a desidratação.
Os cientistas procuraram entender como se dá a interação entre os microrganismos e as cactáceas da região e coletaram amostras ao longo da caatinga em cinco estados: Bahia, Ceará, Piauí, Paraíba e Rio Grande do Norte. Foram analisadas comunidades bacterianas em torno do solo e das raízes de mandacaru tanto no período chuvoso como no de seca. Com isso, foi possível verificar grupos dominantes e analisar as funções que pudessem realizar a interação solo-cacto-microrganismo durante a seca.
Dois grupos de bactérias foram identificados em períodos distintos. Durante a chuva, foram abundantes os filos Proteobacteria e Bacteroidetes, enquanto no período seco predominaram o filo Actinobacteria e o gênero Bacillus. Os cientistas, então, isolaram as linhagens pertencentes ao gênero Bacillus, que se desenvolvem com reduzida quantidade de água no meio e são capazes de utilizar alguns mecanismos de proteção contra a dessecação.
O estudo identificou que essas bactérias também promovem o crescimento direto ou indireto das plantas, por meio de produção de fito-hormônio, disponibilização de fósforo por meio de solubilização, fixação de nitrogênio e redução de efeitos negativos do estresse causados por etileno.
A pesquisa indica que os microrganismos tolerantes à seca, quando colonizam as raízes das plantas sob estresse hídrico, são capazes de produzir substâncias chamadas exopolissacarídeos, que hidratam o sistema radicular. Para conseguir unir a comunidade bacteriana à raiz do vegetal, o procedimento é bem simples: basta misturar os microrganismos a sementes em uma solução líquida, que pode ser água, na hora do plantio.
As células bacterianas são produzidas em laboratório e preparadas em um composto químico chamado alginato, para poderem ser aplicadas em diferentes espécies de vegetais. O processo pode ser realizado em fermentadores convencionais.
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Fonte: Embrapa.