Produtores migram áreas de cultivo de cana-de-açúcar para soja

19 de novembro de 2020 3 mins. de leitura
Variação cambial diminuiu margens das lavouras de cana-de-açúcar, tornando a soja mais atrativa para agricultores. Entenda por quê.

Produtores estão migrando áreas de cultivo de cana-de-açúcar para a produção de soja por conta do aumento dos custos provocado pela desvalorização cambial ocorrida ao longo de 2020, como aponta um estudo realizado pela Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA).

Esse movimento ocorre, principalmente, pela perda de rentabilidade do setor sucroalcooleiro. Enquanto os preços dos insumos são diretamente atrelados às variações cambiais, os subprodutos da cana são parcialmente influenciados pela moeda norte-americana; em contrapartida, o grão é negociado diretamente em dólar.

Além da garantia de melhor rentabilidade nas lavouras, a migração torna possível a rotação de culturas, importante para a qualidade e a sustentabilidade da produção agrícola. A rotatividade traz benefícios para a qualidade do solo e o controle de pragas, tornando possível a redução de custos por conta da racionalização dos insumos.

Rentabilidade de cana-de-açúcar e soja

Diferença entre rentabilidade da cana e da soja foi aumentada com a valorização do dólar frente ao real ao longo de 2020. (Fonte: Shutterstock)
Diferença entre rentabilidade da cana e da soja foi aumentada com a valorização do dólar frente ao real ao longo de 2020. (Fonte: Shutterstock)

A rentabilidade entre as lavouras de cana-de-açúcar e soja é diferente já há alguns anos. Mesmo antes da recente valorização do grão por conta do impulsionamento do dólar, a margem da soja era significativamente mais alta que a da cana. De acordo com uma análise da CNA, durante a safra 2018/2019, a cultura da oleaginosa apresentou, aproximadamente, margem líquida 10% maior que a da cana-de-açúcar.

A depreciação na produção de cana ao longo de 2020 tende a ser ainda maior quando comparada com a da soja. O grão, ao ter sua receita diretamente indexada ao mercado cambial, pode aproveitar os notáveis ganhos de preços no mercado externo. O mesmo não ocorreu no caso da cana-de-açúcar.

A produção canavieira viu os ganhos no mercado do açúcar serem parcialmente compensados pela queda no preço do petróleo, mas seus custos continuaram indexados ao dólar. Dessa forma, no acumulado até setembro, a remuneração da matéria-prima cresceu 12,04% na safra 2020/2021 ante a safra 2019/2020. Ao mesmo tempo, a inflação medida pelo IGP-DI acumulado em 12 meses alcançou 18,44%.

Avaliação da situação

Migração das lavouras de cana para soja tem de ser bem avaliada pelos produtores, pois tendência de valorização do grão deve ser revertida. (Fonte: Shutterstock)
Migração das lavouras de cana para soja tem de ser bem avaliada pelos produtores, pois tendência de valorização do grão deve ser revertida. (Fonte: Shutterstock)

O relatório alerta que os produtores de cana-de-açúcar devem avaliar a migração de culturas em um contexto mais amplo. O cenário de valorização da soja acontece por conta de fatores atípicos, em especial das consequências da pandemia na economia mundial em combinação com as políticas fiscal e monetária do Brasil.

A situação, ao menos em parte, deve ser revertida em algum momento, como informa a CNA, inclusive pela existência de incentivo ao aumento da área de produção não apenas no Brasil mas também nos EUA. Por isso, a substituição da cultura deve ser pensada com base em previsões e cálculos.

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Fonte: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

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