Líderes do agro querem negociar e não guerrear!

18 de novembro de 2020 5 mins. de leitura
Tejon ouviu outros líderes do agronegócio brasileiro para entender as opiniões em relação à eleição de Joe Biden, o novo presidente dos Estados Unidos

Por José Luiz Tejon Megido*

Estamos ouvindo líderes do agronegócio brasileiro e perguntando sobre suas percepções a respeito da vitória de Joe Biden, o democrata americano que mudará a orientação estratégica das relações dos Estados Unidos com o mundo e, obviamente, impactando todo o agro planetário.

As relações que envolvem o Brasil com os Estados Unidos não estão apenas no aspecto de serem nossos maiores concorrentes a nível global, e também serem importante clientes, apesar de termos nossa balança de exportação e importação levemente deficitária para o Brasil em 2019.

As relações com os Estados Unidos envolvem fortes aspectos na parte científica e tecnológica do antes das porteiras. Ou seja, insumos agrícolas, produtos veterinários.

Tecnologias da informação

Compramos de diversas empresas norte-americanas para fazer nossa agropecuária. E, da mesma forma, nossos produtores rurais comercializam, vendem a produção para grandes e importantíssimas corporações agroindustriais, trading, logística e temos relações financeiras significativas com bolsas dos Estados Unidos.

Dessa forma, o olhar estratégico envolvendo todo o sistema do agribusiness não é resolvido com arroubos e berros contra o futuro presidente Biden, como se a disputa fosse exclusivamente entre nossos agricultores versus o deles.

O relacionamento inclui ciência, tecnologia, tradings e corporações empresariais, sem entrarmos ainda no mérito da imagem da nossa originação perante consumidores finais e as pressões no varejo, redes de fast food e supermercados globais.

Em outras palavras, quando falamos que temos nossos grandes clientes na China, Ásia, Europa, oriente médio, não se esqueçam, o comerciante que leva nossos produtos até lá, em grande maioria é norte americano, assim como sementes, biotecnologia, fertilizantes, vacinas, máquinas e transportadores são norte americanos.

Ouvimos os líderes abaixo e obtivemos suas visões:

Glaucimar Peticov, diretora executiva do Bradesco: “Vejo que a agricultura brasileira é uma das mais sustentáveis e produtivas do mundo. As empresas privadas no Brasil, nos mais diversos setores, estão genuinamente engajadas na sustentabilidade. O Brasil é um parceiro leal, confiável, supridor de alimentos para o mundo, independentemente das relações exteriores do País, sendo que os laços do Brasil e dos Estados Unidos são profundos e consolidados, transcendem governos e ideologias. O setor privado tem todo interesse em uma relação próspera e de benefício mútuo entre as duas nações. Acredito que com Biden e Kamala não será diferente”.

Sebastião da Costa Guedes, líder da pecuária e saúde animal: “Republicanos sempre priorizaram negócios e democratas protegem empregos locais, precisamos aguardar. Recordemos Lord Alec Douglas: “Problemas políticos são insolúveis e problemas econômicos, incompreensivos”. Aguardemos pois…”

Maria Antonieta Guazzelli, presidente do Núcleo Feminino do Agronegócio: “Na minha visão, todo o nosso profissionalismo no agro: tecnologia, sustentabilidade, inovação, etc. serão considerados. Com toda a sua bagagem de vida pessoal e política acredito que haverá bom senso, verdade e equilíbrio na condução das relações com o Brasil especialmente o agronegócio”.

Carmen Pérez, líder da pecuária moderna e bem-estar animal: “Acordos globais. O Brasil se beneficiou da guerra comercial entre China e Estados Unidos as duas maiores nações do planeta. Mas comemorar guerras e disputas nunca é uma boa ideia. Acredito que pensar a nível global tem muito mais sentido a longo prazo, para toda a humanidade”.

Prof. José Mentem, presidente do Conselho Científico do Agro Sustentável: “O agro precisa aprimorar seu relacionamento com todos seus parceiros”.

Marcos Jank, professor de agronegócio global do Insper: “Creio que a principal lição que deveríamos aprender com o retorno dos democratas ao poder nos Estados Unidos é parar de insistir em ver o mundo como cruzadas maniqueístas de uma luta permanente do bem contra o mal entre supostos poderes opostos e incompatíveis… em vez de louvar a amigos e atacar inimigos imaginários, melhor faríamos em identificar claramente nossos interesses externos e desafios imediatos. Se fizermos isso veremos que o nosso maior desafio é simplesmente fazer direito a lição de casa”.

Quando a luta contra o mais ínfimo de todos os inimigos inimagináveis, um vírus, menor do que uma bactéria, exige a cooperação global, imagine as cadeias de alimentos, fibras, agroenergia, papel celulose, medicinais, biotecnologia e distribuição com empreendedorismo e cooperativismo, incluindo meio ambiente e cerca de 570 milhões de propriedades rurais no planeta irão necessitar!?: negociar e não guerrear.

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*José Luiz Tejon Megido é doutor em Educação, mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie; professor de MBA na Audencia Business School, em Nantes, na França; coordenador do Agribusiness Center da Fecap; membro do Conselho da Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, e sócio-diretor da Biomarketing.

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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