A crise logística deflagrada pelo confronto entre Rússia e Ucrânia escancarou um problema do agronegócio brasileiro: a dependência de insumos importados. Sejam fertilizantes, sejam agrodefensivos, os produtores sofreram com a falta de matéria-prima e de produtos, e também com a disparada de preços. Nesse cenário, bioinsumos se mostraram uma solução na busca por alternativas mais sustentáveis e cuja produção nacional já é bastante avançada.
O que são bioinsumos?
Bioinsumos, ou insumos biológicos, são substâncias formuladas com organismos vivos, utilizadas para inibição do crescimento de ervas daninhas, na fertilização do solo e na estimulação de agentes biológicos e microbiológicos de controle de pragas.
Existem cinco tipos principais de bioinsumos:
- condicionadores de ambiente — produtos que estimulam a atividade microbiológica no solo para desenvolver a produção de alimentos;
- biofertilizantes — fertilizantes produzidos por meio de substâncias animais, vegetais ou microbióticas;
- bioestimulantes — produtos provenientes de substâncias naturais que são aplicadas no solo, plantas e até em sementes para incentivar a germinação e desenvolvimento das plantas;
- agentes biológicos de controle — organismos vivos, microbiológicos ou macrobiológicos que controlam pragas de maneira natural, são predadores das principais pragas agrícolas;
- inoculantes biológicos — microrganismos que ajudam na fixação biológica de nitrogênio e outros elementos no solo.
Vantagens e diferenças dos bioinsumos em relação aos produtos tradicionais
Os bioinsumos apresentam uma série de vantagens em relação aos fertilizantes tradicionais, principalmente por não oferecerem riscos ao meio ambiente. Métodos que utilizam bioinsumos exibem maiores taxas de sequestro de carbono e um risco menor de desenvolvimento de resistência nas pragas. Além disso, os bioinsumos aumentam a fertilidade do solo, combatendo o esgotamento dele.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), os bioinsumos são considerados uma das principais soluções para o problema da fome no mundo. A agência estima que, em 2050, a população mundial alcance 9 bilhões de pessoas, e grande parte da produção agrícola do planeta ainda é nociva ao meio ambiente. Bioinsumos e métodos agrícolas mais sustentáveis garantirão o futuro do planeta e reduzirão o risco de contaminação das pessoas por agrotóxicos.
Importância dos bioinsumos brasileiros no mercado mundial
O aumento da preocupação com maneiras mais sustentáveis de produção de alimentos tem fomentado o desenvolvimento do mercado de bioinsumos. Segundo levantamentos da Fortune Business Insights, publicados pela Forbes, estima-se que o mercado global de biopesticidas movimente US$ 6,51 bilhões (cerca de R$ 33,6 bilhões) anualmente. A expectativa é que o número chegue a US$ 18,15 bilhões (R$ 93,7 bilhões) em 2029.
O Brasil é um dos líderes no desenvolvimento da tecnologia de bioinsumos, e de acordo com pesquisa da consultoria Spark Inteligência Estratégica, o mercado atingiu investimentos de R$ 1,7 bilhão na safra 2020/2021. A tendência é que o crescimento siga em passos largos.
A crise gerada pela falta de insumos fez o País repensar a dependência da importação de fertilizantes e pesticidas. Em maio de 2020, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) lançou o Programa Nacional de Bioinsumos para fomentar as pesquisas do setor. Em dezembro de 2022, o Projeto de Lei (PL) que regulamenta o tratamento e a produção de bioinsumos por meio do manejo biológico on farm, foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) na Câmara dos Deputados.
O PL está em votação no Senado e, se for aprovado, deve facilitar a vida de produtores rurais no Brasil. A lei regulamentará a produção agroindustrial de bioinsumos nas próprias fazendas onde serão utilizadas. Conforme estudos citados no projeto, estima-se que os agricultores poderão alcançar uma economia de 70% nos gastos com outros insumos agrícolas.
A lei também diferenciará a produção de bioinsumos de uso próprio dos fabricados para a comercialização. Independentemente da finalidade, os produtos deverão seguir normas rígidas para garantir a segurança alimentar e a ausência de contaminação nos produtos finais.
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Segundo a Agrivalle, a movimentação do mercado de bionematicidas, bioinseticidas, inoculantes e biofungicidas deve alcançar R$ 6,2 bilhões até 2025. O Mapa estima que, até lá, apenas o uso de bioinsumos no controle biológico de pragas possa gerar uma economia de R$ 165 milhões por ano ao setor agrícola nacional, isso porque 97% dos produtos do setor comercializados no País são de fabricação brasileira.
A preocupação com uma agricultura mais sustentável é uma demanda de produtores e consumidores, nacionais e internacionais. Por isso, medidas como o uso de bioinsumos, iniciativas como a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e a agricultura orgânica regenerativa têm conquistado espaço, indicando um futuro promissor para a continuidade do crescimento do agronegócio brasileiro, mantendo o respeito ao meio ambiente.
Fontes: Ministério da Agricultura e Pecuária, Embrapa, Agrivalle, Forbes