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EUA e UE sinalizam boicote a países sem boas práticas ambientais

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Quando o assunto é proteção ambiental, o Brasil vive na corda bamba: de um lado, ambientalistas e cientistas alertam sobre os riscos de afetar biomas com queimadas e desmatamento. De outro, o agronegócio demanda mais área de plantação e é graças a isso que a balança comercial do País tem conseguido alguma estabilidade, sobretudo com a alta do dólar.

E, se essa já é uma equação delicada, há outro elemento que torna a solução ainda mais difícil: os Estados Unidos e a União Europeia anunciaram a discussão de novas normas para a importação de produtos agropecuários, exigindo atestados de que eles não são fruto de desmatamento ilegal. O impacto disso na economia brasileira é bilionário.

Embora a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) defenda que os problemas existentes são mais ligados à grilagem do que aos produtores rurais, queimadas e desmatamento ilegal de biomas ainda são práticas usadas por alguns para a expansão da agropecuária.

A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina, afirmou na Cúpula dos Sistemas Alimentares, realizada há algumas semanas em Nova York, que o governo pretende criar mecanismos não predatórios de aumento de área cultivável. No entanto, não anunciou que alternativas seriam essas.

De uma forma ou de outra, o agro brasileiro precisará criar políticas que assegurem ao mundo a proteção ambiental. Por isso, é importante saber mais sobre as novas políticas comerciais dos Estados Unidos e da Europa, a dinâmica geopolítica por trás delas e como isso afeta os produtores.

Saiba o que Estados Unidos e União Europeia defendem

Biden se elegeu com o compromisso de dar prioridade à temática ambiental, negligenciada por Trump. (Fonte: Michael F. Hiatt/Shutterstock/reprodução)

Após o bombardeio da Síria e uma saída desastrada do Afeganistão, Joe Biden foi criticado por ter uma política externa semelhante à de Donald Trump, conhecido também por políticas econômicas protecionistas e negacionismo ambiental. Mas, ao menos em relação a este último ponto, Biden se diferencia do seu antecessor.

Neste momento, os congressistas estadunidenses debatem uma proposta encabeçada pelos democratas (partido do presidente estadunidense) de vetar a importação de itens cuja produção potencialmente envolve problemas ambientais, como soja, cacau, gado, borracha, óleo de palma, madeira e seus derivados, incluindo toda a cadeia produtiva.

Biden deve bancar a decisão. Ele assumiu a presidência dos Estados Unidos com a promessa de o País retomar ao Acordo de Paris e procurar novas políticas de conformidade ambiental. Portanto, a legislação que afeta o Brasil faz parte de um movimento mais amplo, na tentativa de resgatar a imagem de um governo sensível ao aquecimento global.

Motivos não faltam. Em comparação ao impacto ambiental dos Produtos Internos Brutos dos países, o desmatamento ilegal no Brasil só perde para China e Estados Unidos. Ao considerar o impacto da derrubada de vegetação em uma área, é como se o território das 27 nações da União Europeia tivesse sido alvo de desmatamento entre 1990 e 2020.

E a iniciativa não ocorre apenas com a nova Lei Florestal dos Estados Unidos, que deve se estender ao longo do próximo ano. É justamente a União Europeia que também preocupa o campo do Brasil, já que por lá também tramita uma nova norma que visa barrar a importação dessas mesmas commodities mais intimamente relacionadas ao desmatamento.

No caso dos europeus, o projeto em discussão deve ser aprovado antes e colocar a virada de 2021 para 2022 como um divisor de águas. Quem desmatou até 2021, terá uma espécie de anistia; serão penalizados os produtores que mantiverem más práticas ambientais a partir de 2022. E essa é apenas mais uma das polêmicas envolvendo o debate.

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Mais que meio ambiente: preservação dos biomas é um importante capital econômico e político do Brasil na agenda internacional. (Fonte: AB Visual Arts/Shutterstock/reprodução)

Como é possível perceber, a tentativa de regular esse tema tão delicado tem suscitado dúvidas e críticas por diversos setores. Afinal, embora respondam a um problema concreto e urgente, as medidas dos Estados Unidos e da União Europeia têm sido lidas como mais uma política de protecionismo das principais economias do planeta.

Os números dão valor a essa hipótese. Os Estados Unidos compram US$ 500 milhões/ano apenas do Brasil em itens que seriam afetados. Em relação a esses mesmos produtos, a União Europeia desembolsa 60 bilhões de euros por ano.

Protecionismo ou não, o fato é que o agronegócio brasileiro tem sido chamado a identificar na preservação ambiental um dos seus principais ativos econômicos. Ao se identificar com as pautas que os Estados Unidos e a Europa demandam, seja por preocupação climática, seja por estratégica econômica, o País se torna mais competitivo no cenário mundial.

Isso é importante e vai além do bloco que já se mobiliza. Ainda que a China não seja um exemplo quando o assunto é emissão de gases na atmosfera, o país asiático — que é um dos principais parceiros comerciais do Brasil — tem feito esforços em se distanciar da má fama ambiental. A eletrificação das frotas de cidades inteiras (algumas do tamanho de São Paulo, como Shenzhen) demonstram isso.

Assim, é estratégico que o Brasil entre de cabeça na revisão de suas práticas. Segundo o embaixador brasileiro na União Europeia, Marcos Galvão, em entrevista para a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), muitas críticas ao agro são justas, mas o setor privado tem mostrado sensibilidade ao tema e entendido a necessidade de mudar a realidade. “Nós temos tudo para parar de jogar na defesa e ir para o ataque”, comenta o embaixador.

Portanto, os principais parceiros estratégicos do Brasil estão dando uma centralidade sem precedentes para o meio ambiente. Assegurar a vanguarda nesse processo pode ajudar o País a consolidar uma liderança regional e mundial em preservação dos recursos naturais.

Fonte: Abag.

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