Órgão deve lançar cartilha apresentando benefícios da produção de mel em cultivos de soja
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Existe certa resistência entre apicultores em relação ao uso da soja como pasto apícola, já que o alto volume de agrodefensivos utilizados na cultura do grão pode afetar as abelhas. Porém, descobertas mais recentes mostram que quando o volume de químicos é aplicado de forma correta, o casamento da produção de mel e da produção de soja é benéfico para todos os envolvidos.
Novas práticas de apicultores de diferentes partes do País vêm mostrando que unir a produção do mel com o cultivo da soja é uma ótima maneira de aumentar a produção e, de quebra, ajudar o meio ambiente. Produtores de mel que viam a soja dominar os campos tinham dificuldade em encontrar outras opções de pasto na época de florada, então apostaram nas criações nos campos de soja. Os resultados têm sido surpreendentes.
Segundo a Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.b.e.l.h.a.), produtores já relataram colheita de mais de 23 toneladas de mel com 800 caixas de abelhas criadas apenas com soja. Os experimentos também beneficiam produtores da oleaginosa, com aumento médio de 10% a 15% quando as abelhas estão presentes. Já foram registrados aumentos de 30% a 40% em determinadas localidades.
Para que os resultados sejam alcançados, é fundamental fazer o manejo correto; tanto apicultor quanto agricultor precisam manter as boas práticas. No caso de criadores de abelhas, é preciso utilizar boas caixas e instalá-las corretamente, realizar a substituição periódica da rainha, fazer o manejo dos favos e respeitar o calendário floral. Já produtores de soja precisam realizar o controle de pragas e aplicar as quantidades indicadas de defensivos de maneira correta.
Uma das vantagens para os produtores da commodity que decidem integrar a produção de mel com a de soja é que não há aumento nos custos de produção. Itens como sementes, fertilizantes, diesel e controle de pragas continuam iguais, mas a ação das abelhas intensifica a produtividade.
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De olho nos resultados que a união de soja e mel está gerando, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem realizado estudos para divulgar uma cartilha de boas práticas. O documento terá recomendações para a coexistência de sojicultores e apicultores e deve indicar, também, a melhor maneira de lidar com o manejo de resíduos.
A Embrapa assinou com a BASF, empresa química alemã, um acordo de cooperação técnica e financeira para estudar o assunto na safra 2022/2023. O projeto deve durar três anos e, no fim, gerar a divulgação do Protocolo de Boas Práticas Agrícolas e Apícolas.
Os estudos serão realizados em três importantes polos de produção de soja do Brasil: Maringá (PR), Dourados (MS) e São Gabriel (RS). Dados preliminares que balizam o estudo mostram que a produtividade das lavouras de soja aumenta, em média, 13% quando há a integração com a apicultura. Isso se deve ao incremento no processo de polinização realizado pelas abelhas.
Na safra 2021/2022, a soja ocupou 40 milhões de hectares do território nacional. Presente em quase todas as regiões do País, o grão é o mais cultivado no Brasil, então é normal haver visita de abelhas a áreas de cultivo de soja. Estudos mais detalhados, porém, demonstraram que a espécie das abelhas, a maneira como as colmeias são manejadas e o modo de acesso à soja interferem na produtividade.
Um estudo experimental da Embrapa Soja em Londrina (PR) registrou aumento de produção de 639 quilos por hectare (kg/ha). Os melhores resultados vieram de parcelas abertas, ou seja, de abelhas criadas sem gaiolas.
Por ora, a recomendação da Embrapa é que não se ultrapasse o limite de três colônias por hectare. As abelhas forrageiras se alimentam em um raio de 2,5 quilômetros, e a existência de mais colônias pode gerar competição entre os insetos. Para os apiários, a distância recomendada é de 5 quilômetros. Além disso, é importante manter distância de 500 metros para áreas com trânsito de pessoas e animais e pelo menos 50 metros da lavoura, para evitar a influência de fitossanitários.
Fonte: Embrapa, Ecoa