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A produção de soja pode continuar avançando no Brasil e se tornar uma cultura de carbono neutro até o final da década. Isso é apontado pelo estudo Potencial de Mitigação de Gases de Efeito Estufa das Ações de Descarbonização da Produção de Soja até 2030, realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Entre 1990 e 2020, o volume produzido de soja cresceu 532,9%, mas a área plantada foi ampliada em 229%, o que mostra um avanço significativo da produtividade. Com seu valor bruto da produção (VPB) estimado em R$ 326,8 bilhões em 2021, a cultura deve representar 32,6% do faturamento do agronegócio.
Apesar disso, o grão emitiu apenas 1,5% dos gases de efeito estufa (GEE) das atividades agropecuárias em 2020, conforme informações do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). A soja foi responsável pela emissão de 9 milhões de toneladas das 577 milhões de toneladas de CO2 equivalentes emitidas por todo o setor.
Iniciativas para o carbono neutro
O cenário traçado pelo estudo aponta que a área semeada com soja vai crescer 27,2% até 2030 — quando alcançará 47,3 milhões de hectares. Com o ganho de produtividade, a colheita deve chegar a 176,4 milhões de toneladas ao final da década, uma alta de 44,9% em relação a 2020.
A soja pode garantir a expansão se tornando ainda uma produção de carbono neutro, contribuindo para mitigar a emissão de GEE de todo o agronegócio. A adoção combinada de três práticas sustentáveis em 30% das lavouras pode ajudar a sequestrar até 90 milhões de toneladas de CO2, de acordo com o estudo.
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1. Sistema de plantio direto
O sistema de plantio direto (SPD) consiste em efetuar a implantação da lavoura com a preservação do solo. Para tanto, a semeadura é realizada sem aração e gradagem, com o manejo apenas na cova de semeadura. A técnica também prevê a cobertura do solo com palhada e a prática da rotação de culturas.
O SPD permite um melhor desenvolvimento do sistema radicular da soja e contribui para o aumento da matéria orgânica e dos estoques de carbono do solo. A prática também proporciona a redução das emissões do GEE oriundos do uso de combustíveis fósseis pelos maquinários agrícolas.
Apesar dos benefícios, a prática ainda não é realizada em grande parte das lavouras. Com isso, as propriedades podem enfrentar problemas como compactação do solo, bem como prejuízos econômicos e ambientais causados pela erosão.
2. Fixação biológica de nitrogênio
O nitrogênio é o principal nutriente necessário para a produção de soja, mas a quantidade da substância na matéria orgânica do solo é limitada, e sua decomposição é acelerada pelas condições climáticas brasileiras.
A adubação nitrogenada é uma forma eficiente e rápida para a nutrição das plantas, porém tem alto custo financeiro e impacto ambiental — os fertilizantes nitrogenados são produzidos a partir de derivados de petróleo com emissão de GEE.
Como alternativa, a fixação biológica de nitrogênio (FBN) permite o fornecimento do nutriente pelo vegetal a partir de bactérias que retiram a substância da atmosfera e transformam-na em amônia, facilmente assimilada pelas plantas de forma mais barata, eficiente e com carbono neutro.
3. Integração lavoura-floresta
A integração lavoura-floresta (ILF) permite que a atividade agrícola se torne uma grande sequestradora de carbono da atmosfera. O sistema produtivo combina a lavoura com a produção de madeira em uma mesma área, otimizando o aproveitamento de nutrientes de luz solar.
Além dos benefícios para as plantas, a prática proporciona a conservação do carbono orgânico, melhora a estrutura do solo e o aumento da infiltração da água. Isso permite a maior retenção de nutrientes e reduz as perdas por lixiviação.
Fonte: Fundação Getulio Vargas (FGV), Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG).