Um estudo realizado por cientistas da Universidade de Oxford mostrou que a produção de carne artificial em laboratório pode causar sérias mudanças climáticas em longo prazo. A pesquisa revela que o aquecimento causado pela emissão de gases a partir do gado diminui ao longo do tempo, enquanto a produção de carne cultivada em laboratório gera um aquecimento irreversível e persistente, causando grandes impactos climáticos no futuro.
No estudo, os cientistas afirmam que nas primeiras pesquisas realizadas eram consideradas as várias emissões de gases dos gados, como metano e óxido nitroso, convertidos em dióxido de carbono. Contudo, os pesquisadores disseram que não há como alcançar uma conclusão precisa sobre os impactos a partir desse método, pois esses gases causam diferentes impactos no clima.
Em entrevista à BBC, o coautor da pesquisa, Professor Raymond Pierrehumbert, explica que o impacto do metano no aquecimento em longo prazo não é cumulativo e pode causar menos prejuízos dependendo do aumento ou da diminuição da produção. “Por tonelada emitida, o metano tem um impacto climático muito maior que o dióxido de carbono. Porém, ele só fica na atmosfera por cerca de 12 anos. Já o dióxido de carbono persiste e se acumula por milênios.”
Os cientistas mostraram que, em um cenário de consumo alto e contínuo mundialmente, a carne artificial resulta em menos aquecimento global do que o gado, a princípio. Mas isso se altera em longo prazo. De acordo com os especialistas, em alguns casos, a produção de gado causa bem menos aquecimento.
Já nos estudos realizados levando em consideração um declínio de consumo, com níveis mais sustentáveis, constatou-se que, mesmo que os sistemas de gado, geralmente, resultem em maior pico de aquecimento do que a carne in vitro, o efeito do aquecimento diminui e estabiliza. Enquanto isso, o dióxido de carbono emitido na produção de carne artificial persiste e se acumula cada vez mais.
As emissões de gases de efeito estufa resultam do uso de transporte de cianobactérias do local onde são cultivadas até o laboratório, além da energia gasta para movimentá-las dentro de um tanque. O uso de energia no processamento das cianobactérias e da agitação de um tanque de cultura de células deve ser feito durante 60 dias.
Esse cenário é levado em conta no estudo mais otimista da produção de carne artificial; e o resultado final, segundo a pesquisa, é de que foram emitidos cerca de 2 quilos de dióxido de carbono para cada quilo de carne produzida.
Segundo dados do Sistema de Registro Nacional de Emissões (Sirene), a agropecuária é responsável por 32% da emissão de gases na atmosfera — marca maior que a de dióxido de carbono produzido pelo setor energético (29,2%) e industrial (7,1%).
Foi justamente esse problema que levou os cientistas a iniciarem os estudos sobre a produção de carne in vitro. Porém, a produção depende da geração de energia, o que provoca emissão de dióxido de carbono na atmosfera, trazendo consequências climáticas futuras muito piores do que a produção de carne convencional.
Os especialistas apontam que há como a carne in vitro ser benéfica, desde que a geração de energia seja dissociada das emissões de dióxido de carbono; assim, os impactos climáticos podem ser significativamente reduzidos. Para isso, é preciso que a energia seja descarbonizada.
Aquecimento global
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), com o aquecimento global é possível verificar uma série de mudanças no comportamento climático do planeta. O relatório diz que a expectativa para o futuro é de que as temperaturas médias das regiões terrestres e dos oceanos aumentem. Também é esperado extremo calor em áreas habitadas, com ocorrências de chuva intensa em algumas regiões, provocando destruição e alagamentos; já em outras regiões, o cenário será de déficit de chuva e seca.
Processo de produção
A carne cultivada é uma tecnologia recente, em que as células musculares dos animais são produzidas através do cultivo de tecidos em uma fábrica controlada ou um laboratório.
Para produzir a carne artificial, é preciso retirar o tecido do animal e, a partir dele, pegar as células-tronco para inseri-las em um biorreator cilíndrico de tanque, que deve conter um meio hidrolisado de cianobactérias — um grupo de bactérias que obtêm energia através de fotossíntese.
Vitaminas e a bactéria Escherichia coli, geneticamente modificada, são utilizadas para gerar um fator de crescimento das células do animal. Esse processo permite que a célula se prolifere e cresça até chegar ao tamanho da carne.
Fontes: Universidade de Oxford, BBC, Sistema de Registro Nacional de Emissões, IPCC.