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Com o preço da carne bovina em alta, os brasileiros preferiram consumir proteínas mais baratas — esse foi o cenário desenhado pela pesquisa de abates do último trimestre, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto os bois tiveram o pior resultado dos últimos 15 anos, os suínos e as aves registraram recordes nos últimos meses de 2021.
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as cotações de milho e soja, que chegam a representar mais de 70% do custo total de produção de carne, acumularam altas superiores a 100% apenas no final do ano passado.
“O consumidor pressionado, renda comprimida, juro em elevação e todo mundo precisa repassar custos no caso das proteínas”, avaliou César de Castro Alves, especialista da Consultoria Agro do Itaú BBA. No entanto, os pecuaristas têm maior dificuldade de repassar a alta para o consumidor devido ao valor mais alto da carne de boi.
Carne bovina
No período de outubro a dezembro do ano passado, foram abatidas 6,9 milhões de cabeças de gado. O volume representa uma queda de 6,4% com relação ao quarto trimestre de 2020, e uma retração de 0,9% em comparação ao período de julho a setembro de 2021.
O resultado é o menor desde 2008, quando foram abatidas 6,7 milhões de cabeças de bovinos no último trimestre; apenas em outubro, houve um recuo de 17,9% nos abates. A queda foi influenciada pela restrição de exportações para a China.
Em todo o ano passado, 27,54 milhões de cabeças de boi foram abatidas. Isso significa uma diminuição de 7,8% em relação a 2020 e o segundo ano consecutivo de redução, acompanhando o cenário de retenção de animais observado desde o início de 2020.
Suínos
No quarto trimestre de 2021, foram abatidas 13,38 milhões de cabeças de suínos, o que corresponde a uma alta de 6,5% em comparação ao mesmo período de 2020 e ao maior volume desde 1997, quando a série histórica do IBGE foi iniciada.
O resultado foi impulsionado por exportações recordes entre outubro e dezembro. De acordo com o IBGE, o aumento da oferta provocou a queda dos preços médios, mas a carne suína ainda disputa o mercado doméstico com o frango, que é mais acessível ao consumidor.
“É possível que esteja ocorrendo na suinocultura um movimento de descarte de matrizes e redução dos novos alojamentos de leitões”, comentou Alves. Sempre que isso ocorre, há uma maior oferta de carne em um primeiro momento, mas provavelmente a tendência se inverte.
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Aves
No último trimestre do ano passado, foram abatidas 1,54 bilhão de cabeças de frango, de acordo com o IBGE. O número representa uma queda de 1% em comparação com o mesmo período de 2020, mas um aumento de 0,5% na comparação com o terceiro trimestre de 2021.
O volume é o segundo melhor para o quarto trimestre desde o início da série histórica e contou com o melhor resultado já visto para o mês de novembro. As exportações de carne de frango in natura se mantiveram acima de 1 milhão de toneladas no trimestre e cresceram 7,8% em comparação ao mesmo período de 2020.
Entre outubro e dezembro, a demanda interna foi enfraquecida por conta dos preços recordes em setembro, além da queda de abate em 13 das 25 unidades da federação pesquisadas. Ainda assim, o mercado se mantém firme. “A avicultura tem um grande trunfo de ser a proteína mais barata e ter um perfil de exportações muito diversificado”, analisou o especialista.
Cenário para 2022
O primeiro semestre de 2022 deve continuar difícil, uma vez que o valor da ração deve continuar alto. As cotações de milho e soja podem começar a retrair um pouco a partir de julho, quando o mercado global avaliar os impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia, bem como dos balanços de grãos em produtores importantes.
O abate de cabeças bovinas deve crescer, mesmo com os preços em patamares altos. “Após dois anos de retenção, é esperada uma produção bem elevada de crias, e isso deve fazer melhorar o negócio para recria e engorda”, projetou Alves.
Contudo, isso não deve diminuir o ritmo do mercado de suínos e aves. A ABPA espera que novos recordes de produção sejam registrados em 2022, com um aumento de 4% no volume em comparação ao ano anterior.
Fonte: Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Agro em Pauta/Itaú BBA