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O Brasil se tornou o primeiro país do mundo a aprovar a utilização de farinha de trigo transgênico depois que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) decidiu, por unanimidade, autorizar a importação e a comercialização da variedade HB4, produzida na Argentina.
Apesar da falta do produto no mercado doméstico e da liberação do uso de organismo geneticamente modificado (OGM), entidades da indústria nacional se manifestaram contra a compra da farinha transgênica e lutam para reverter a decisão do governo federal.
A Argentina é responsável por 85% do trigo importado pelo Brasil. A Asociación de la Cadena del Trigo, que congrega a cadeia argentina do cereal, estima que o segundo maior país da América do Sul deva produzir 22 milhões de toneladas de trigo nesta safra, dos quais apenas 160 mil toneladas devem ser transgênicas.
Decisão técnica
A avaliação da CNTBio é técnica e atesta que o trigo transgênico é seguro para a alimentação humana, sendo similar, do ponto de vista de segurança alimentar, ao cereal convencional. A comissão também avaliou os aspectos relacionados à saúde humana e animal e ao meio ambiente a partir dos dados científicos disponíveis.
O trigo HB4 foi desenvolvido pela Bioceres para ser tolerante à seca e resistente ao herbicida glufosinato de amônio. O cultivo do OGM foi autorizado pelo Ministerio de Agricultura, Ganadería y Pesca da Argentina com a condição de aprovação da importação e de uso comercial pela comissão reguladora no Brasil. O produto não pode ser comercializado ou utilizado no mercado argentino.
O pedido na CNTBio foi protocolado em março de 2019 pela empresa brasileira Tropical Melhoramento & Genética (TMG), que pretende importar e comercializar a farinha de trigo transgênico no Brasil. A liberação de importação aconteceu no início de novembro.
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Risco comercial
As entidades que representam a cadeia produtiva de trigo no Brasil e na Argentina se manifestaram de forma contrária à liberação do cereal transgênico. Os empresários temem que a decisão inédita tenha uma repercussão negativa em importantes mercados consumidores, como a União Europeia, que se mostra resistente ao uso de OGM na alimentação humana.
A indústria supõem que biscoitos, massas e pães industrializados do Brasil possam ser rejeitados, mesmo que utilizem o trigo convencional, uma vez que não está claro ainda como o cereal transgênico vai ser separado.
Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip) considera que os estudos ainda são insuficientes para avaliar os impactos do trigo geneticamente modificado na saúde humana, no meio ambiente e na biodiversidade. A entidade afirma que as mais de 70 mil padarias brasileiras devem promover um boicote à farinha de trigo transgênico.
Fonte: Estadão, Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio), Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip).