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Antibióticos na produção animal

4 de agosto de 2021 5 mins. de leitura

Chances de falha no tratamento, causada por resistência relacionada ao uso de antibióticos comuns em animais, é de 1 em 1 bilhão

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Por Maurício Palma Nogueira 

Com frequência, o uso de antibióticos na produção animal é apontado como uma das causas da seleção de bactérias resistentes a tratamentos. Essa relação, no entanto, é infundada do ponto de vista científico. 

Estudos compilados pelo Centro de Controle de Doenças norte-americano (CDC), em 2017, apontaram que as chances de falha em um tratamento, provocada por resistência devido ao uso de antibióticos comuns em animais, é de 1 em 1 bilhão. No site da organização há estudos e conclusões apontando os diversos riscos que causam resistência bacteriana.

Ainda de acordo com o CDC, das 18 bactérias que podem representar ameaça pela resistência a antibióticos, apenas duas estão associadas ao uso em animais. E ambas são listadas como ameaças de média urgência ou prioridade. 

O risco de ocorrência na seleção de bactérias resistentes aos antibióticos, contudo, é real e vem preocupando a comunidade médica. Mas o risco está, de fato, ligado ao uso indiscriminado de medicamentos e erros na administração das doses prescritas. Até mesmo o descarte indevido das sobras de medicamentos em áreas urbanas tem maior influência sobre a resistência aos tratamentos.   

O uso de antibióticos na produção animal é seguro, sempre acompanhado por profissionais especializados em nutrição e saúde animal. Dosagens e prescrições são rigorosamente respeitadas, pois quaisquer erros, para mais ou para menos, sempre implicarão em prejuízos pelo desequilíbrio entre custos e resultados. 

Hoje, a produção animal é significativamente mais eficiente e segura se comparada a algumas décadas atrás. Além dos avanços na genética, os atuais modelos de produção garantem a eficiência nutricional e a prevenção de doenças, minimizando riscos ao consumo humano. Garantia de saúde, alojamento adequado e nutrição possibilitam que a vida dos animais seja digna, ainda que curta. 

Pela ótica de um leigo, diante de um sistema de produção moderno e intensivo, essa afirmação pode parecer incoerente. Mas é inegável o fato que os animais vivem melhor quando estão saudáveis em ambientes com alta disponibilidade de alimentos e livres do ataque de predadores naturais. 

No contexto de alta produtividade, o uso de antibióticos (controle de bactérias) ou antimicrobianos (controle de bactérias, vírus, fungos, parasitas etc.), acaba sendo essencial, tanto para o controle de doenças, como para o equilíbrio do aparelho gastrointestinal. 

Os produtos elaborados em empresas idôneas- e habilitadas- são de alta tecnologia, fabricados a partir de normas e exigências rigorosas, com o objetivo de prevenir possíveis riscos à saúde dos animais e dos consumidores. Nas fazendas, o uso destes produtos é adotado apenas em produções de alto desempenho animal, que demandam maior rigor de controle nos processos de produção. 

No Brasil, a produção de frango e suínos começou a ser intensificada a partir da década de 1990, adotando nutrição cada vez mais sofisticada e possibilitando que os animais desempenhassem quase todo o seu potencial genético. Os benefícios sociais dessa escalada tecnológica são incontestáveis. A intensificação da produção das carnes suína e de frango possibilitou que os preços aos consumidores recuassem cerca de 70%, em valores reais, quando comparados ao final da década de 1980. 

E a bovinocultura segue o mesmo caminho. Um modelo de produção tipicamente brasileiro permite otimizar a produção a pasto com o uso intensivo de grãos e subprodutos industriais (inadequados para a nutrição humana). A produtividade obtida com essa “dobradinha” implica em aumento considerável na produtividade, por animal e por área.  

No entanto, a alta inserção de concentrados na dieta de bovinos depende do equilíbrio do ambiente ruminal (estômago do bovino), que pode ser obtido através do uso de produtos antimicrobianos. Estes, por sua vez, podem ou não ser associados a outros tipos de aditivos nutricionais disponíveis no mercado. A inserção de algumas dessas outras opções pode melhorar ainda mais os resultados, mas não substituirá integralmente a eficiência dos antimicrobianos. 

Produtividade e minimização de perdas por doenças garantem mais ovos, leite e carne de todos os tipos pela mesma quantidade de animais e áreas envolvidas na produção.  Além dos impactos econômicos e sociais, a proteção ambiental também sai ganhando, pois há redução da pegada hídrica e das emissões de carbono por quilograma produzido. 

O uso de moléculas de alta tecnologia, que possibilitam melhor desempenho dos animais, impactará positivamente na oferta de proteína, tornando-a mais acessível ao consumidor. É hora de a sociedade começar a considerar um debate mais sério e focado na ciência em relação ao uso das moléculas de alta tecnologia na produção animal. Garantir o fornecimento de proteína à população é essencial para elevar o nível de qualidade de vida. 

Maurício Palma Nogueira é engenheiro agrônomo, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária.

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