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Campo sustentável

João Carlos Marchesan*

A pandemia alterou o funcionamento e modelo de produção de diversos setores. No entanto, o campo brasileiro não sofreu muitos danos com o período pandêmico. Mesmo com a pandemia conseguiu manter o ritmo de produção. De acordo com o Ministério da Agricultura, da Pecuária e do Abastecimento (Mapa), o valor bruto de produção do setor agropecuário pode somar, até o final de 2021, cerca de R$ 1,1 trilhão. Esse número é 53,4% maior do que em 2011, cujo faturamento foi de R$ 701,54 milhões.

É importante ressaltar que esse crescimento ocorreu porque o nosso mercado interno é pujante e se encontra em franca expansão desde o fim dos anos 1990, após superar sucessivas crises de endividamento e passar a contar com um câmbio mais favorável às exportações. Dessa forma, o agronegócio brasileiro vive a fase final de uma prova de fogo, uma vez que mesmo com a pandemia, manteve o ritmo e consolidou o País como um fornecedor global confiável de alimentos, com oferta robusta de grãos, carnes e muitos outros produtos.

Dentro dessa análise, não podemos esquecer que a indústria de máquinas e equipamentos registrou crescimento de dois dígitos no primeiro semestre de 2021 e que o avanço extraordinário é resultado do aumento da produtividade e do uso de tecnologia e de ferramentas de transformação digital.

Mas não podemos perder de vista que a manutenção dessa posição do setor como um todo dependerá de melhorias socioambientais capazes de mudar uma imagem ainda arranhada por estragos localizados que, em meio a uma forte pressão internacional, ameaçam afetar esse crescimento, uma vez que imagens sobre o avanço do desmatamento e queimadas têm obtido um significativo crescimento nas redes sociais. Podemos concluir, inclusive, que a pandemia nos trouxe uma maior observação sobre os processos no campo, ficando evidente que ele precisa ser sustentável. A sustentabilidade deve ser ativa. A atenção ao meio ambiente e à sociedade é um fator diferenciado, que melhora o desempenho financeiro dos agricultores, gerando boas vantagens competitivas.

Com a pandemia, é bem provável que, mesmo depois dela, esse movimento se fortifique. O mundo tem se tornado mais protecionista. Assim, é importante que o campo abrace de vez a sustentabilidade. Ele não pode só parecer sustentável, o campo precisa ser efetivamente sustentável.

Reitero que uma agricultura sustentável é aquela em que o meio ambiente e a justiça social são promovidas e, o mais importante, que ela seja acessível para todo o ecossistema. Outro fator importante para que o campo seja sustentável é focar suas atenções nas necessidades de produção para as próximas gerações onde a qualidade de vida seja promovida. 

Porém, os últimos anos não foram fáceis para o campo brasileiro, já que ele teve sua imagem arranhada em todo o mundo por causa de várias ações desastrosas. A pressão internacional por mudanças pode atrasar o nosso desenvolvimento. Por isso, focar em melhorias socioambientais que sejam capazes de inverter esse jogo é fundamental.

Hoje, com os avanços tecnológicos, podemos incorporar diversas práticas sustentáveis no campo e com isso otimizar os recursos para que cada vez mais alavanquemos o desempenho agrícola, entregando um produto de valor que não comprometa o futuro do nosso planeta. 

Essas ações precisam ser mostradas com a intenção de que o consumidor e o mercado entendam que é possível termos uma produção rural sustentável e a proteção das nossas florestas, uma vez que o PIB do nosso setor somou R$ 1,97 trilhão no ano passado, representando mais de 26% do PIB brasileiro e o nosso setor tem sido o grande responsável por superávits na balança comercial. 

* João Carlos Marchesan é administrador de empresas, empresário e presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq)

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