A cultura de trigo tem o potencial de reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Esse é o principal resultado de uma pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), realizada em áreas cultivadas em sucessão à soja.
O levantamento abre o caminho para reverter a imagem do agronegócio quanto à contribuição para o aquecimento global. As atividades agropecuárias e as mudanças no uso da terra são responsáveis por cerca de 73% das emissões brasileiras, conforme o Sistema de Estimativa de Emissão de Gases (SEEG) do Observatório do Clima.
No entanto, os produtores rurais foram responsáveis por uma redução de 17% na emissão de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil entre 2005 e 2020, período base considerado pelo Acordo de Paris. No mesmo período, o volume de grãos produzidos duplicou, saindo de pouco mais de 120 milhões de toneladas para mais de 250 milhões de toneladas.
Sequestro de CO2 na cultura de trigo
A lavoura de trigo absorve mais CO2 do que emite, considerando os períodos de cultivo e de pousio. No ciclo de produção, o estudo demonstrou que a cultura conseguiu retirar da atmosfera 7.540 quilogramas de CO2 por hectare, enquanto no tempo sem semeadura, a área gera 5.640 quilogramas de CO2 por hectare.
Com isso, o desenvolvimento do cultivo foi capaz de neutralizar as emissões durante o período sem lavoura e ainda gerar um sequestro de carbono de 1.850 quilogramas de CO2/hectare. Isso se deve ao processo de fotossíntese das plantas, processo de produção de energia que absorve o gás carbônico e libera o oxigênio na atmosfera.
Já o principal responsável pela emissão de GEE durante o pousio é a decomposição dos resíduos agrícolas. Contudo, as práticas de manejo sustentável, como a cobertura do solo, o plantio de forragens ou a rotação com outras culturas de grãos, conseguem reduzir a pegada de carbono da fazenda.
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Tecnologia para medição de emissões
Para avaliar as diferenças entre a emissão e a retenção de carbono em um sistema de produção de trigo e soja, os pesquisadores utilizaram a técnica avançada de medição chamada Eddy Covariance (EC), que analisa as pequenas variações nas concentrações de gases que contribuem para o efeito estufa, como carbono, o metano (CH4) e óxido nitroso (N20).
As medições foram realizadas a partir de uma torre de fluxo instalada desde 1990, em um campo de grãos em Carazinho, no norte do Estado do Rio Grande do Sul. No equipamento, sensores de alta precisão são colocados para medir a velocidade do vento e a concentração dos gases gerados pelo fluxo de ar sobre a vegetação ou o solo.
A principal vantagem do método é fornecer medições contínuas e em tempo real, o que permite entender a dinâmica das trocas de gases em diferentes condições climáticas e sazonais. Essa técnica oferece resultados diretos sobre os fluxos de gases na escala do ecossistema, tornando-se uma ferramenta valiosa para estudos de longo prazo.
Sustentabilidade no agronegócio
A sustentabilidade se tornou uma das principais preocupações do Plano Safra 2023/2024. Uma das principais vertentes do programa é o incentivo de práticas sustentáveis, que promovam a conservação do meio ambiente, a recuperação de áreas degradadas e a adoção de tecnologias inovadoras para aumentar a produtividade de forma responsável.
Para isso, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) tem destinado recursos e reduzido as taxas de juros para investimentos, além de premiação para produtores rurais que adotem práticas de baixo carbono na agropecuária. O esforço é essencial para garantir a imagem do agronegócio no cenário mundial e ampliar os mercados atendidos pelo Brasil.
Fonte: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Sistema de Estimativa de Emissão de Gases (SEEG), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).