Quais são os riscos do déficit de armazenagem no Brasil?
O Brasil, reconhecido como um dos maiores produtores de grãos do mundo, enfrenta um desafio significativo no que diz respeito ao armazenamento. Apesar da posição de destaque, o País ainda tem uma infraestrutura insuficiente, com uma capacidade estática capaz de armazenar apenas cerca de 14% de uma única safra.
Desde 2001, a capacidade nacional de armazenamento tem sido inferior à quantidade de grãos produzidos no País, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Essa disparidade revela uma defasagem na estrutura de armazenamento, o que dificulta ainda mais a logística de distribuição de grãos.
As safras recordes e o déficit de armazenagem devem provocar R$ 30,5 bilhões em prejuízo nas lavouras de soja e de milho em 2023, estima a consultoria COGO Inteligência em Agronegócio. Essas perdas foram calculadas com base nos níveis negativos dos prêmios dos grãos em relação ao mercado internacional.
Qual é o déficit de armazenagem do Brasil?
Com uma safra prevista para 313 milhões de toneladas de grãos na temporada 2022/2023 e as vendas lentas por parte dos produtores rurais, o déficit de armazenagem atual é de aproximadamente 124 milhões de toneladas, calcula a consultoria COGO.
No Estado do Mato Grosso, considerado o maior produtor de grãos do Brasil, o déficit de armazenagem na safra 2021/2022 foi de 57,1 milhões de toneladas, considerando todas as culturas, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
No Paraná, 65% da produção de grãos passa pelas cooperativas, de acordo com o Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). No entanto, a capacidade de armazenagem estática é de apenas 32 milhões de toneladas, enquanto a produção estimada para esse ciclo é de 45 milhões de toneladas.
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Como é feito o armazenamento de grãos?
O armazenamento de grãos é realizado por benfeitorias construídas com materiais como concreto, metal, alvenaria e madeira. O silo metálico é a opção mais popular, sendo uma estrutura cilíndrica fabricada com aço galvanizado e uma base de concreto. Esses silos são resistentes e duráveis, capazes de armazenar grãos por longos períodos.
No interior do silo, são instalados sensores para monitorar a temperatura e a umidade, além de ventilação para manter a qualidade e a segurança dos grãos, evitando o desenvolvimento de fungos e bactérias. Cada tipo de produto agrícola requer cuidados específicos durante o armazenamento, a soja, por exemplo, requer umidade de cerca de 11%.
A construção de armazéns adequados demanda tempo, engenharia, obra civil e licenciamento. Por isso, os silos bags são uma alternativa para o armazenamento de grãos, especialmente em situações emergenciais ou temporárias. No entanto, eles são mais vulneráveis a danos causados por animais, como roedores e pássaros, e também por perfurações acidentais.
Investimento nacional em armazenamento
Para suprir a demanda por infraestrutura de armazenagem adequada, foi criado em 2013 o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), integrado às linhas de crédito do Plano Safra. Na temporada 2022/2023, foram disponibilizados R$ 5 bilhões, com limite de R$ 50 milhões para os silos de grãos, juros subsidiados e prazo de pagamento de 12 anos.
No entanto, os recursos ainda não são suficientes para reduzir significativamente o déficit de armazenagem. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), apenas para acompanhar o crescimento da produção de grãos no Brasil seria necessário um investimento anual de R$ 15 bilhões.
Além disso, é necessário investir na logística de escoamento da produção agrícola para reduzir a pressão sobre a capacidade de armazenagem nacional. No entanto, as projeções indicam o esgotamento dos portos até 2025, o que pode reduzir a competitividade do agronegócio brasileiro frente ao mercado internacional.
Fonte: Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Money Times, Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Aprosoja