Novo formato de colmeia pode evitar desaparecimento de abelhas

4 de fevereiro de 2020 5 mins. de leitura
Pesquisador britânico encontrou na própria natureza uma fórmula para controlar infestação do ácaro Varroa

Um pesquisador britânico defende que um novo formato de colmeia pode salvar as abelhas do desaparecimento. Derek Mitchell, da Universidade de Leeds, utilizou técnicas de engenharia industrial para comparar a colmeia produzida pelo homem para o cultivo de mel com os ninhos naturais feitos pelas abelhas.

Mitchell defende que a colmeia faz parte da natureza da abelha e tem um papel mais sofisticado do que ser apenas um abrigo. Seu estudo indicou que a colmeia natural, feita dentro de árvores, cria um grau alto de umidade no qual as abelhas prosperam.

(Fonte: Shutterstock)

“Para fazer o ninho, a abelha escolhe um tronco oco, com uma entrada na parte inferior, tornando menos provável que o ar quente saia. Depois, cobre paredes internas e pequenos furos e rachaduras com um selante, evitando vazamentos de ar. Cada favo tem milhares de células, cada uma com microclima ideal para o cultivo de larvas (abelhas bebês) ou a produção de mel”, explica o pesquisador.

O desenho atual de colmeias artificiais foi desenvolvido nos anos 1930 e 1940 com base em ideias da década de 1850. As estruturas naturais começaram a ser estudadas cientificamente apenas em 1974, e as pesquisas de suas propriedades físicas foram iniciadas apenas em 2012.

As colmeias produzidas atualmente para a apicultura precisam ser baratas, com acesso fácil para o manuseamento das abelhas e do mel. “A maioria das colmeias feitas por humanos tem sete vezes mais perda de calor e entrada oito vezes maior do que os ninhos feitos pelas abelhas em árvores”, exemplifica Mitchell. Dessa forma, a colmeia artificial cria níveis baixos de umidade, o que torna favorável o aparecimento de parasitas como Varroa destructor.

(Fonte: Pixabay/Ulrike Leone)

“Simples colmeias feitas de poliestireno, em vez de madeira, podem aumentar a taxa de sobrevivência e a produção de mel pelas abelhas. Mais pesquisas sobre a complexidade dos termofluídos nos ninhos podem nos ajudar a desenvolver novas colmeias que equilibrem as necessidades das abelhas e dos apicultores”, conclui o pesquisador.

Desaparecimento das abelhas

A diminuição de abelhas tem sido identificada no mundo desde 1880, porém sem a velocidade e a gravidade que tem se verificado nos últimos anos. A partir de 1995, o desaparecimento dos insetos começou a ser relatado em larga escala nos Estados Unidos. A epidemia ficou conhecida como síndrome do colapso de colônias (CCD, em inglês), na qual as abelhas trabalhadoras da colmeia deixam para trás a comida e a rainha.

A Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços (IBPES, em inglês) da  Organização das Nações Unidas (ONU) apontou, em 2016, que a população de abelhas na Europa diminuiu 37% e que 9% das espécies estão em extinção no continente. As causas desse distúrbio são atribuídas a desmatamento, ação de agrotóxicos e até manejo intensivo de colmeias.

O pesquisador Sam Remsey, em sua tese de doutorado pela Universidade de Maryland, afirma que o declínio das abelhas no mundo está ligado a um ácaro conhecido como Varroa destructor. O parasita se alimenta do abdômen da abelha, área responsável por armazenar nutrientes e responsável por desintoxicar o corpo de agrotóxicos. Remsey esclarece que “o parasita não consome sangue, como se acredita, mas danifica as abelhas, consumido a gordura de seu corpo, o equivalente ao fígado de um mamífero”.

O ácaro atingiu metade das operações de apicultura com mais de cinco colônias, em 2018, de acordo com o Serviço Nacional de Estatísticas de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, em inglês). No Brasil, o Varroa destructor foi detectado em 1978, mas não há casos de CCD no país. O ácaro atinge espécies comuns na Europa e nos Estados Unidos; a espécie de abelha mais comum nas colmeias brasileiras, a abelha africanizada, não é danificada pelo Varroa.

Qual a importância das abelhas?

São cerca de 20 mil espécies de abelhas conhecidas, mas esse número pode ser maior. Os insetos são responsáveis pela polinização de plantas, desempenhando um papel fundamental nos ecossistemas, pois a maioria das plantas com flores só produz sementes dessa forma. As abelhas são imprescindíveis para a manutenção da biodiversidade de florestas e para a regeneração de novas áreas, bem como para o fornecimento de alimentos para toda a cadeia alimentar.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), quase 75% das colheitas de frutas e sementes para consumo humano dependem de polinizadores, uma produção estimada entre 235 bilhões e 577 bilhões de dólares por ano. A dependência da agricultura por polinizadores deve aumentar 300% nos próximos 50 anos.

Fontes: FAO; The conversation

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