O processo de criação de bezerros é determinante para o sucesso da pecuária leiteira. Após o nascimento dos animais, há algumas práticas que podem ser realizadas para garantir sua imunidade e diminuir os riscos de mortalidade. Uma dessas ações é conhecida como colostragem, realizada nas primeiras 24 horas depois do parto.
Esse processo pode ser feito de forma natural, em que o animal recebe o colostro (líquido rico em anticorpos) direto da mãe, ou de forma artificial, por meio de mamadeiras. Quando o sistema artificial é adotado, o aleitamento dos animais é feito por meios alternativos, como baldes ou mamadeiras. Nesses casos, são cruciais o bom manejo e boas técnicas de higiene dos objetos, sobretudo do bico da mamadeira, por onde passará o alimento diretamente para a boca do animal.
Além disso, é importante a escolha do bico mais adequado, a fim de garantir o sucesso da amamentação/colostragem, para que não haja proliferação de bactérias e para garantir que a mamada artificial desencadeie os eventos fisiológicos normais estabelecidos entre a vaca e o bezerro. Quem dá essas informações é a médica veterinária e professora de Clínica Médica de Ruminantes da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP), Viviani Gomes.
Essas práticas também são adotadas quando se trata de recém-nascidos de equinos, ovinos e outras criações.
A importância da escolha e da higiene do bico de mamadeira
O colostro é fundamental para a boa saúde dos bezerros, uma vez que durante a gestação eles não recebem todos os anticorpos de que precisam porque a placenta dos ruminantes não deixa que macromoléculas passem. Sendo assim, o que garante a imunidade nas primeiras semanas de vida dos animais é a colostragem, que evita riscos como diarreia e outras doenças que podem comprometer o desenvolvimento e até mesmo a sobrevivência do animal.
Já o aleitamento ocorre pelo desmame precoce de animais, uma prática de manejo utilizada como forma de se conseguir aumento nos índices reprodutivos dos rebanhos. Em ambos os casos, deve-se dar bastante atenção ao bico da mamadeira. Gomes cita os cuidados que se deve ter na escolha e no manejo desses acessórios. Um deles diz respeito ao formato do bico: alguns têm detalhes ou ranhuras difíceis de limpar e que podem acumular restos de alimentos e facilitar a proliferação de bactérias, por isso devem ser evitados.
Sobre o material do bico da mamadeira, a professora afirma que as opções de PVC são as mais indicadas para a administração de colostro, pois facilitam o estímulo da sucção — os bicos de silicone, mais rígidos, dificultam essa função.
Outro ponto destacado é sobre o furo no bico da mamadeira. De acordo com a professora, deve ter tamanho suficiente para o leite apenas gotejar quando a mamadeira for virada. Dessa forma, ela explica, o reflexo de sucção é estimulado no bezerro.
O ideal é que se faça o furo com uma agulha quente, pois, quando feito com materiais cortantes, pode ficar muito grande e aumentar o fluxo do leite durante a sucção, o que pode gerar um problema conhecido como falsa via, quando o alimento vai para o pulmão em vez de ir para o abomaso, que é onde ocorre a digestão, e pode acarretar uma infecção pulmonar.
Sobre a limpeza e a higiene do bico de mamadeira, as indicações são:
- jamais deixar os objetos com restos de alimentos ou expostos por muito tempo;
- após o uso, lavar os objetos com água e detergente comum;
- para tirar o excesso de sujeira interna, usar escovas e enxaguar com muita água corrente;
- deixar os objetos de molho em uma diluição de solução de hipoclorito com 1% a 2% de cloro ativo e enxaguar em água corrente antes do uso (os bicos devem ficar totalmente imersos na solução clorada).