Em 2019, a exportação do milho brasileiro bateu recordes. Ainda em novembro desse ano, os navios já haviam transportado 36,7 milhões de toneladas do grão, um salto impressionante se nós considerarmos os 18,3 milhões em 2018 no mesmo período. As estimativas dos analistas eram muito otimistas, mas, nas últimas semanas, a commodity experimentou baixas significativas.
No final de fevereiro, a Bolsa de Chicago (CBOT) registrou desvalorização nos preços internacionais do milho “futuro”. As principais cotações registraram quedas entre 5,00 e 6,50 pontos ao longo do dia. No Brasil, a desvalorização também foi sentida nas praças de Castro (PR), com a queda de 1,08%, e de Brasília (DF) — com a queda de 2,22%.
De acordo com informações da Agência Reuters, o motivo da desvalorização é que os contratos de milho futuro nos Estados Unidos e em outros países caíram devido aos temores dos investidores por causa do surto de coronavírus, o qual tinha a possibilidade de se tornar uma pandemia. Esse medo se concretizou e isso fortaleceu ainda mais os movimentos de baixa em diversos países.
A relação entre o milho e o surto de coronavírus
É difícil estabelecer uma relação correta entre o surto de coronavírus e a queda no preço do milho em diversas bolsas de todo o mundo. Outros fatores também podem estar envolvidos, mas a desvalorização certamente tem envolvimento com o avanço da doença em diversas partes do globo.
“O medo não sabe o motivo. Essa é uma reação instintiva. As pessoas ainda precisam comer, mas as commodities alimentares estão sendo sugadas para o vácuo de um mercado baseado no medo do momento”, disse Jim Gerlach, presidente da A/C Trading. Isso significa: o medo parece ser o motivo mais provável para ocorrer essa movimentação em queda na cotação do grão.
Segundo informações do site internacional Farm Futures, o preço do milho também seguiu o de outras commodities em queda. De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), soja e trigo também pesaram nos preços futuros, já que as vendas das três commodities na semana passada foram iguais ou inferiores às expectativas comerciais.
Portanto, embora estranho para alguns analistas, não é possível desassociar o surto de coronavírus à queda do preço no milho em diversas bolsas de valores. O temor ainda é o principal fator, embora a commodity (como outras) seja essencial para diversos mercados internos.
Como fica o mercado interno brasileiro?
Mercado interno em alta
Apesar de ter experimentado quedas importantes no mercado internacional, parece que o preço do milho no Brasil tem seguido o movimento contrário. Na última quinta-feira (5), o preço dele em Campinas (SP) fechou a R$ 54,69 por saca. De acordo com a série histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), esse é o maior valor nominal já registrado para a commodity no mercado interno.
Contudo, esse aumento no preço não traz tantos motivos para comemorar. Gustavo Resente, analista de mercado da Agrifatto, comenta que a baixa oferta do grão no Brasil é um dos motivos para alta. Como já foi mencionado, o milho bateu diversas marcas de exportação em 2019, o que causou uma baixa no estoque no mercado interno. Como se isso não bastasse, à medida que o período de colheita da soja avança, o produtor rural começa a dar mais atenção à oleaginosa em detrimento do milho.
Apesar disso, Resente comenta que a posição do mercado deve ser firme nas próximas semanas: “Não há indicação de recomposição dos estoques no curto prazo. Se o lado da demanda se mostrar mais ativo, podemos ter valores mais altos”, ele disse.
Ele comenta que no Mato Grosso as vendas da segunda safra de milho atingiram 70%, contra 45% a 46% no mesmo período do ano passado. “Isso é um fator importante para preço. As vendas aceleradas devem evitar qualquer recuo porque esse milho já tem dono”, comentou o analista.
Descolado do mercado internacional, o milho deve seguir essa tendência de alta no Brasil. O dólar muito alto frente ao real e os fundamentos desse mercado permanecem como os principais pilares de suporte às cotações do grão. Porém, o avanço do coronavírus, agora uma pandemia, ainda pode causar impactos no mercado interno como tem causado no exterior.
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Fontes: Agrifatto