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Uma notícia brilhante e a outra sombria no agro desta semana

*José Luiz Tejon Megido

Com qual começamos? A brilhante.


A diretoria de Produção Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura,encabeçado por Mariane Crespolini, lançou as coletâneas dos fatores de emissão e remoção dos gases de efeito estufa na agropecuária. O trabalho contará com a participação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, comandado pelo ministro Marcos Pontes, além do sistema CNA/Senar, com o presidente João Martins e o diretor geral do Senar, Daniel Carrara. Na ocasião do lançamento, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse que “Brasil é uma potência agroambiental e podemos ajudar a todos os países do cinturão tropical do planeta”. Secretário de Inovação, do Ministério da Agricultura, Fernando Camargo,acrescentou: “Isso é apenas o começo, o primeiro capítulo de uma longa saga…”.

O documento está disponível para todos no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e merece ser lido por todos.

ESSA FOI A NOTÍCIA BRILHANTE…E, AGORA, A SOMBRIA?

Então, de novo, de novo e de novo a história se repete num ataque ao
programa brasileiro de biocombustíveis. Na vã tentativa de resolver os justos dramas dos caminhoneiros brasileiros, o governo volta a dar um tiro no pé do agronegócio. Decidiu diminuir a mistura do biodiesel da soja de uma meta que seria 15%, que estava em 13%, para agora 10%.

E o que isso vai provocar? A Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio), juntamente com Associação Brasileira da Agricultura Familiar Orgânica, AgroEcológica e AgroExtrativista (Abrabio), Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) e diversos líderes do setor da proteína animal, ovos, frangos, suínos, peixe, leite, carnes, as rações, diz que “lamenta a decisão de alterar o percentual da mistura mínima de biodiesel no diesel de 13% pra 10% em meio ao andamento da etapa de compras leilão 79, e reiteram seu apoio ao Renovabio. Esse ato significa uma intervenção no mercado que transfere todo o ônus da alta do preço dos combustíveis para o setor, com repercussão na inflação de alimentos, desemprego e desinvestimento”.

Com essa decisão, teremos menos esmagamento de soja pela indústria, o que significa redução da oferta do farelo de soja e, consequentemente, mais custo na criação dos animais. Assim, haverá menos 4 milhões de toneladas de farelo de soja. Vamos aumentar a venda dos grãos sem agregação de valor com custos na criação dos animais, além do próprio do milho, outro insumo essencial com preços elevados. Ovos e leite impactam massas, pães, pizzas, o que significa encarecimento até do macarrão.

Há também um impacto na saúde humana com o aumento da respiração do diesel fóssil no meio ambiente. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), biodiesel significa 13% na composição de custo do diesel. Porém, o diesel continua sendo 50%. A Confederação Nacional do Transporte, num estudo, informa que se houvesse redução de mistura para 7% o preço do diesel cairia 4,1%.Então, fica aqui a pergunta: biodiesel a menos traz solução, ou se trata apenas de uma anestesia de ilusão? Em 2021 o preço do diesel subiu 16,8%.

O assessor técnico da Associação Nacional do Transporte e Logística, Lauro Valdivia, explicou ao Estadão que “reduzir o preço do diesel para o
transportador não resolve o problema, o mais recomendado é focar numa boa gestão”.


Desta forma, a notícia brilhante trata exatamente do Brasil agro sustentável, em que biocombustíveis e Renovabio são fundamentais e fazem parte. A notícia obscura trata do seu contrário, o oposto. Combustíveis que respiramos com prejuízo à saúde da população com menos biodiesel na sua composição. O setor passa a ter também total insegurança jurídica econômica e financeira com decisões que mudam a regra do jogo na boca dos leilões.

Um diagnóstico profundo da situação dos caminhoneiros nos permitiria buscar uma solução para o drama estrutural dessa atividade vital. Mas não apenas trocando o curativo, diminuindo biodiesel, e sem cuidar da causa da verdadeira ferida: crescimento econômico, logística, cooperativismo, gestão e negociação, entre os agentes e clientes envolvidos no setor.

Deixa o biodiesel progredir, o Renovabio ser um exemplo para todas as demais cadeias produtivas do País, com planejamento estratégico que as tentações sempre desejam sua implementação impedir.

A soja para nosso futuro precisa muito mais da diversificação de utilizações do que poderia pensar apenas cada um dos seus grãos. Significa segurança estratégica para os produtores rurais. Mais clientes e diferentes.

Então vamos relembrar Monty Python, célebre grupo inglês, com uma canção inesquecível: “always look on the bright side of life”. Brilhante a coletânea.

Sombria a redução do biodiesel no diesel. Mas que possamos colocar luz nas sombras exatamente com o brilho das iniciativas brilhantes das coletâneas. Brasil país líder agroambiental.


*José Luiz Tejon Megido é colunista do Jornal Eldorado, doutor em Educação, mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie; professor de MBA na Audencia Business School, em Nantes, na França; coordenador do Agribusiness Center da Fecap; membro do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) e do Conselho Científico do Agro Sustentável (CCAS) e sócio-diretor da Biomarketing.

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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