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Ter um agroconsciente é a única forma de prosperidade daqui para frente

Por José Luiz Tejon Megido*

A partir de 8 de março, estarei nas manhãs do jornalismo da rádio Eldorado Estadão (FM 107.3) todas segundas, quartas e sextas-feiras com uma coluna sobre o agroconsciente, que é o único caminho para o setor agropecuário daqui para frente.

Consciente significa estar ciente, ter um conhecimento respaldado pela ciência, ser responsável. Mas não é tão fácil assim se encaixar na racionalidade humana.

Nietzche escreveu que “consciência é um conceito de difícil apreensão, impreciso e heterogêneo”. Freud, por sua vez, expressou: “consciência é um dado da experiência individual que se oferece à intuição imediata. Mas, quando se fala em consciência, mesmo sem explicar ou descrever, todos sabem imediatamente pela experiência do que se trata”.

Portanto, de algo tão rarefeito como uma esfinge a ser decifrada, chegamos a esse denominador comum, o agroconsciente. Este conceito é o futuro de todo complexo do sistema alimentar, que envolve o setor energético, de fibras, de flores, de madeiras, de fármacos, de uma agriceutica, de turismo agroecológico, de agroindústrias, comércio, serviços, bioeconomia e especiarias originadas nos campos, águas, mares e, agora, também na produção vertical das cidades 

A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é uma das tecnologias do agroconsciente

O capitalismo consciente já tem anos rodando no mundo, incluindo a alteração das métricas com as quais a universidade de Harvard cria o ranking dos mil melhores CEOs do planeta. Agora, sustentabilidade e responsabilidade social corporativa entram nos quesitos do julgamento. A consultoria Visagio define 4 aspectos para a consciência no capital: 1- Propósito, como motivação acima do lucro. 2- Orientação para os stakeholders, além dos shareholders. 3-Uma cultura consciente nas organizações ligada ao lema “Walk like to talk”, à sustentabilidade e à inovação. 4- Liderança consciente, o que exige níveis robustos de “maturidade”.

No novo agronegócio é preciso avançar sobre os 6 S’s que alteram totalmente as percepções do entorno e como cada um de nós impacta o mundo lá fora: 

1º- Sensorial world (mundo sensorial), uma enxurrada de sensores que nos permitem amplificar nossos clássicos sentidos, ajudando-nos a ver, ouvir, degustar, cheirar e tocar o que não conseguíamos sozinhos sem tais invenções.

 2º- Sensible feelings (mundo sensorial), ficamos muito mais sensíveis aos sentimentos e incômodos do contexto próximo e distante em função da velocidade das redes sociais. 

3º- Sustainable desires (desejos sustentáveis), ampliamos a dimensão dos sonhos, da imaginação, num idealismo contemporâneo da busca de um planeta perfeito nas questões de meio ambiente e sem os abismos sociais. 

4º- Sensitiveness spirit (sensibilidade de espírito), a capacidade intuitiva acelerada, algo que precisamos muito na educação. Veremos uma era de protagonismo da mulher e das novas gerações. 

5º- Seduction design, também conhecido como o design thinking é uma abordagem de pensamento crítico e criativo que estará presente na gestão de todo agronegócio. Produtoras e produtores rurais irão ver a si mesmos como agentes da saúde, além de originadores de quilos, toneladas ou arrobas. 

6º- Simplicity 4 all (simplicidade para todos), ou seja, toda complexidade do agronegócio precisa ser traduzida de forma simples e empática aos consumidores e cidadãos do mundo. Este será o desafio da comunicação no agro, muito mais do que fazer o correto, o setor precisa ser percebido como correto e, neste contexto, os 6 S’s são fundamentais.

Neste pacote, também destaco o cooperativismo, “um modelo de prosperidade”, como bem definido por Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB); o termo ESG, sigla em inglês para melhores práticas ambientais, sociais e de governança; as iniciativas para conter as mudanças climáticas e o Fair Trade, comércio com remuneração justa a pequenos agricultores e o Planejamento estratégico das cadeias produtivas para mitigar os riscos dos fatores incontroláveis.

Também é imprescindível a ação conjunta da sociedade civil organizada e dos setores públicos para deixar claro a atuação do agronegócio – e sua importância para o Produto Interno Bruto (PIB) do país – e combater as fake news, que semeiam inverdades sobre o setor.

A agropecuária brasileira tem ótimas iniciativas. Destaco o bem-estar animal, o Agro Legal (programa que auxilia na regularização ambiental no estado de São Paulo), o PronaSolos (raio-x dos solos brasileiros coordenado pela Embrapa), o Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e as ações da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) para informar sobre a origem dos alimentos.

E não podemos esquecer dos trabalhos científicos do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), de Campinas, que serão de muita valia para a Associação Brasileira da Indústria Alimentação (Abia). Os supermercados também são importantíssimos no agroconsciente. Preciso mencionar o programa RAMA, de Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos. “Queremos que nossas cerca de 90 mil lojas, além de pontos de vendas, sejam salas de aula de educação para o consumidor final sobre alimentos, nutrição e anti-desperdício”, explicou Márcio Milan, diretor executivo da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). E tem ainda a produção agrícola vertical nas cidades, que utiliza tecnologias para sobreposição do cultivo na mesma área.

Meu desejo é que todas as entidades do país se reúnam no agroconsciente, que é a única forma de prosperidade daqui pra frente. E que Alysson Paolinelli, ex-ministro da agricultura, traga o Nobel da Paz. Neste novo agro, precisamos de um líder pacificador. Até 8 de março na rádio Eldorado. 

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*José Luiz Tejon Megido é doutor em Educação pela UDE – Uruguay; mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie; professor de MBA na Audencia Business School, em Nantes, na França; coordenador do Agribusiness Center da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP); sócio-diretor da Biomarketing e membro do Conselho Científico do Agro Sustentável (CCAS) e do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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