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#OAgroNãoPara


A prática da agricultura, estima-se, começou a cerca de 12 mil anos atrás, durante o período neolítico.

A Peste de Atenas, no século 5 a.C., durante a Guerra do Peloponeso, foi o primeiro registro histórico de uma grande epidemia. Acredita-se que 1/3 da população ateniense morreu vítima da peste. À época, a cidade deveria ter algo entre 250 mil e 300 mil habitantes. Sendo assim, de 80 mil a 100 mil pessoas podem ter morrido em decorrência da epidemia.

Desde então, o mundo – e a agricultura por consequência – atravessou diversas outras grandes epidemias e pandemias: Peste Negra, Cólera, Gripe Russa, Gripe Espanhola, Gripe Asiática, entre outras. Em pouco mais de um ano, a pandemia causada pelo Sars-CoV-2 matou quase três milhões de pessoas no mundo e mais de 300 mil no Brasil. O agronegócio brasileiro, incluído no rol de atividades essenciais à população, não tem passado incólume pela situação, mas foi um dos setores menos afetados da economia nacional.

Mesmo com a pandemia, o Brasil foi um dos poucos países do mundo a aumentar suas exportações. Os portos permaneceram abertos e a cadeia logística continuou a funcionar. As exportações brasileiras do agronegócio, para cerca de 170 países, somaram US$ 100,81 bilhões em 2020, segundo maior valor da série histórica, atrás somente de 2018 (US$ 101,17 bilhões) e 4,1% maior que em 2019.

Quase metade das exportações do país no ano passado tem de ser creditada ao agronegócio, que teve participação recorde, de 48%, no que é comercializado para o exterior – foi o único setor que apresentou crescimento nas exportações no último ano.

Em março de 2020, a hashtag #OAgroNãoPara ganhou as redes sociais. Ajudou a disseminar os conceitos de segurança alimentar e segurança do alimento, que vieram à tona, e mostrou que o setor reagiu rapidamente ao novo cenário e ainda conquistou novos mercados com competência e competitividade.

O agronegócio já responde por 25% do PIB nacional, gera cerca de 18 milhões de empregos e teve o seu Valor Bruto da Produção (VBP) de 2020 estimado em cerca de R$ 800 bilhões, maior cifra em reais da história do setor.

300 milhões de toneladas à vista

O Brasil figura entre os três maiores produtores de alimentos do mundo. Ano após ano, alcança recordes na produção de grãos. A safra 2020/21 está estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 272,3 milhões de toneladas, um aumento de 15,4 milhões de toneladas em relação à safra anterior. Antes de 2027, como era previsto inicialmente, parece ser possível atingir a marca de 300 milhões de toneladas de grãos colhidos.

As lavouras por aqui ocupam apenas 7,6% do território – cerca de 66% dele ainda é recoberto por matas nativas. Nas últimas quatro décadas, a produção nacional de alimentos cresceu mais de 360% com um aumento de apenas 56% da área de cultivo. Isso só foi possível por causa da geração e adoção de um pacote de tecnologias que incluiu, entre outros avanços, as plantas melhoradas geneticamente, fertilizantes, defensivos agrícolas, agricultura de precisão e ampliação da adoção da agricultura 4.0. Sem dúvida, mão de obra qualificada, investimento em pesquisa, desenvolvimento e um ecossistema voltado à inovação são fundamentais para que se continue a modernização no campo.

A pandemia não alterou tendências, mas as acelerou incrivelmente – em todas as pontas, antes e depois da porteira. Drones, sensores, softwares de gestão, internet das coisas, inteligência artificial, big data, machine learning já eram realidade no agronegócio, mas ganharam um empurrão com a chegada da covid-19. Tecnologias que reduzem custos e proporcionam ganhos em produtividade são bem-vindas sempre – e, em especial, em momentos como o atual.


Whatsapp e a intensificação digital

Diversas pesquisas já apontavam o crescimento da digitalização entre os produtores rurais. Uma das mais recentes, feita pela consultoria McKinsey, com 750 produtores em 11 estados, mostrou que 85% deles usam Whatsapp diariamente para atividades relacionadas ao trabalho. Outro dado apontou que 71% utilizam canais digitais para resolver demandas do gerenciamento da propriedade.

A busca pela inovação, mostrou o estudo, é maior entre os agricultores com menos de 45 anos, que representam dois terços dos produtores de grãos e algodão das regiões Centro-Oeste e Nordeste.

Com a pandemia, a rastreabilidade do alimento se intensificou. Agricultores e pecuaristas se viram obrigados a se aproximar do consumidor final e se lançaram em diferentes plataformas digitais para ampliar os canais de marketing e venda direta.

Negociações presenciais tiveram de ser substituídas pelas virtuais. Feiras e eventos agrícolas foram cancelados. Algumas empresas, no entanto, enxergaram nisso a possibilidade de criar eventos online para manter os potenciais clientes atualizados.

Empresas que entregam insumos aos agricultores também aceleraram o investimento no mundo digital. Criaram plataformas de e-commerce e soluções para atender os clientes à distância. Da mesma forma que o comércio online cresceu em detrimento às lojas físicas, a pandemia parece ter dado um impulso forte na adoção de compras online no agro.

Na China, antes da covid-19, 500 milhões de chineses faziam compras online. Em um ano de pandemia, esse número cresceu para mais de 800 milhões de chineses. Segundo dados da eMarketer, empresa americana de pesquisa, em 2021, a cada 100 compras na China, 52 devem ser feitas por e-commerce. É a primeira vez na história que o comércio online ultrapassa as vendas das lojas físicas em um país. O estudo prevê que, até 2024, as vendas do e-commerce chinês atingirão 58,1%.

As gigantes Alibaba e JD.com fizeram com que chineses (e o mundo todo) encontrassem praticamente tudo o que precisam ao alcance de uma tela. Mas não somente elas. O agronegócio do país, por exemplo, realiza a maior parte de suas vendas online, como pela Pinduoduo, plataforma que, entre outras coisas, conecta agricultores e distribuidores aos consumidores por meio de sua experiência de compra interativa que mistura estratégias de redes sociais com e-commerce. #Ficaadica para o agro e os negócios em tempos de pandemia.


Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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