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Fui indicado ao Prêmio Nobel da Paz 2021, mas na abertura deste artigo, gostaria de enfatizar que a indicação e eventual premiação não será para mim, e sim para a agropecuária brasileira. O Brasil desenvolveu a tecnologia para agricultura tropical mais eficiente e sustentável do planeta. De maneira contínua, o agro brasileiro gera oferta, qualidade e diversidade de grãos, proteínas, fibras e energia renovável a preços compatíveis, assegurando o abastecimento interno e gerando excedentes exportáveis. De país importador, nos tornamos um dos maiores exportadores de produtos agrícolas e a tendência é que este posicionamento se acentue ainda mais.
Fazendo um recorte para a cadeia produtiva do milho, 2020 foi um ano excelente para o produtor, devido à demanda aquecida, especialmente internacional, e preços remuneradores, turbinados pelo câmbio favorável. O Brasil vem ano a ano se posicionando nos mercados internacionais como fornecedor do milho de melhor qualidade. Na comparação com outros grandes produtores, nosso grão apresenta melhores características nutricionais, que favorecem a conversão alimentar (diminuiu o tempo necessário para o alimento se converter em ganho de peso) da produção de proteína animal, seja na suinocultura, avicultura, bovinocultura e também na piscicultura.
Falando da abertura de novos mercados para o milho brasileiro, a China desponta como janela de oportunidade. A peste suína africana, que nos últimos anos praticamente dizimou o plantel chinês de “fundo de quintal”, fez com que Pequim tomasse a decisão de mudar a estrutura local de produção. Com isso, os chineses passaram a investir na implantação de sistemas altamente tecnificados para fabricação de carne suína, o que inevitavelmente demandará grandes volumes de ração e consequentemente de matérias-primas como milho e farelo de soja.
No ano passado mesmo, a China demonstrou interesse em adquirir mais milho brasileiro, mas faltaram estoques. E, é neste ponto que reside uma de minhas principais preocupações, porque precisamos produzir muito mais, no mínimo, entre a 10% a 15% pelas próximas duas, três décadas, a fim de conseguirmos continuar atendendo com constância o mercado doméstico e a crescente demanda global.
Contudo, esta equação passa, impreterivelmente, por uma remuneração satisfatória para o produtor rural, que a despeito do viés altista para as cotações, enfrenta enormes desafios. Primeiro, porque países concorrentes subsidiam a produção, como, por exemplo, China e Estados Unidos. Segundo, é que o milho em grão, tradicionalmente, tem valor baixo nos mercados internacionais, o que impacta na margem do produtor, que anualmente só vem observando alta nos custos de produção. E terceiro, é que o agricultor nacional sofre com o atual sistema de impostos – assim como todo o setor produtivo – sendo alvo de tributação indireta.
Vale ressaltar que o agronegócio brasileiro não advoga por subsídios. A massificação do seguro rural é um caminho muito mais lógico e racional para a nossa realidade. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vem atuando de modo impecável neste sentido, elevando o apoio para auxiliar no pagamento do prêmio, mas os recursos sabiamente ainda são insuficientes para atender o gigantismo do agro brasileiro. Já existe uma proposta – que envolve a participação de todos os agentes privados da cadeia produtiva do agro – em interlocução com o governo para impulsionar o seguro rural, mas ainda não obteve tração para avançar.
Ademais, gostaria de encerrar este artigo, falando das perspectivas que a ampliação da irrigação pode trazer para aumentar a produtividade do agro brasileiro. A verdade é que, infelizmente, ainda irrigamos muito pouco. Produtores de milho do Brasil Central que já adotam – há alguns anos – a tecnologia produzem corriqueiramente três safras. É preciso democratizar a irrigação, assim como outros modelos, como, por exemplo, os sistemas integrados entre lavoura-pecuária-floresta. Com estes avanços, vamos, uma vez mais, reafirmar que a agricultura tropical sustentável, desenvolvida no Brasil, é realmente imbatível.
* Alysson Paolinelli é presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e ex-ministro da Agricultura.
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.