Por José Luiz Tejon Megido*
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O ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli, acaba de ser indicado para o prêmio Nobel da Paz. A nomeação foi protocolada no conselho norueguês do Nobel pelo diretor da Esalq (USP – Piracicaba), o professor Durval Dourado Neto. Alysson foi ministro da Agricultura e é conhecido como pai da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por acelerar, catalisar os trabalhos da entidade nos anos 70 ao criar bolsas de estudos para pesquisadores brasileiros no exterior. Em 2006 ganhou o prêmio World Food Prize, um equivalente a um Nobel da Alimentação.
Formado na Universidade Federal de Lavras (UFLA), este agrônomo – ao longo dos últimos 50 anos, desde a secretaria de Agricultura de Minas Gerais em 1971 até 2021 – tem sido um símbolo da produção de alimentos no Brasil, um homem que ensinou os brasileiros a plantar e a criar o que no passado era considerado impossível. Essa contribuição não vale só para o Brasil. Pode ser estendida para toda faixa do cinturão tropical do planeta, dando assim autonomia alimentar a essas regiões.
O Brasil importava quase tudo. Hoje, além de abastecer sua população, o país exporta quase tudo e tem condições de reinicializar a economia com base na ciência e tecnologia, que Alysson Paolinelli simboliza e incentiva.
Mas Alysson da Paz não sossega, jamais estaciona. E continua nos inspirando para a gestão precisa de cada microbioma. E fala agora da água, da necessidade de irrigação para darmos outro salto na produção de alimentos, fibras e energia. E como sempre, acima de tudo, gerar dignidade humana e riqueza onde antes havia pobreza.
Em 1970, outro agrônomo ganhou o Nobel da Paz. Foi o americano Norman Borlaug, que levou alimentos para o mundo, a chamada revolução verde. Alysson agora tem esta possibilidade. O mineiro implementou políticas públicas focada em pesquisa e desenvolvimento, que tornaram agricultáveis os solos outrora ácidos e inférteis do Cerrado. Meio século após Norman Borlaug seria muito merecido o Nobel da Paz para um agrônomo cuja vida sempre esteve focada na produção de alimentos.
E que assim seja, porque os brasileiros nunca precisaram tanto de um só brasileiro como agora. Em meio a raiva, ódio, desavença e desunião, Alysson Paolinelli traz uma mensagem de paz, um verdadeiro guerreiro da conciliação.
Este brasileiro também foi deputado constituinte em 1988. Dois anos atrás, tivemos uma conversa na cidade de Janaúba (MG), município do projeto de irrigação Jaíba. “Tem muita coisa para ser feita, mas eu não confio mais em governo”, disse Alysson. Lógico, este sábio não quis dizer que não precisávamos de governo. O que ele afirmou é que, sozinho, o governo não tem capacidade de realização.
Há uma interdependência que não funciona entre os ministérios. “No agro vencemos etapas, temos programas, geramos soluções e mantemos viva a economia brasileira. Este agro não pode esperar pelo governo. Precisamos da sociedade civil organizada, precisamos que a sociedade reaja, e que outros setores, além do agro, se organizem e cresçam”, enfatizou Alysson Paolinelli. “Depende de nós, de nos organizarmos. A democracia é o melhor sistema de todos, mas precisa da sociedade civil organizada, em parceria com os governos”, acrescentou.
Para finalizar, lembro de uma fala frequente de outro ex-ministro, Roberto Rodrigues, hoje à frente do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “O Brasil é da paz”, costuma dizer. Viva a paz e que venha o sr. Alysson Paolinelli.
*José Luiz Tejon Megido é doutor em Educação pela UDE – Uruguay; mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie; professor de MBA na Audencia Business School, em Nantes, na França; coordenador do Agribusiness Center da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP); sócio-diretor da Biomarketing e membro do Conselho Científico do Agro Sustentável (CCAS) e do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.