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O agro tem de produzir o que o mundo quer comprar

Por Marcello Brito*

O agronegócio brasileiro conseguirá sustentar os índices de crescimento registrados nos últimos 30 anos com aumento de produtividade e muito investimento em inovação tecnológica. Tal premissa básica, repetida por vários especialistas nos últimos tempos, necessita vir acompanhada de uma postura mais proativa dos agentes envolvidos na cadeia do agronegócio em relação aos mercados internacionais: temos de ir ao encontro do que o consumidor mundial quer comprar, e não simplesmente o que podemos ou queremos vender. Essa é a nossa lição de casa para o futuro.

Precisamos desenhar uma estratégia mercadológica inteligente, entender o que vamos produzir, onde vamos produzir, para quem vamos produzir e em que condições se dará essa produção. Neste século saímos da condição de um mercado comprador e começamos a transformar nossa mentalidade na direção de um país vendedor. É uma mudança de posição, na qual o empresário rural e a indústria exportadora precisam se comunicar mais para produzir o que o seu consumidor quer comprar, e não o que ela tem para oferecer.

“Saímos da condição de um mercado comprador e começamos a transformar nossa mentalidade na direção de um país vendedor”

Essa mudança de perspectiva precisa ser adotada de forma rápida. De 2000 a 2018, as nossas exportações saltaram de US$ 20 bilhões a mais de US$ 100 bilhões. Assistimos ao Brasil participando das principais feiras e exposições internacionais. Procuramos nos aproximar do continente asiático, em especial da China. Várias comitivas organizadas pelo governo e pela iniciativa privada vêm sendo empreendidas. O protagonismo do agro brasileiro possui reconhecimento em escala global. Só que, cada vez mais, a competição se tornará mais acirrada no mercado internacional, pois, em todos os aspectos, os compradores ficam bastante exigentes.

Nesse contexto de concorrência, ganha relevância o rol de preocupações do agro com a inserção, por exemplo, de conteúdos ambientais nas negociações do comércio internacional. Dessa forma, acreditamos nas parcerias que deverão ser firmadas agora, sobretudo a partir do fechamento do grande acordo entre o Mercosul e a União Europeia, com crescentes demandas.

Para tanto, devemos intensificar nossas ações de divulgação de todas as atividades sustentáveis e perfeitamente amigáveis com o ambiente já realizadas pelo agro brasileiro. Devemos lembrar que cumprimos uma das mais restritivas legislações sobre preservação ambiental do mundo. Em nenhum outro país, sobretudo entre os nossos mais diretos competidores, o produtor tem de preservar parte de sua propriedade. E isso
sem nenhum benefício ou incentivo a quem preserva, o agricultor.

“No contexto de concorrência, ganha relevância o rol de preocupações com a inserção de conteúdos ambientais nas negociações do comércio internacional”

Em paralelo a esse trabalho de explicar melhor nossas ações, devemos ainda concentrar esforços para cuidar da completa implementação do Código Florestal, além de validar rapidamente o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e avançar nos Programas de Regulamentação Ambiental (PRAs). Da mesma forma, cabe regulamentar a legislação sobre os incentivos econômicos para a proteção da vegetação nativa, com pagamentos por serviços ambientais (PSAs) e a criação do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões.

Essas ações devem ser implementadas em caráter de urgência, pois outros países não estão parados e intensificam políticas ambientais agressivas. A China, por exemplo, principal parceiro comercial do agro brasileiro, prevê a transformação do país em uma economia verde. Em 2017, o governo anunciou investimentos de US$ 360 bilhões em energia limpa até 2020. A posição brasileira deve estar alinhada a essa visão estratégica e de longo prazo nas questões ligadas à sustentabilidade. Isso será decisivo para o futuro do nosso agro.

*Marcello Brito é presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag)

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