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Os riscos das narrativas sobre desmatamento

O ambientalismo engajado se esforça para difundir a tese de que a demanda por alimentos impulsiona o desmatamento ilegal. Para tanto, baseia-se em estudos conduzidos a partir de imagens por satélite, relacionando área de pastagens com desmatamento. 

Usa também modelagens que comparam a rentabilidade da pecuária com outras atividades agrícolas, demonstrando que a agricultura acaba por empurrar a produção de carne sobre as áreas que deveriam ser preservadas. Tais estudos, apesar de ricos em dados e informações, são incompletos. 

É fato que existe uma correlação entre desmatamento e área de pastagens. Ninguém questiona essa realidade. 

Mas as divergências com os pesquisadores especializados em ciências agrárias começam na explicação das causas que levam ao desmatamento.  

Com estudos mais abrangentes, incluindo equipes multidisciplinares conhecedoras dos sistemas de produção e da dinâmica financeira ao longo da cadeia produtiva, especialistas do agro concluem que o grande impulsionador do desmatamento ilegal é a especulação imobiliária – prática viabilizada pela perspectiva de impunidade e pelo mercado informal.

Essa conclusão é recorrente e já foi obtida por diferentes metodologias estudadas em diferentes instituições.  O assunto foi tratado aqui em outubro de 2021, no artigo “Pecuária é consequência e não causa do desmatamento”.

Explicar essa diferença é essencial do ponto de vista decisório. Os riscos envolvendo desinformações apresentadas como estudos conclusivos são enormes. Não se trata de retórica.  

O início da guerra entre Rússia e Ucrânia, no final de fevereiro, desencadeou uma série de problemas de proporções globais. O impacto inflacionário no mundo todo será inevitável. No caso do Brasil, a preocupação imediata é com o fornecimento de fertilizantes. Em 2021, Rússia e Bielorrússia responderam, juntas, por 29,7% do fornecimento de fertilizantes para o Brasil. 

Mesmo que o fornecimento seja garantido, não há dúvidas de que os custos irão subir. O mesmo ocorrerá com petróleo, energia elétrica, custos dos fretes marítimos etc. 

A gravidade do cenário já seria considerável se ocorresse isoladamente em uma situação de normalidade. No entanto, é preciso lembrar que o mundo todo já foi castigado por dois anos da pandemia que ocorreu na sequência de uma queda na oferta global de proteína, ocasionada pela peste suína africana na Ásia. 

Os brasileiros, ainda que protegidos por um agronegócio dinâmico e eficiente, não ficaram imunes aos efeitos. 

No primeiro trimestre de 2022, o preço da carne bovina ao consumidor é 65% superior à média registrada em 2019, segundo dados do Instituto de Economia Agrícola, do estado de São Paulo. As carnes de frango e suíno estão 45% acima, na comparação do mesmo período. E, pela frente, a sociedade ainda lidará com o aumento dos custos de produção que, consequentemente, afetará os preços das proteínas. 

Fundamental lembrar também que a dependência do Brasil por correção do solo e adubação é muito maior quando comparada aos países de clima temperado. Isso se deve às características geológicas e climáticas, e não à opção de agricultores e pecuaristas. 

Buscar soluções para o problema não é simples e algumas delas poderiam ter sido adotadas há algum tempo. Poderíamos ter investido na exploração de reservas de minérios a serem usados como fertilizantes. Dado mais atenção à ciência agronômica e investido em melhoria das condições gerais do solo, garantindo uma “poupança” de fertilidade que proporcionaria mais fôlego nesse momento. Mas, infelizmente, os temas foram tratados com sobra de discursos ideológico-populistas e escassez de efetividade. 

A sociedade enfrentará um dilema em ano eleitoral. Precisará escolher representantes eficientes em conter a inflação que está por vir. E, nesse debate, os que se autoproclamam defensores da proteção ambiental investiram tempo, recursos e propaganda para reforçar a mentira de que o aumento da produção de alimentos depende da expansão de áreas e não da tecnologia aplicada no campo. 

Seria interessante que respondessem, agora, quais serão as decisões dos brasileiros se tiverem que escolher entre comida acessível ou proteção ambiental. 

O agronegócio sabe que o aumento da produção de alimentos não depende de desmatamento. Não só sabe, como colocou em prática. Incluindo toda a produção agrícola e pecuária, a produtividade média de cada hectare cultivado no Brasil será de 5,2 toneladas em 2022, o dobro das 2,6 toneladas por hectare registrada 20 anos atrás.  

Institutos que vêm requentando estudos criativos com o objetivo de enganar a sociedade sobre as causas do desmatamento precisam decidir se defenderão soluções técnicas ou se continuarão focados em agendas mantidas por meias verdades e narrativas. É uma questão de escolha. 

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