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Desindustrialização? Não é culpa do agro!

É o valor necessário para levar à frente o plantio de grãos em 2022/23, segundo o Ministério da Agricultura

Por Maurício Palma Nogueira

Com muita frequência, o sucesso do agronegócio é confrontado pelos críticos que o apontam como causa de uma suposta desindustrialização do país. Para defender suas teses, usam o exemplo da soja, um dos principais produtos exportados pelo agro brasileiro.

Entre os anos de 1980 e 1990, o Brasil esmagava entre 75% e 80% da soja produzida. Para cada tonelada de soja esmagada obtém-se cerca de 780 kg de farelo e 190 kg de óleo de soja, produtos que, somados, agregarão maior valor em relação ao valor da soja em grão.

Atualmente, entre 35% e 40% da soja brasileira é esmagada internamente. E essa porcentagem vem recuando lentamente, comprovando a observação dos críticos de que o Brasil industrializa bem menos soja do que em décadas passadas.

No entanto, embora os dados apresentados estejam corretos, a conclusão de que o País está se desindustrializando é totalmente equivocada. Trata-se de um erro de interpretação matemática que induz a um raciocínio superficial e incompleto.

Nos últimos 25 anos, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro vem aumentando a uma taxa média de 2,1% ao ano. No mesmo período, a quantidade de soja esmagada no Brasil cresceu 3,7% ao ano, índice um pouco superior ao desempenho do PIB do Agronegócio, que vem registrando uma elevação média de 3,4% ao ano, segundo números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

É interessante notar que o desempenho da agroindústria de soja foi melhor do que o desempenho médio de outros setores da economia, como a indústria em geral (que aumentou 1,1% ao ano) e o setor de serviços (2,26% ao ano). Vale ressaltar que a comparação é feita entre a quantidade de soja esmagada e o PIB dos demais setores, o que envolve quantidade movimentada e valor de mercado. Ainda assim, o raciocínio é válido porque o objetivo é contra-argumentar a tese falaciosa de que o agronegócio estaria provocando uma desindustrialização do país.

A redução da quantidade esmagada pela indústria brasileira é explicada pelo desempenho do campo, cuja produtividade vem aumentando a passos largos, tanto por hectare plantado como pela ocupação de áreas de pastagens. Em 25 anos, a produção de soja brasileira aumentou 6,4% ao ano, um ritmo de crescimento 1,7 vez superior à capacidade de esmagamento.

Portanto, o que alguns analistas chamam de desindustrialização é, na verdade, um aumento espetacular no desempenho do campo, que não é acompanhado pela indústria. Quando alguém, denuncia essa suposta desindustrialização, normalmente o raciocínio é direcionado para a tese de que se essa soja ficasse no Brasil, a indústria seria beneficiada, agregando valor internamente.

Mas a verdade dos fatos é exatamente oposta. A indústria de esmagamento se beneficia dessa produtividade do agro, tanto é que o ritmo de aumento da quantidade esmagada internamente ocorre a uma taxa 1,8 vez superior ao aumento médio anual do PIB brasileiro.

Mais interessante ainda é notar que o perfil dos influenciadores que apontam a suposta desindustrialização é o mesmo que sempre questiona e advoga pela redução da quantidade de carnes exportada pelo Brasil.

Ora, existem duas formas de o Brasil aumentar a porcentagem de soja esmagada internamente. A primeira é ampliando a demanda por farelo no mercado interno, o que aconteceria naturalmente com o aumento da quantidade exportada e produzida de carnes. A segunda é diminuir a quantidade produzida de soja agradando aqueles que discursam sobre porcentagens sem entender o conceito.

Em um mundo que tanto discute temas relacionados à sustentabilidade e a garantia de alimentos para população, não parece razoável defender um raciocínio que, na prática, desaceleraria um setor que vem apresentando desempenho bem acima da economia. Entre 1991 e 2021, a produtividade média de toda a área usada para a produção vegetal e animal, no Brasil, aumentou no ritmo de 4,2% ao ano.

A melhor estratégia para aumentar o nível de industrialização do país é focar em medidas e ações que estimulem e facilitem a competitividade. Desacelerar o setor mais dinâmico da economia, em nome de uma porcentagem mais agradável, acabará gerando efeito inverso ao que se deseja. Não é por aí.

Maurício Palma Nogueira é engenheiro agrônomo, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária

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