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A pecuária de leite é um mercado a ser explorado pelas agtechs

Gustavo Salvati*

A pecuária leiteira vem selecionando os produtores mais eficientes ao longo dos anos devido à elevação do custo de produção do litro do leite.  De acordo com o censo agropecuário de 2017, realizado pelo IBGE, o número de produtores teve redução de 13% em relação ao levantamento realizado em 2006 – aproximadamente 175 mil saíram da atividade. Nesse contexto, a adesão de tecnologia para otimizar processos na fazenda e aumentar a eficiência de produção se tornou pujante. 

Atualmente, temos uma gama de novos equipamentos e serviços que estão ganhando espaço no mercado nacional. Um exemplo disruptivo é o aumento significativo do número de robôs em fazendas leiteiras, realizando a ordenha automatizada das vacas. Além do ganho em eficiência operacional e aumento da produção por animal, esses equipamentos geram um banco de dados sobre a qualidade do leite e a saúde do rebanho que permite decisões mais assertivas pelo pecuarista. 

Uma barreira à adesão da tecnologia é o custo da mesma no seu estágio inicial. Toda novidade tem um ciclo de aceitação pela comunidade, a priori tem-se os early adopters que são os primeiros clientes a testarem os novos produtos e serviços. Com o passar do tempo, ocorre a percepção de valor pelos demais produtores no ganho em eficiência produtiva, que passam a aderir com mais facilidade à tecnologia. 

Novos pedidos geram tração e escala no mercado, o que reduz os custos e permite uma maior democratização da tecnologia. Porém, nem sempre isso ocorre, pois a maior parte das soluções para pecuária leiteira ainda são de empresas estrangeiras, as quais têm seu custo atrelado em dólar. Logo, isso tem gerado menor número de vendas com a alta expressiva da moeda norte-americana nos últimos anos, o que é uma oportunidade para startups brasileiras.

Nessa lógica, surgiram nos últimos cinco anos um número grande de startups brasileiras gerando novos produtos e serviços, tais como coleiras que permitem o monitoramento em tempo real das atividades de locomoção e ruminação das vacas. Esse equipamento, que se enquadra dentro da categoria IoT (internet das coisas), permite a identificação de algumas anomalias causadas por doenças e o momento que a vaca está mais fértil para ser inseminada. Além de aumentar a eficiência reprodutiva e identificação precoce de doenças, esse tipo de inovação está impactando os profissionais atuantes na pecuária que agora precisam aprender a lidar com essas novas ferramentas e bancos de dados. Temos ainda soluções para monitoramento de consumo de ração, ganho de peso dos animais, gestão ágil da fazenda por meio de plataformas amigáveis, uso racional de antibióticos, dentre outras. 

A maioria da agtechs ainda está voltada para o mercado da agricultura, mas está por vir um aumento de startups focados na área de produção animal. Hoje, no AgTech Valley (Vale do Piracicaba), percebe-se a consolidação de um ecossistema sólido com investidores, hubs/incubadoras e instituições de pesquisa para dar suporte ao surgimento desses empreendimentos. Logo, veremos mais soluções de startups brasileiras para pecuária leiteira.

*Gustavo Salvati, cientista animal e co-founder da Systech Feeder e Tracking Feed, associadas da Esalqtec.

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