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É preciso cuidar da água hoje para não faltar amanhã

*José Luiz Tejon Megido

Mais de 820 milhões de pessoas não têm acesso suficiente a alimentos no
mundo. Dois terços dos habitantes do planeta passarão por algum problema de falta d’água. Água e alimentos formam um elo indissolúvel.

Eduardo Assad, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), afirma que as culturas do café, da soja e do milho serão as que mais sofrerão com a redução das chuvas e com o aquecimento global. Água é vital.

O Brasil pode e deve ter um plano para se tornar um País resiliente na questão da água. A ministra Tereza Cristina, da Agricultura, possui três planos fundamentais para o enfrentamento desse problema que pode virar uma gigantesca oportunidade.

Segundo Mariane Crespolini, diretora da Produção Sustentável e Irrigação do Ministério, o primeiro plano é o ABC, de Agricultura de Baixo Carbono, em que o plantio direto é fundamental para proteger o solo e evitar a erosão. Inclui aí o modelo integração lavoura pecuária e floresta.

O outro é o Programa Nacional de Solos (Pronasolos), ao lado da Embrapa Solos. Petula Ponciano, chefe-geral desse departamento que possui um estudo minucioso dos solos do País, afirma que gestão de água exige conhecimento do solo.

E o terceiro será o plano Águas do Agro, uma iniciativa nacional de
microbacias. Independentemente das cercas de cada propriedade rural, irá
ocorrer uma gestão colaborativa para preservação das microbacias, que geram água para as suas unidades produtivas. Isso significará mais produtividade e segurança da produção, além de meio ambiente. A proteção das microbacias a nível nacional irá transformar o produtor rural em produtor de água, como o ex-ministro Alysson Paolinelli tanto enfatiza.

E com a água administrada e preservada, ela não será mais “gasta, e sim
utilizada”, reaproveitada e se transformará em abundância e riqueza saudável para todos. Lineu Rodrigues, pesquisador da Embrapa, tem nos seus estudos e artigos a fórmula para todos que quiserem. Podem acessar e já mergulharem nessa água boa. “Precisa acabar com mitos de que a irrigação gasta a água. Ao contrário, irrigação utiliza a água e ajuda na sua preservação”, afirma Rodrigues.

O Brasil tem 12% da água doce superficial do planeta e 28% do continente
americano. O mundo precisará crescer em 70% o total de sua produção de
alimentos para atender 10 bilhões de pessoas em 2050. E alimento é água e a ciência essencial.

No País, são usados cerca de 65 milhões de ha para sua produção agrícola,
incluindo tudo. Com a gestão da água, podemos multiplicar por três o que
fazemos nessa mesma área, sem 1 ha a mais e sem uma árvore a menos,
segundo Alysson Paolinelli.

O Brasil tem mais cerca de 162 milhões de ha de pastagens, segundo o IBGE. Desses, cerca de 100 milhões degradados que com a gestão de solos e água podem ser incorporados nos alimentos via plano ABC e Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF). Significa que temos área já aberta para multiplicar por dez o que fazemos, e crescer em novas culturas, tudo isso associado com agroindústrias gerando dignidade, renda, empregos e impactos significativos no PIB do Brasil. Além da “consertação” da imagem brasileira no mundo.

Mas nem só de governo vivem as ações que mudam o mundo. A sociedade civil organizada será cada vez mais responsável. Um exemplo na cidade de Ibiraci, Minas Gerais, um brasileiro, Zezinho Limonti, professor, artista, administrador, inspirou a criação de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) dos Protetores da Bacia do Rio Grande (Probrig).

Com ele se reuniram profissionais liberais, promotor de justiça, empresários, educadores e agricultores para cuidar do patrimônio cultural, turístico e ambiental da bacia, e com isso me disse orgulhoso terem ali um dos melhores cafés especiais do País, e uma referência de produtores para a Cocapec uma importante cooperativa de café de Franca, além de uma série de outros benefícios em que a água preservada se transforma em riqueza para todos. Zezinho tem assento no comitê de bacias hidrográficas da Agência Nacional de Águas (Ana).

Portanto, Dia Mundial da Água, e como Guilherme Arantes cantou: “Terra, planeta água…água que nasce na fonte serena do mundo e que abre um profundo grotão… água que faz inocente riacho e deságua na corrente do Ribeirão……..terra planeta água”.


Eu diria agroconsciente, o agricultor do futuro é um produtor de água e que as cidades os imitem.

Dia 22 de março é Dia Mundial e Semana da Água, em que a consciência é vital, a ciência essencial e o meio ambiente crucial.

*José Luiz Tejon Megido é colunista do Jornal Eldorado, doutor em Educação, mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie; professor de MBA na Audencia Business School, em Nantes, na França; coordenador do Agribusiness Center da Fecap; membro do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) e do Conselho Científico do Agro Sustentável (CCAS) e sócio-diretor da Biomarketing

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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