Por Bartolomeu Braz Pereira*
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A China é a principal parceira comercial do Brasil desde 2009, quando o fluxo de comércio entre os dois países superou as transações brasileiras com os Estados Unidos. Atualmente, a parceria entre Brasil e China movimenta mais de US$ 100 bilhões, o equivalente a 25% do comércio global feito pelo Brasil. Ainda mais importante é o superávit de US$ 30 bilhões na balança comercial com os chineses, que representou 62% do saldo positivo do Brasil em 2019. E é impossível falar de superávit da nossa balança comercial sem destacar a importância do agronegócio e sua história de sucesso, que não pode ser dissociada da história recente da China. Se o país teve crescimento sustentado, muito desse resultado se deve a essa parceria.
Em 1990, as importações da China de soja não eram relevantes. Dez anos mais tarde os chineses passaram a importar um quarto da soja negociada entre países. Atualmente, 60% de toda a soja importada no mundo vai pra China, o equivalente a 82 milhões de toneladas de grãos de soja em 2019. A explicação para esse fenômeno não foi só demográfica, mas foi uma outra transformação pela qual os países asiáticos passaram que permitiu esse salto em sua demanda por alimentos.
A urbanização de parte da população chinesa, de cerca de 500 milhões de pessoas, trazendo consigo o incremento de renda, alterou o padrão de consumo das famílias. Com mais dinheiro, as pessoas passam logo a consumir mais proteína animal. E a soja é a proteína vegetal de melhor custo benefício para produção de carnes.
E é justamente esse o destino da soja importada pela China. Ela é usada no consumo das criações de frango, peixes e, sobretudo, de suínos, a carne mais consumida no mundo, graças aos chineses, que sozinhos produzem e consomem metade dos suínos do planeta. Vale lembrar que a soja é utilizada no Brasil para a produção de carnes – frangos e suínos – que também são exportados para os mercados asiáticos.
A crescente demanda chinesa fez a soja se tornar o principal produto exportado pelo Brasil, garantindo bilhões de dólares em divisas todos os anos. São impostos para os estados e municípios, desenvolvimento para o interior do Brasil, empregos, carnes em abundância e a preços acessíveis. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios em que a soja é produzida melhorou, passando de baixo e muito baixo na década de 90 para alto e muito alto duas décadas depois. Prova de que onde tem soja, a vida das pessoas melhora.
Mas o mais interessante disso tudo é o fato de a soja ser uma cultura milenar chinesa, assim como a laranja, o pêssego e o arroz, consagrado na mesa dos brasileiros. Ou seja, boa parte dos alimentos preferidos pelos brasileiros foram uma dádiva oriunda da China. No caso da soja, a oleaginosa contribuiu com a interiorização do país e o seu desenvolvimento, ao produzir óleo e carnes a preços acessíveis para toda a população. Vale ressaltar que o grande excedente da nossa produção retornou para a China, como que devolvendo o presente, garantindo segurança alimentar para eles e para todo o mundo.
Por falar em excedente, se o Brasil tem US$ 48 bilhões de superávit na balança comercial, é graças em boa medida aos grãos de soja que exportamos para aquele país. Em 2019, em valores acumulados, dos US$ 26 bilhões exportados, o equivalente a 78% seguiu para a China. E por tratar-se de segurança alimentar, podemos dizer que nossa parceria é sustentável. Mais do que isso: é essencial, portanto, deve perdurar por muitos anos.
Nos últimos 30 anos, o Brasil tornou-se um gigante na produção de alimentos dado o empreendedorismo dos produtores rurais, a disponibilidade de terras, a alta competitividade alcançada com dinamismo e tecnologia incorporada e, sobretudo, a crescente demanda mundial por alimentos. A consolidação dos mercados asiáticos, como um todo, incluindo 1,4 bilhão de chineses tiveram papel extremamente relevante. No caso da soja, coincidência ou não, foi nos últimos 30 anos que o país assumiu o protagonismo nas importações, período que coincide com a criação da Associação Brasileira dos Produtores de Soja, o que demonstra a importância da união de esforços em prol do desenvolvimento da cadeia de soja do Brasil.
*Bartolomeu Braz Pereira é presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja – Aprosoja Brasil.
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.