Por José Luiz Tejon Megido*
No Brasil tem gente que realiza. E gente que se vitimiza. Procurei gente que faz, estuda, pesquisa e realiza sobre essa fundamental questão da energia para termos segurança na base do agronegócio.
Mariane Crespolini, diretora da Produção Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), dirige o mais espetacular programa do mundo no Brasil: ABC – agricultura de baixo carbono. E, dentro dele, existem linhas de crédito especiais incluindo o biogás. “Sobre a questão da sustentabilidade, temos ainda que o gás metano é cerca de 21 vezes pior do que o potencial do CO 2 , sendo originado da fermentação entérica dos animais. Portanto, manejo do pasto e preservação são vitais”, afirma. Podemos acrescentar que os biodigestores transformariam tudo isso em lucro para os produtores e o meio ambiente no aproveitamento dos resíduos.
Conversei com uma equipe especializada nos biodigestores, de Patos de
Minas (MG), e o especialista André Holzhacker, da Auma, me revelou os dados de sua experiência nas granjas de suínos do grupo. Lá, os resíduos de 18 mil suínos geram 140 mil KWh/mês, uma economia de R$ 75 mil/mês, além de independência energética e ganhos nas métricas da sustentabilidade.
A pecuarista de leite, Maria Antonieta Guazelli, diretora da Rex, está em fase de construção dos seus biodigestores. Ela afirma que os resíduos dos animais produzem energia e permitem um extraordinário adubo, trazendo ganhos na sua agricultura.
E neste sistema espetacular, em que, segundo a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), temos um potencial equivalente a 35% do consumo da energia elétrica no País, ou 70% do consumo de diesel, usufruímos apenas 2% desse potencial instalado, e até hoje com baixa tecnologia. Fica a pergunta: Por quê?
A tecnologia evoluiu e agora temos engenharia e modernidade na construção dos biodigestores e da mesma forma de geradores de todos os portes, inclusive pequenos, com grande parte dos seus componentes já nacionalizados. Cristian Malevic, engenheiro mecânico formado pela Mauá e diretor da MWM geradores que disponibiliza aparelhos movidos a diesel, biodiesel e biogás, diz que “o biogás é sustentável e de segurança energética, pois, além de gerar energia elétrica 24 horas, sete dias por semana, permite limpar o meio ambiente, produzir fertilizantes e garantir energia de qualidade mesmo em áreas remotas”.
E sim, áreas remotas, estudos, como do Instituto Escolhas, mostram da mesma forma a importância do biogás para a Amazônia e para toda a agricultura familiar e cooperativista.
Portanto, o biogás é bom, barato (o melhor pay back), sustentável, nacional, conta com linhas de financiamento dentro do plano ABC, possui tecnologia de ponta nos biodigestores e geradores. Então, por que apenas 2%?
Não é preciso reinventar a roda, nem deixar de estimular os outros elos da matriz energética brasileira. Mas está na hora de escalar o biogás nos campos do País. Agroconsciente: a síntese da essência com a ciência é a consciência. Quem realiza, não se vitimiza.
*José Luiz Tejon Megido é doutor em Educação, mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie; professor de MBA na Audencia Business School, em Nantes, na França; coordenador do Agribusiness Center da Fecap; membro do Conselho da Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, e sócio-diretor da Biomarketing.
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.